Uma operação deflagrada pela Polícia Civil de Pernambuco, nesta quinta-feira (14), cumpriu mandados de prisão contra cinco policiais militares envolvidos numa sequência de assassinatos, ocorrida em setembro deste ano, no bairro de Tabatinga, em Camaragibe, no Grande Recife.
A investigação apontou que as execuções de pessoas de uma mesma família foram praticadas por vingança após as mortes de dois militares (relembre mais abaixo).
Três cabos e dois soldados, alvos da operação, são investigados pelos crimes de associação criminosa e homicídio. Os nomes e idades não foram divulgados.
Também foram cumpridos 20 mandados de busca e apreensão. Armas de fogo e celulares estão entre os materiais recolhidos para perícia.
A operação, denominada Sobejo, foi liderada pelo Grupo de Operações Especiais (GOE) e contou com apoio da Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS). No total, 130 policiais civis participaram do cumprimento dos mandados.
A operação relacionada à "Chacina de Camaragibe", como o caso ficou conhecido nacionalmente, foi autorizada pela 1ª Vara Criminal da Comarca de Camaragibe.
Durante a operação, uma cabo da PM foi autuada em flagrante porque foram encontradas munições de revólver calibre 38 na casa dela. Ela pagou fiança de um salário mínimo e foi liberada.
A Polícia Civil informou que, por enquanto, não iria passar outras informações sobre a operação.
O QUE DIZ A DEFESA DOS POLICIAIS?
O advogado Cézar Souza, que representa a Associação de Cabos e Soldados de Pernambuco, esteve na sede do GOE, no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife, na manhã desta quinta-feira. Na saída, ele falou com a imprensa.
"Entendemos ser uma prisão desnecessária, porque todos que estão aqui presos se apresentaram espontaneamente, prestaram seus esclarecimentos, contribuíram para as investigações. Então, a associação entende que essas prisões são desarrazoadas. Vamos aguardar o acesso aos autos para que possamos trabalhar em cima das razões da decretação dessas prisões temporárias", declarou.
Sobre as buscas e apreensões de celulares e outros aparelhos eletrônicos, ele afirmou que "é cabível, é necessário para elucidar o caso".
"Faz parte da fase de investigação. É preciso a perícia desses aparelhos usados pelos policiais para esclarecer tudo o que ocorreu", afirmou.
OUTRA OPERAÇÃO
Em outubro, a pedido do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), uma outra operação foi deflagrada para cumprir mandados de busca e apreensão contra outros policiais militares envolvidos no episódio. Na ocasião, celulares de oficiais da PM foram recolhidos e passaram por perícias.
ENTENDA A CHACINA EM CAMARAGIBE
A informação inicial repassada pela polícia, na época dos fatos, foi a de que o soldado Eduardo Roque Barbosa de Santana, de 33 anos, e o cabo Rodolfo José da Silva, 38, foram até Tabatinga verificar uma denúncia de que um homem estaria em cima de uma laje realizando disparos de arma de fogo.
Quando os policiais chegaram ao local, houve troca de tiros com o vigilante Alex da Silva Barbosa, que teria feito Ana Letícia Carias da Silva, de 19 anos, de escudo humano.
Os dois PMs morreram, e Alex conseguiu fugir. Além de Ana (que morreu semanas depois no IMIP), o primo dela, de 14 anos, foi baleado, mas sobreviveu. Em depoimento, ele contou que foi agredido pelas costas e atingido com um tiro na nuca disparado pelos policiais.
Após a morte dos militares, começou a sequência de assassinatos de parentes de Alex, na madrugada do dia 15 de setembro.
Três irmãos de Alex identificados como Ágata Ayanne da Silva, 30, Amerson Juliano da Silva e Apuynã Lucas da Silva, ambos de 25, foram baleados por volta das 2h.
Ágata transmitiu ao vivo, por meio do Instagram, o crime. Ela e Amerson morreram na hora. Apuynã faleceu após ser socorrido e encaminhado para o Hospital da Restauração, no Recife.
Por volta das 9h do mesmo dia, os corpos da mãe de Alex, Maria José Pereira da Silva, e da esposa dele, Maria Nathalia Campelo do Nascimento, 27, foram achados num canavial na cidade de Paudalho, Mata Norte do Estado.
Duas horas depois, Alex foi morto em Tabatinga. A PM alegou que houve uma abordagem e que ele teria reagido, resultando na troca de tiros.
ALEX TINHA REGISTRO DA ARMA DE FOGO
Investigações apontaram que Alex não tinha antecedentes criminais. Ele tinha direito ao uso de arma de fogo porque estava registrado como vigilante no Sistema Nacional de Armas e tinha Certificado de Registro de Arma de Fogo (Craf), indicando ser proprietário de uma pistola.