Mais da metade das vítimas de homicídios em Pernambuco têm entre 13 e 30 anos de idade, ou seja, são adolescentes e jovens. Esse resultado não surpreende, afinal trata-se de uma faixa etária que, sem a devida atenção do poder público, muitas vezes é atraída para a criminalidade e acaba perdendo a vida de forma precoce.
No ano passado, 3.418 homicídios foram registrados pela polícia no Estado. Desse total, 50% das vítimas eram jovens (18 a 30 anos) e mais 5% adolescentes (13 a 17 anos). Além disso, 70% de todos os assassinatos tiveram como motivação as atividades criminais - basicamente o tráfico de drogas.
A Secretaria de Defesa Social (SDS) está realizando um mapeamento dos municípios onde mais jovens são assassinados e identificando as motivações. A promessa é de criar uma rede de proteção, com ações integradas entre as secretarias estaduais, para tentar tirar essa faixa etária da vulnerabilidade e, assim, reduzir os homicídios.
"Hoje a gente tem uma falta de perspectiva para os jovens. É um dado preocupante que foi trazido pela nossa gerência de estatísticas. Por isso, solicitei um estudo mais ampliado. Nosso objetivo é que os jovens tenham mais perspectiva de vida", afirmou a secretária de Defesa Social, Carla Patrícia Cunha.
O anúncio do estudo foi feito, na terça-feira (31), durante o seminário "Segurança Pública, Democracia e Cidadania: novos desafios, velhos problemas", promovido pelo Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), em parceria com o Instituto Fogo Cruzado.
"Há municípios em que 70% e até 80% do total de mortes são de jovens. Então a gente está fazendo esse mapeamento para verificar os municípios que têm essa característica para sinalizar que ali precisa de uma política de prevenção mais intensa com foco nos jovens, que, nesse contexto, a gente enxerga como vulneráveis", disse o tenente-coronel Jonas Moreno, titular da Gerência de Análise Criminal e Estatística da SDS.
"Vamos ver quais os mecanismos que as outras secretarias (estaduais) dispõem, a partir desse e de outros diagnósticos que serão feitos, para saber qual a melhor política a ser implementada em cada lugar", completou.
Moreno, no Grande Recife, é um exemplo de município que acima da média na taxa de assassinatos de adolescentes e jovens. A porcentagem foi de 63% no ano passado, segundo dados da SDS. E essa faixa etária continua sendo vítima da violência.
Na noite dessa quarta-feira (02), um rapaz identificado como Geovani Andrews Farias da Silva, de 27 anos, caminhava por uma rua do bairro Liberdade, em Moreno, quando dois homens em uma moto começaram a segui-lo. Um dos criminosos desceu do veículo e correu até o jovem, que tentou se esconder em uma casa, mas foi alcançado e atingido por tiros. Os assassinos fugiram do local.
O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa está investigando a motivação e autorias do crime.
Em entrevista à Coluna Segurança, a socióloga Edna Jatobá, coordenadora executiva do Gajop, pontuou que a concentração de homicídios na cama mais jovem da população é uma realidade em todo o País e que esses dados são amplamente conhecidos.
"Outras iniciativas governamentais já foram testadas para tentar solucionar o problema. Não podemos e nem temos tempo para começar tudo do zero. Há muito a ser feito e de forma urgente, porque os novos jovens estão morrendo todos os dias. É preciso conhecer o contexto e atuar na prevenção especialmente daqueles mais vulneráveis e dos egressos do sistema socioeducativo", afirmou Edna Jatobá.
"É preciso fortalecer uma política transversal da segurança pública, que envolve oportunidade de trabalho, capacitação, mas que também contemple e compreenda a importância do lazer, da educação, da moradia, da alimentação adequada. Preparar também o programa de crianças e adolescentes ameaçados de morte para realizar uma busca ativa nas comunidades em parceria com os conselhos tutelares", continuou a socióloga.
"Também é preciso requalificar espaços comunitários que já existem para esse trabalho de prevenção à violência. Os jovens precisam de incentivos materiais e simbólicos para se afastarem da violência. E isso tem que ser visto com muita seriedade, com profissionais bem formados e com ações contínuas e dialogadas com a sociedade", completou.