40% dos cursos de especialização médica são oferecidos a distância no Brasil, afirma estudo
Dados analisados pela FMUSP e Associação Médica Brasileira alertam para as consequências do formato de ensino remoto na área da saúde
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Os resultados preliminares do estudo recentemente realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB), revela que cerca de 40% dos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu (PGLS) operam na modalidade de ensino a distância (EaD).
Os dados fazem parte do projeto “Demografia Médica no Brasil 2025”, que busca analisar os cursos de pós-graduação em especialidades médicas no país. Entre os analisados, os cursos EaD são mais curtos em comparação com a média de outras modalidades. A duração média é de 9,7 meses, enquanto os cursos presenciais costumam durar cerca de 15,4 meses.
Esses dados são extremamente preocupantes para a comunidade médica e população em geral, que usufrui do atendimento desses profissionais. Segundo o presidente da AMB, Dr. Cesar Eduardo Fernandes, a má-formação de médicos resulta em um atendimento de baixa qualidade para os pacientes.
“Não se faz especialista em curso de final de semana, muito menos em ensino a distância. Você precisa ter um aprendizado prático sólido, em que se adquira as competências, as habilidades e as atitudes permitidas para que, enfim, possa ser registrado como um especialista”, afirma.
Residência médica x PGLS
A residência médica é o padrão ideal de especialização médica: funcionando em instituições de saúde, como hospitais-escola, os médicos realizam atividades profissionais remuneradas sob a supervisão de um especialista. A residência médica deve ter no mínimo dois anos de duração, podendo chegar a cinco anos, a depender da área, com carga horária média de 60h semanais.
Enquanto as Pós-Graduações Lato Sensu têm a carga horária mínima de de 360h e independem de autorização ou reconhecimento de órgãos do governo. Um curso PGLS não confere ao profissional o título de especialista.
As únicas formas de um médico conseguir esse título é através da conclusão de programas de residência médica, credenciados pela Comissão Nacional de Residência Médica ou por meio das sociedades de especialidades médicas filiadas à AMB
“A residência médica brasileira tem exigências baseadas em fundamentos muito bem consolidados da pedagogia médica internacional. Atualmente, apenas um terço dos candidatos consegue obter o título de especialista”, explica o diretor científico da AMB, Dr. José Eduardo Dolci.
Dolci ainda ressalta a necessidade de manter o padrão na qualidade da formação de especialistas: “Precisamos de uma forte fiscalização sobre as ‘pseudo’ residências, que se intitulam ‘cursos de especialização’ sem o credenciamento nas sociedades especialistas”.
“Também precisamos ampliar a discussão da recertificação periódica do título de especialista a cada cinco anos, fazer um levantamento minucioso de todos os centros formadores e padronizar as avaliações das residências credenciadas pelas sociedades de especialidades médicas”, reforça.