Chacina em Camaragibe: Justiça nega liberdade para policiais militares
Juíza argumentou que familiares de vítimas assassinadas têm medo de retaliações. Pontuou também que réus tentaram apagar provas de crime
A Justiça negou o pedido de liberdade para policiais militares réus por participação na chacina ocorrida em Camaragibe, no Grande Recife, em setembro de 2023. A decisão da juíza Marília Falcone Gomes foi publicada na quinta-feira (19), véspera do início do recesso forense do Judiciário.
As defesas dos réus Fábio Júnior de Oliveira Borba, Dorival Alves Cabral e Paulo Henrique Ferreira Dias alegaram que não havia mais fundamentos para as prisões cautelares já que as testemunhas de acusação foram ouvidas, no último dia 6, em audiência de instrução e julgamento.
Além disso, os advogados argumentaram que os policiais "detêm bons antecedentes e endereço fixo".
Em parecer à Justiça, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) foi contrário à liberdade provisória dos réus. Um dos argumentos foi de possível risco às testemunhas da chacina.
Os três militares fazem parte da lista de 12 réus que respondem por triplo homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e sem chance de defesa das vítimas). A acusação é referente aos assassinatos de três irmãos do vigilante Alex da Silva Barbosa, 33, apontado como autor das mortes de dois militares durante uma troca de tiros no bairro de Tabatinga.
Ao todo, cinco militares estão presos desde desde dezembro de 2023. Outros sete foram afastados das funções públicas - incluindo Fábio Roberto Rufino da Silva, na época comanda nte do 20º Batalhão da Polícia Militar.
JUÍZA MANTÉM PRISÕES
Na decisão pela manutenção das prisões preventivas dos réus, a magistrada destacou que "os denunciados apagaram um grande volume de mensagens de WhatsApp enviadas e recebidas durante a noite do dia 14 e a madrugada do dia 15 de setembro de 2023, com o claro intuito de eliminar provas que os incriminavam".
"Tal conduta demonstra a disposição deliberada de dificultar a apuração dos fatos, o que compromete a lisura da instrução processual e reforça a necessidade da medida cautelar extrema", citou, na decisão.
A juíza pontuou ainda que "conforme os relatos das testemunhas em audiência, resta devidamente demonstrado o temor dos familiares das vítimas, que só retornaram há pouco a este Estado, ficando esse longo período distante, com o intuito de se resguardar de possível retaliação".
ENTENDA A CHACINA DE CAMARAGIBE
A chacina de Camaragibe, como o crime ficou conhecido nacionalmente, ocorreu após as mortes do soldado Eduardo Roque Barbosa de Santana, de 33 anos, e do cabo Rodolfo José da Silva, 38, no bairro de Tabatinga, em 14 de setembro do ano passado.
Os PMs foram ao local após receberem a denúncia de que Alex da Silva Barbosa estaria fazendo disparos de arma de fogo. Quando eles chegaram, houve correria e troca de tiros. A investigação apontou que Alex matou os dois militares e ainda atingiu uma vizinha, Ana Letícia Carias, que estava grávida. Ela morreu semanas depois, mas a bebê sobreviveu.
A investigação indicou que, logo após as mortes dos militares, colegas de farda deram início a uma operação de vingança contra Alex. Horas depois, os três irmãos dele, Ágata Ayanne da Silva, 30, Amerson Juliano da Silva e Apuynã Lucas da Silva, ambos de 25, foram assassinados. O crime chegou a ser transmitido ao vivo por uma live feita por Ágata.
Os corpos da mãe, Maria José Pereira da Silva, e da esposa dele, Maria Nathalia Campelo do Nascimento, 27, foram encontrados no dia seguinte em Paudalho, município vizinho. Alex, em nova troca de tiros com PMs, também morreu.
Diálogos entre os PMs obtidos por meio da análise dos celulares deles mostram que eles comemoraram as mortes de familiares de Alex. "Tô feliz, tem que ser assim", disse uma das mensagens.
A investigação referente aos assassinatos da mãe e esposa do vigilante ainda está em andamento, sem previsão de conclusão.
Sobre a morte de Alex, a investigação foi arquivada, porque a conclusão foi de legítima defesa.