Justiça mantém prisão de Deolane e de outros indiciados da Operação Integration

Juíza Andréa Calado da Cruz não acatou ao parecer do Ministério Público, que era favorável à aplicação de outras medidas cautelares aos investigados

Publicado em 23/09/2024 às 15:31 | Atualizado em 23/09/2024 às 18:00

Em decisão anunciada na tarde desta segunda-feira (23), a juíza Andréa Calado da Cruz, da 12º Vara Criminal do Recife, manteve a prisão da advogada e influenciadora Deolane Bezerra e dos outros indiciados na Operação Integration, que apura a suspeita de lavagem de dinheiro e prática ilegal de jogos de azar. 

A magistrada também determinou a prisão preventiva do cantor Gusttavo Lima e do empresário Boris Maciel Padilha, indiciados na semana passada pela Polícia Civil por suspeita de lavagem de dinheiro e de integrarem uma organização criminosa. 

Além de movimentações financeiras milionárias envolvendo uma empresa do cantor com outras investigadas, a decisão judicial pontuou que ele deu "guarida a foragidos" e que viajou para a Grécia com um casal foragido da operação. 

A decisão da magistrada foi publicada três dias após o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) devolver à Polícia Civil o inquérito e solicitar novas diligências.

Além disso, o grupo de promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) recomendou que as prisões preventivas fossem por outras medidas cautelares para evitar um "constrangimento ilegal" por causa do tempo que deve durar para que as novas informações solicitadas sejam colhidas pela Polícia Civil. 

A magistrada discordou do argumento do MPPE. 

"Essa afirmação carece de evidências concretas e embasamento jurídico, limitando-se a uma retórica infundada que não resiste a um exame mais rigoroso. Essa tentativa de argumentar em favor de um suposto constrangimento ilegal não apenas desconsidera os princípios fundamentais do devido processo legal, mas também ignora a complexidade das diligências necessárias ao oferecimento da denúncia. Inclusive, o Ministério Público de Pernambuco sequer juntou aos autos quais foram as diligências requisitadas à autoridade policial", disse, na decisão. 

"Inclusive é de se frisar que a má vontade dos foragidos com forte poder econômico é um fenômeno alarmante que desafia a efetividade da aplicação da lei penal. Esses indivíduos, ao se esquivarem da Justiça, demonstram não apenas desinteresse em responder por seus atos, mas também uma tentativa deliberada de manipular o sistema em seu favor. Com recursos financeiros substanciais, eles conseguem sustentar uma vida de fuga, dificultando a ação das autoridades e a consecução da justiça", pontuou a juíza.

"A capacidade de se esconder e de obstruir investigações torna-se uma arma em mãos de quem se recusa a enfrentar as consequências de suas ações. Além disso, o poder econômico pode ser utilizado para influenciar o processo judicial, intimidar testemunhas ou financiar estratégias de evasão, minando ainda mais a integridade do sistema. Diante desse contexto, a manutenção do decreto de prisão se torna imprescindível", afirmou. 

Deolane Bezerra está na Colônia Penal Feminina de Buíque, no Agreste de Pernambuco. A mãe dela, Solange Bezerra, está na unidade prisional localizada no Recife. Outros investigados seguem no Centro de Observação Criminológica e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima.

Alguns dos indiciados são considerados foragidos desde o dia em que a operação foi deflagrada, em 4 de setembro. 

A polícia suspeita que Deolane tenha usado a mãe e um filho de 17 anos para a lavagem de capitais. 

A coluna Segurança teve acesso à íntegra do documento do MPPE, de 11 páginas, com as observações feitas em relação ao inquérito policial que investigou a organização criminosa suspeita de movimentar cerca de R$ 3 bilhões, de janeiro de 2019 a maio de 2023. 

No documento, entregue na última sexta-feira (20), o grupo de promotores citou os nomes de 22 pessoas indiciadas pela polícia - incluindo os 19 alvos de prisão preventiva na deflagração da operação. O principal é Darwin Henrique da Silva Filho, dono da empresa Esportes da Sorte, que se entregou no dia seguinte à operação.

Familiares e outras pessoas ligadas a ele aparecem como indiciados porque a investigação encontrou movimentações financeiras suspeitas - algumas delas são quantias milionárias e que não condizem com os rendimentos dos investigados.  

Confira os nomes dos indiciados:

Darwin Henrique da Silva Filho, CEO do Esportes da Sorte;

Darwin Henrique da Silva, pai de Darwin e fundador da Caminho da Sorte;

Eduardo Pedrosa Campos, sócio de uma seguradora;

Flávio Cristiano Bezerra Fabrício, proprietário de imóveis e de carros de luxo;

Marcela Tavares Henrique da Silva Campos, irmã de Darwin Filho;

Maria Aparecida Tavares de Melo, mãe de Darwin Filho;

Maria Bernadete Pedrosa Campos, mãe de Eduardo;

Maria Carmen Penna Pedrosa, tia de Eduardo;

Maria Eduarda Quinto Filizola, esposa de Darwin Filho;

Rayssa Ferreira Santana Rocha, sócia da Zelu Brasil Facilitadora de Pagamentos Ltda;

Ruy Conolly Peixoto, diretor da Esportes da Sorte;

Thiago Lima Rocha, sócio da Zelu Brasil Facilitadora de Pagamentos Ltda;

Edson Antônio Lenzi Filho, sócio da empresa Pay Brokers;

Thiago Heitor Presser, também sócio da Pay Brokers;

José André da Rocha Neto, sócio da Pix365 Soluções Tecnológicas (Vai de Bet);

Aislla Sabrina Truta Henriques Rocha, esposa de André;

Giorgia Duarte Emerenciano, madrasta de Darwin Filho;

Dayse Henrique da Silva, tia de Darwin Filho;

Deolane Bezerra Santos, advogada e influenciadora digital;

Solange Alves Bezerra Santos, mãe de Deolane;

Boris Maciel Padilha, empresário;

Nivaldo Batista Lima (Gusttavo Lima).

 

Processo encaminhado para a Justiça da Paraíba

O MPPE também recomendou um desmembramento dos processos, transferindo as acusações em relação à empresa Vai de Bet (sediada na Paraíba) e à empresa de Gusttavo Lima para a Justiça daquele Estado. 

No documento, os promotores citam que a Vai de Bet só entrou na investigação de lavagem de capitais por causa das transferências bancárias feitas pela Zelu Brasil Facilitadora de Pagamentos Ltda na compra da aeronave que pertencia à Balada Eventos e Produções LTDA (de Gusttavo Lima). 

"Ocorre que, sendo PIX365 Soluções Tecnológicas (Vai de Bet) sediada na Paraíba, eventuais ilicitudes decorrentes da relação entre esta e a Zelu Brasil Facilitadora de Pagamentos LTDA hão de ser apuradas no referido Estado."

"O mesmo se diga em relação a eventuais ilicitudes havidas nas negociações entre a Balada Eventos e Produções LTDA, por intermédio de seu sócio Nivaldo Batista Lima e a PIX365 Soluções Tecnológicas, através de seus sócios Thiago Lima Rocha e Rayssa Ferreira Santana Rocha."

Uma cópia dos autos foi enviada para análise do Juízo Criminal da Comarca de Campina Grande (PB). 

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