O tenente-coronel Fábio Roberto Rufino da Silva, comandante do 20º Batalhão da Polícia Militar de Pernambuco, foi afastado da função por determinação da Justiça. Ele é um dos PMs investigados nos procedimentos que apuram a sequência de assassinatos ocorrida após as mortes de dois militares, em setembro deste ano, no bairro de Tabatinga, em Camaragibe, no Grande Recife.
O afastamento cautelar ocorreu, na semana passada, a pedido do Ministério Público de Pernambuco (MPPE). Outro seis PMs também foram afastados dos cargos que ocupavam, mas os nomes não foram divulgados.
As investigações apontam que a chacina de membros de uma mesma família ocorreu por vingança após o soldado Eduardo Roque Barbosa de Santana, de 33 anos, e o cabo Rodolfo José da Silva, 38, serem mortos a tiros durante uma abordagem, na noite de 14 de setembro.
Por meio de nota, o MPPE afirmou que a aplicação de medidas cautelares (os afastamentos) são necessárias devido às "condutas que (os PMs) tiveram durante a perpetração dos crimes e pela posição funcional que ocupam, que podem influenciar na continuidade da investigação".
Os afastamentos ocorreram no mesmo dia em que a Polícia Civil deflagrou operação para prender cinco PMs (três cabos e dois soldados) e cumprir 20 mandados de busca e apreensão. Tudo relacionado ao caso.
A operação, denominada Sobejo, foi liderada pelo GOE e contou com apoio da Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS). A Polícia Civil informou que, por enquanto, não iria passar outras informações sobre a operação.
Questionado pelo JC, o comandante geral da PM, coronel Tibério César dos Santos, afirmou que ainda iria definir o substituto do tenente-coronel Fábio Roberto Rufino da Silva no comando do 20º Batalhão.
O JC não conseguiu contato com a defesa do tenente-coronel.
O QUE DIZ A DEFESA DOS POLICIAIS?
O advogado Cézar Souza, que representa a Associação de Cabos e Soldados de Pernambuco, esteve na sede do GOE, no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife, na manhã da quinta-feira, quando as prisões foram efetuadas.
"Entendemos ser uma prisão desnecessária, porque todos que estão aqui presos se apresentaram espontaneamente, prestaram seus esclarecimentos, contribuíram para as investigações. Então, a associação entende que essas prisões são desarrazoadas. Vamos aguardar o acesso aos autos para que possamos trabalhar em cima das razões da decretação dessas prisões temporárias", declarou.
ENTENDA A CHACINA EM CAMARAGIBE
A informação inicial repassada pela polícia, na época dos fatos, foi a de que o soldado Eduardo e o cabo Rodolfo foram até Tabatinga verificar uma denúncia de que um homem estaria em cima de uma laje realizando disparos de arma de fogo.
Quando os policiais chegaram ao local, houve troca de tiros com o vigilante Alex da Silva Barbosa, que teria feito Ana Letícia Carias da Silva, de 19 anos, de escudo humano.
Os dois PMs morreram, e Alex conseguiu fugir. Além de Ana (que morreu semanas depois no IMIP), o primo dela, de 14 anos, foi baleado, mas sobreviveu. Em depoimento, ele contou que foi agredido pelas costas e atingido com um tiro na nuca disparado pelos policiais.
Após a morte dos militares, começou a sequência de assassinatos de parentes de Alex, na madrugada do dia 15 de setembro.
Três irmãos de Alex identificados como Ágata Ayanne da Silva, 30, Amerson Juliano da Silva e Apuynã Lucas da Silva, ambos de 25, foram baleados por volta das 2h.
Ágata transmitiu ao vivo, por meio do Instagram, o crime. Ela e Amerson morreram na hora. Apuynã faleceu após ser socorrido e encaminhado para o Hospital da Restauração, no Recife.
Por volta das 9h do mesmo dia, os corpos da mãe de Alex, Maria José Pereira da Silva, e da esposa dele, Maria Nathalia Campelo do Nascimento, 27, foram achados num canavial na cidade de Paudalho, Mata Norte do Estado.
Duas horas depois, Alex foi morto em Tabatinga. A PM alegou que houve uma abordagem e que ele teria reagido, resultando na troca de tiros.
ALEX TINHA REGISTRO DA ARMA DE FOGO
Investigações apontaram que Alex não tinha antecedentes criminais. Ele tinha direito ao uso de arma de fogo porque estava registrado como vigilante no Sistema Nacional de Armas e tinha Certificado de Registro de Arma de Fogo (Craf), indicando ser proprietário de uma pistola.