Está com dificuldade para engolir? Disfagia pode levar a complicações graves e até à morte
Mudança na deglutição, associada a doenças comuns em idosos, aumenta riscos de problemas severos. Tema foi debatido em congresso de fonoaudiologia
SÃO PAULO - Conhecida como uma condição que dificulta a deglutição, a disfagia é mais frequente em idosos do que em outras faixas etárias. À medida que envelhecemos, os músculos envolvidos na deglutição podem se tornar fracos e, com isso, vem a dificuldade ou impossibilidade de engolir alimentos e líquidos de forma eficaz.
Esse foi um dos temas de destaque da 32ª edição do Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia, realizado na última semana em São Paulo. Durante o evento, várias atividades e trabalhos abordaram como a disfagia pode ser passar despercebida em seus estágios iniciais.
Essa condição é influenciada tanto pelo envelhecimento natural como por doenças mais comuns entre idosos, como acidente vascular cerebral (AVC), Parkinson, Alzheimer e outros tipos de demência.
Estima-se que até 50% dos pacientes com AVC e cerca de 80% dos idosos com Parkinson enfrentem dificuldades para deglutir. Esses números são um alerta para a necessidade de diagnóstico precoce, tratamento adequado e políticas públicas.
Para os pacientes, a fonoaudiologia desponta como uma aliada essencial na detecção do problema e assistência. A especialidade desempenha um papel essencial na identificação da disfagia e no cuidado dos pacientes.
A atuação do fonoaudiólogo inclui:
- Realização de avaliações do idoso ao comer, além de solicitação de exames direcionados, como a videofluoroscopia, que ajudam a identificar alterações na deglutição;
- Recomendação de exercícios para fortalecimento muscular, mudanças na consistência alimentar e uso de técnicas de compensação que minimizam os riscos e restauram a capacidade de deglutição;
- Orientações para cuidadores e familiares são fundamentais para garantir a segurança e a qualidade de vida dos pacientes.
Disfagia: entenda os sinais de alerta
Tosse frequente durante ou após comer e beber, engasgos, sensação de alimento parado na garganta e dificuldade ou lentidão durante a alimentação são sintomas de disfagia. Sem diagnóstico e acompanhamento, o paciente com o problema pode evoluir com desnutrição, desidratação, pneumonia aspirativa e até morte.
Essa pneumonia é causada devido ao desvio do alimento, líquido ou até mesmo da saliva para as vias respiratórias, até chegar ao pulmão.
Como o envelhecimento vem acompanhado de mudanças na estrutura da deglutição, até mesmo idosos saudáveis podem apresentar sinais de disfagia. Com o passar dos anos, a musculatura responsável pelo ato de engolir enfraquece, e os reflexos se tornam mais lentos. Essas alterações podem dificultar não apenas a ingestão de alimentos, mas também comprometer a qualidade de vida.
"Diante do aumento da expectativa de vida e das taxas de envelhecimento, a disfagia precisa ser reconhecida como prioridade em políticas de saúde pública", disse a fonoaudióloga Carolina Silvério, vice-coordenadora do Departamento de Disfagia da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa). "Investimentos em prevenção, diagnóstico precoce, tratamentos acessíveis e conscientização são passos fundamentais para mitigar os impactos da condição."
A fonoaudióloga acrescenta que uma ação simples no campo da prevenção é o desenvolvimento de cartilhas educativas que estimulam a população ao exercício preventivo e de manutenção da estrutura muscular responsável pela deglutição.
Disfagia: riscos e impactos na saúde
- Desnutrição e desidratação: A dificuldade para engolir compromete a ingestão de alimentos e líquidos, o que leva a quadros de desnutrição e desidratação.
- Pneumonia aspirativa: A aspiração de partículas de alimento ou líquidos para os pulmões pode causar infecções graves, e é uma das principais causas de morte relacionada à disfagia.
- Comprometimento psicológico: O medo de engasgar e as restrições alimentares podem levar ao isolamento social e à depressão. Isso prejudica o bem-estar emocional do idoso.
Orientações para diminuir sintomas da disfagia
- Fazer refeições frequentes e em pequeno volume;
- Evitar distrações e conversas durante as refeições;
- Evitar falar de boca cheia;
- Comer sentado e só deitar 30 minutos após o término da refeição;
- Evitar alimentos que esfarinham, como cuscuz, farinhas e biscoitos;
- Evitar alimentos fibrosos: abacaxi, folhas cruas, carne dura;
- Engrossar sopas com farinhas, milho batido ou tubérculos (batata, inhame, cará, mandioca, baroa, batata-doce).
*A jornalista fez a cobertura do congresso a convite da SBFa.