Justiça manda prender o cantor Gusttavo Lima, investigado na mesma operação de Deolane

Decisão da juíza Andréa Calado, publicada nesta segunda-feira (23), atendeu a um pedido da Polícia Civil de Pernambuco, responsável pelo inquérito

Publicado em 23/09/2024 às 15:42 | Atualizado em 23/09/2024 às 18:57

O cantor sertanejo Gusttavo Lima teve a prisão preventiva decretada pela Justiça de Pernambuco na tarde desta segunda-feira (23). A decisão da juíza Andréa Calado da Cruz, da da 12ª Vara Criminal da Capital, tem como base novos elementos da investigação da Polícia Civil referente à Operação Integration, a mesma que prendeu Deolane Bezerra e que apura crimes de lavagem de dinheiro e prática ilegal de jogos de azar.

Além de movimentações financeiras milionárias envolvendo uma empresa do cantor com outras investigadas, a decisão judicial pontuou que Gusttavo Lima deu "guarida a foragidos", ou seja, ajudou na fuga.

O sertanejo viajou para a Grécia para comemorar o aniversário dias antes da operação. Com ele, estava um casal de investigados que segue foragido. Tratam-se de empresários José André da Rocha Neto e Aislla Sabrina Henriques Truta Rocha, donos da empresa de apostas Vai de Bet. Recentemente, Lima virou sócio do casal, adquirindo 25% da companhia. 

A magistrada também manteve a prisão preventiva da influenciadora digital e dos outros indiciados na operação, apesar do parecer do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) opinando pela conversão em medidas cautelares. 

A empresa Balada Eventos e Produções LTDA, que pertence a Gusttavo Lima, surgiu no curso da investigação da Polícia Civil porque vendeu um jato Cessna Aircraft à empresa Vai de Bet - uma das investigadas.

O mesmo avião havia sido adquirido pelo Darwin Henrique da Silva Filho, CEO do Esportes da Sorte, principal alvo da investigação de lavagem de dinheiro e prática ilegal de jogos de azar. 

No dia da operação, em 4 de setembro, a aeronave foi apreendida e R$ 20 milhões da empresa de Lima foram bloqueados pela Justiça. 

NOVAS PROVAS NA INVESTIGAÇÃO

A coluna Segurança, deste JC, também teve acesso à íntegra da decisão que determinou a prisão preventiva de Gusttavo Lima.  

Nela, a juíza citou novas informações repassadas pela Polícia Civil na semana passada, quando concluiu o inquérito da Operação Integration. 

A investigação apontou que a empresa de Gusttavo Lima "é responsável pela conduta de ocultar valores provenientes dos jogos ilegais da HSF Entretenimento Promoção de Eventos [Esportes da Sorte]", ao receber dela, no dia 25 de maio de 2023, a quantia de R$4.947.400 e, no dia 3 de abril do mesmo ano, mais R$ 4.819.200. 

Para a polícia, a intenção foi "ocultar/dissimular a disposição e propriedade do Aeronave Cessna Aircraft, modelo 560XLS, matrícula PR-TEN, ao negociá-la com a empresa J. M. J. Participações LTDA, de propriedade do investigado José André da Rocha".

PCPE/Divulgação
Aeronove que pertenceu à empresa do cantor Gusttavo Lima foi apreendida em operação - PCPE/Divulgação

A investigação aponta que a empresa do cantor recebeu quantias milionárias ao ano de 2024, que totalizaram mais de R$ 22 milhões. 

Além disso, a companhia de Gusttavo Lima teria ocultado valores provenientes dos jogos ilegais das empresas Sports Entretenimento Promoção de Eventos e Pix 365 Soluções tecnológicas (Vai de Bet), "ao guardar em cofre da empresa R$ 112.309, além de 5.720 euros, 5.925 libras e pouco mais de 1 mil dólares. 

A polícia também identificou que, entre 1º de janeiro de 2023 e 31 de dezembro de 2023, as empresas investigadas Zelu Brasil Facilitadora de Pagamento e Pix 365 Soluções Tecnológicas (Vai de Bet) remeteram os valores de R$ 5,75 milhões em 14 PIXs e R$ 200 mil em um PIX, respectivamente, para a empresa GSA Empreendimentos e Participações LTDA, que pertence a Gusttavo Lima. 

Há a informação ainda que a GSA remeteu para o cantor a quantia de R$ 1,35 milhão.

Andréia Calado determinou o bloqueio de R$ 2 milhões do sertanejo. 

RELAÇÃO ENTRE GUSTTAVO LIMA E OS FORAGIDOS DA OPERAÇÃO

Na decisão judicial, a magistrada comentou a relação entre Gusttavo Lima e alguns foragidos da operação. 

