Vacina contra o câncer: entenda como funciona o imunizante anunciado pela Rússia

Recentemente, o país anunciou o desenvolvimento da vacina. Mas especialistas alertam sobre falta de dados e desafios na produção em larga escala

Publicado em 23/12/2024 às 14:55 | Atualizado em 23/12/2024 às 14:57
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A recente notícia sobre o desenvolvimento de uma vacina contra o câncer baseada em RNA mensageiro (mRNA) pela Rússia gerou grande expectativa.

Anunciada como um avanço inovador no tratamento personalizado da doença, a vacina promete transformar a forma como o câncer é combatido.

No entanto, especialistas alertam que, apesar da empolgação, a cautela é necessária diante da falta de dados robustos e transparência sobre os testes clínicos.

O que é mRNA?

A tecnologia de RNA mensageiro (mRNA) tem se destacado principalmente por seu uso nas vacinas contra a COVID-19.

Basicamente, o mRNA carrega instruções genéticas que "ensinam as células do corpo" a produzir proteínas específicas, estimulando uma resposta imunológica sem a necessidade de introduzir o patógeno original.

"A tecnologia de mRNA já demonstrou seu potencial no combate à covid-19 e agora desponta como uma ferramenta promissora na oncologia. Este avanço pode transformar a forma como tratamos o câncer, permitindo a criação de terapias individualizadas baseadas no perfil genético das células tumorais de cada paciente", comenta o oncologista Carlos Gil Ferreira, diretor médico da Oncoclínicas&Co e presidente do Instituto Oncoclínicas.

Tratamento de câncer personalizado

No entanto, a falta de informações públicas sobre os dados clínicos e a ausência de publicações em fontes científicas reconhecidas geram preocupações sobre a solidez dos resultados até agora divulgados.

Em entrevista ao Jornal do Commercio, Maria Luiza Ludermir, oncologista clínica do Núcleo de Oncologia do Agreste (NOA) de Pernambuco, destacou que "todo avanço no combate ao câncer nos traz esperança, no entanto, precisamos de cautela quando a notícia é divulgada sem apresentar à comunidade científica os dados que embasam a informação".

O Ministério da Saúde da Rússia ainda não divulgou os dados completos dos testes, o que impede uma avaliação mais precisa sobre a eficácia da vacina.

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A vacina contra o câncer pode chegar ao Brasil?

Outro aspecto importante mencionado pela oncologista é a dificuldade que essas vacinas personalizadas enfrentam no que diz respeito à produção em larga escala.

"Quando falamos de vacinas personalizadas, precisamos considerar o custo e o tempo para a sua implementação. Esses são desafios que os russos precisam nos mostrar que conseguiram superar", afirma Maria Luiza.

A oncologista ressalta que, apesar dos avanços na tecnologia, a produção em larga escala de vacinas personalizadas é um desafio científico e logístico.

A diferenças dos tumores entre os pacientes, os elevados custos de produção e a necessidade de infraestrutura avançada  limitam a aplicabilidade imediata dessas vacinas em outros sistemas de saúde.

A adoção dessa tecnologia no Brasil, por exemplo, enfrentaria barreiras logísticas, regulatórias e econômicas.

Vacina "EnteroMix"

Além da vacina baseada em mRNA, o Ministério da Saúde da Rússia também anunciou outra inovação no combate ao câncer: a vacina EnteroMix.

Essa vacina utiliza vírus oncolíticos, organismos capazes de destruir células do tumor e, ao mesmo tempo, ativar a resposta contra o câncer.

No entanto, assim como a vacina de mRNA, a EnteroMix ainda não tem informações suficientes sobre os tipos de câncer que poderão ser tratados.

A combinação de vírus não patogênicos oferece novas possibilidades de tratamento, mas, como observa Maria Luiza, a segurança precisa ser cuidadosamente validada.

"O uso de vírus não patogênicos, como na EnteroMix, exige atenção a potenciais riscos, incluindo a indução de respostas imunológicas adversas ou o desenvolvimento de resistência viral", afirma a oncologista.

Para ela, a segurança desses vírus deve ser validada em estudos clínicos mais robustos.

Os dados necessários para a adoção dessas vacinas em outros países ainda são escassos, e a comunidade científica aguarda com cautela os resultados dos estudos russos. "Precisamos ter acesso aos dados produzidos por esses estudos para entender se a própria Rússia já poderá colocar essas vacinas em prática", afirma Maria Luiza.

Se os resultados nos testes clínicos forem positivos, a vacina russa poderá abrir novas perspectivas no tratamento do câncer. 

"Essas vacinas representam uma grande promessa, mas sua implementação em larga escala e sua eficácia clínica ainda precisam ser comprovadas", finaliza a oncologista.

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