Zero casos de HIV: estudo brasileiro busca gerar evidências científicas do uso de medicamento injetável
Medicação é alternativa à PrEP oral e facilita a adesão ao tratamento. Apesar de ter sido aprovado pela Anvisa em 2023, ainda não está no SUS

Durante a Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI 2025), realizada neste mês em São Francisco, nos Estados Unidos, foram apresentados os dados do Estudo ImPrEP CAB Brasil. O objetivo do trabalho é gerar evidências científicas do uso de cabotegravir injetável na vida real para a prevenção do HIV. No estudos, o medicamento foi superior à PrEP oral (profilaxia pré-exposição que permitem ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o HIV).
Os resultados evidenciaram que o cabotegravir injetável foi a escolha de 83% dos participantes. Além disso, melhorou significativamente a adesão da PrEP, o que mostra o papel do cabotegravir na superação dos desafios de adesão enfrentados por algumas pessoas com a PrEP oral. Nenhum caso de infecção por HIV foi registrado entre os participantes que utilizaram o cabotegravir.
Apesar de ter sido aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em junho de 2023, o medicamento ainda não está disponível no SUS.
No início deste ano de 2025, a GSK/ViiV Brasil e o Ministério da Saúde iniciaram conversas com o objetivo de viabilizar a incorporação do cabotegravir de longa ação na rede pública, mas ainda não há data prevista para a inclusão.
Entenda o estudo
O ImPrEP CAB Brasil, realizado em seis centros públicos brasileiros coordenados pela Fiocruz, avaliou a cobertura de PrEP e a incidência de HIV entre 1.447 participantes que tiveram a opção de escolher entre o cabotegravir injetável de longa ação e a PrEP oral (tenofovir/entricitabina) como método de prevenção do HIV.
O estudo incluiu homens cisgêneros que fazem sexo com homens, pessoas não binárias e transgêneros, com idades entre 18 e 30 anos, e que nunca haviam usado PrEP.
Como grupo de comparação, foram avaliadas 2.411 pessoas que iniciaram a PrEP oral através do Sistema Único de Saúde (SUS) no mesmo período.
Dos 1.447 participantes que puderam escolher entre o cabotegravir de longa ação ou a PrEP oral, 83% (1.200 pessoas) optaram pelo cabotegravir. Entre essas pessoas, não houve casos de infecção por HIV. Já nos grupos de PrEP oral (coortes escolha oral e comparação), houve 10 casos de infecção por HIV.
A adesão durante o acompanhamento foi maior no grupo de cabotegravir injetável de longa ação (95%), seguida pela coorte de escolha PrEP oral (58%) e o grupo de comparação com PrEP oral (48%).
Este estudo, pioneiro sobre a implementação da PrEP injetável, demonstrou que abordagens personalizadas de prevenção ao HIV são essenciais para empoderar as pessoas a escolherem o método de PrEP mais alinhado com valores e estilo de vida, o que aumenta as chances de adesão a longo prazo e garante maior efetividade na prevenção.
"Como líder global em injetáveis de longa duração para prevenção ao HIV, a GSK/ViiV Healthcare está comprometida em apoiar estudos científicos para entender a efetividade desses medicamentos no mundo real. Nossos estudos de implementação reforçam que, em diferentes localidades e populações mais vulneráveis, os injetáveis de longa duração são altamente efetivos para a prevenção do HIV, e uma opção às pílulas diárias", comenta o infectologista Rodrigo Zilli, diretor médico da GSK/ViiV Healthcare.
HIV no Brasil
Segundo dados do Ministério da Saúde, 541.759 casos de pessoas que vivem com HIV foram notificados entre 2007 e junho de 2024 no Brasil.
Somente em 2023, 46.495 novos casos foram registrados, um aumento de 4,5% em relação ao ano anterior, com alta incidência entre jovens de 15 a 24 anos.
Houve uma redução de 32,9% na mortalidade relacionada ao HIV nos últimos dez anos e, em 2023, a média foi de 3,9 óbitos a cada 100 mil habitantes.
Em 2024, o Brasil registrou 104 mil pessoas em uso da PrEP oral (TDF/FTC), um marco dessa estratégia considerada essencial para reduzir novos casos de HIV.
"Esta é uma opção de prevenção eficaz e segura. Porém, ainda enfrenta dificuldades, principalmente, na falta de adesão ou descontinuidade do tratamento. Isso acontece por diversos fatores, como a necessidade da tomada diária dos comprimidos, o enfrentamento ao estigma e preconceito e a falta de acolhimento nos serviços de saúde", afirma Rodrigo Zilli.
"A inclusão da PrEP injetável no SUS seria uma conquista para todos os usuários da rede pública, além de ter o potencial para, de fato, mudar o cenário do HIV no País. Por isso, focamos nossos esforços na expansão do acesso à PrEP a todas as pessoas que buscam prevenção."
HIV/aids: entenda sobre o cabotegravir injetável de longa ação
O cabotegravir de longa ação é um medicamento utilizado para prevenir a infecção sexual do HIV, método conhecido como profilaxia pré-exposição (PrEP), em adultos e adolescentes a partir de 12 anos, com pelo menos 35kg de peso, que consideram estar em risco de infecção.
O método traz a comodidade da aplicação a cada dois meses e pode ser combinado com outras práticas de sexo seguro, como o uso de preservativos.