"Cumpre destacar que a relação entre Nivaldo Batista Lima (Gusttavo Lima) e os foragidos Rayssa Ferreira Santana Rocha, Thiago Lima Rocha, José André da Rocha Neto, Aislla Sabrina Truta Henriques Rocha deve ser encarada com extrema cautela, uma vez que, em tese, apresenta características espúrias e duvidosas", disse.

No dia 1º de julho de 2024, o cantor  adquiriu uma participação de 25% na empresa Vai de Bet, "o que acentua ainda mais a natureza questionável de suas interações financeiras. Essa associação levanta sérias dúvidas sobre a integridade das transações e a legitimidade dos vínculos estabelecidos", escreveu a juíza. 

E ressaltou que o cantor contribuiu com a fuga de investigados na operação.

"É imperioso destacar que Nivaldo Batista Lima, ao dar guarida a foragidos, demonstra uma alarmante falta de consideração pela Justiça. Sua intensa relação financeira com esses indivíduos, que inclui movimentações suspeitas, levanta sérias questões sobre sua própria participação em atividades criminosas. A conexão de sua empresa com a rede de lavagem de dinheiro sugere um comprometimento que não pode ser ignorado. "

RETORNO DO CANTOR AO BRASIL APÓS A OPERAÇÃO

A juíza pontou que Gusttavo tem uma relação muito próxima com os foragidos José André da Rocha Neto e Aislla Sabrina Henriques Truta Rocha.E que, no retorno ao Brasil, três dias após a operação, o avião do cantor fez escalas em Kavala, Atenas e Ilhas Canárias, pousando na manhã do dia 8 de setembro no Aeroporto Internacional de Santa Genoveva, em Goiânia.

"Curiosamente, José André e Aislla não estavam a bordo, o que indica de maneira contundente que optaram por permanecer na Europa para evitar a Justiça", disse a magistrada. 

"Na ida, a aeronave transportou Nivaldo Batista Lima e o casal de investigados, seguindo o trajeto Goiânia – Atenas – Kavala. No retorno, o percurso foi Kavala – Atenas – Ilhas Canárias – Goiânia, o que sugere que José André e Aislla possam ter desembarcado na Grécia ou nas Ilhas Canárias, na Espanha. Esses indícios reforçam a gravidade da situação e a necessidade de uma investigação minuciosa, evidenciando que a conivência de Nivaldo Batista Lima com foragidos não apenas compromete a integridade do sistema judicial, mas também perpetua a impunidade em um contexto de grave criminalidade", afirmou.  

DECRETAÇÃO DA PRISÃO DE OUTRO INVESTIGADO

A decisão de Andréa Calado da Cruz também determinou a prisão preventiva do pernambucano Bóris Maciel Padilha, empresário que vive no Sul do País. 

A magistrada apontou que ele é responsável por "ocultar valores provenientes dos jogos ilegais" da empresa Esportes da Sorte e do dono dela, Darwin Henrique da Silva Filho. 

A investigação policial indicou que ele seria proprietário de carros de luxo e recebeu dois empréstimos de pouco mais de R$ 10 milhões, na condição de mutuário, respectivamente em 19 de outubro e 5 de dezembro de 2023.

"Constatamos que este possui veículos de luxo matriculado em seu nome, cujos valores ultrapassam R$ 40.000.000,00, com destaque para três Ferraris, dois Rolls Royce, dois Bentley, o que se denota que tem alto poder econômico, não necessitando deste empréstimo", apontou. 

A Justiça determinou o bloqueio de R$ 21 milhões e a apreensão de três veículos de luxo do empresário. 

DEFESA DE GUSTTAVO LIMA

Por meio de nota, a defesa de Gusttavo Lima se pronunciou sobre a decisão judicial. No texto, afirmou que "as medidas cabíveis já estão sendo adotadas".

"Ressaltamos que é uma decisão totalmente contrária aos fatos já esclarecidos pela defesa do cantor e que não serão medidos esforços para combater juridicamente uma decisão injusta e sem fundamentos legais", disse. 

"A inocência do artista será devidamente demonstrada, pois acreditamos na justiça brasileira. O cantor Gusttavo Lima jamais seria conivente com qualquer fato contrário ao ordenamento de nosso país e não há qualquer envolvimento dele ou de suas empresas com o objeto da operação deflagrada pela Polícia Pernambucana", pontuou. 

"Por fim, esclarecemos que os autos tramitam em segredo de justiça e que qualquer violação ao referido instituto será objeto e reparação e responsabilização aos infratores", completou. 

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