INVESTIGAÇÃO | Notícia

Assassino de médico é um dos alvos de operação no Presídio de Igarassu

Polícia Federal cumpre mandados de prisão contra policiais penais e detentos acusados de integrar grupo que atuava na unidade. Ex-diretor foi preso

Por Raphael Guerra Publicado em 25/02/2025 às 10:25 | Atualizado em 25/02/2025 às 12:08

Entre os alvos da operação da Polícia Federal contra uma organização criminosa que atua no tráfico de drogas e em outros crimes no Presídio de Igarassu, no Grande Recife, está um homem condenado pelo assassinato do médico cardiologista Artur Eugênio de Azevedo, de 35 anos. O crime ocorreu em Jaboatão dos Guararapes, em 2014.

Lyferson Barbosa da Silva foi condenado a uma pena de 26 anos e quatro meses de prisão, em 2016. Ele foi apontado pela investigação como um dos executores do homicídio do médico. A ordem, segundo o Ministério Público, foi dada pelo cirurgião Cláudio Amaro Gomes, que trabalhava com Artur Eugênio. 

No ano passado, Lyferson foi transferido para a Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, por decisão da Vara Única da Comarca de Rio Formoso. A Justiça alegou a necessidade do regime diferenciado porque, segundo o Ministério Público, o criminoso continuava dando ordens à organização criminosa liderada por ele, por meio de celulares.

Um diálogo descoberto em investigação apontou que Lyferson teria ordenado a um comparsa que realizassem ataques a repartições públicas, como o Detran, escolas e até hospital, além de "incendiar veículos e assassinar pessoas inocentes". 

Na operação deflagrada nesta terça-feira (25), estão sendo cumpridos nove mandados de prisão preventiva, 12 de busca e apreensão, dois afastamentos de função e o sequestro de bens. As medidas ocorrem no Recife, Paulista, Goiana, Carpina, Abreu e Lima, Itapissuma (Pernambuco) e em Campo Grande.

OPERAÇÃO NO PRESÍDIO DE IGARASSU

A Operação La Catedral, como está sendo denominada, é resultado de uma investigação iniciada após a identificação de um detento que comandava crimes na unidade, contando com o apoio de servidores do sistema prisional.

"Durante as apurações, foram constatados atos de corrupção passiva praticados por policiais penais, além de acessos indevidos a sistemas internos para favorecer detentos", informou a Polícia Federal, em nota oficial.

As prisões foram determinadas pelo juiz José Romero Maciel de Aquino, do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). Um dos alvos é Charles Belarmino de Queiroz, que atuou até o final do ano passado como diretor do Presídio de Igarassu e que foi exonerado após denúncias de irregularidades na unidade.

CRIMES ATRIBUÍDOS AOS SUSPEITOS

tráfico e associação para o tráfico de drogas;

lavagem de dinheiro;

corrupção;

prevaricação;

promoção ou facilitação de ingresso de aparelho telefônico em presídio;

participação em organização criminosa.

Em nota, a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização de Pernambuco (SEAP) afirmou que "não compactua com quaisquer atos ilícitos dentro do sistema prisional de Pernambuco, bem como desvios de conduta por parte de seus servidores".

A pasta disse ainda que tem o compromisso de combater a criminalidade nos estabelecimentos penais. E destacou que, na gestão atual, foram implementadas medidas estratégicas e técnicas como "mudanças nas gerências prisionais, criação da ouvidoria penal e fortalecimento da Comissão de Sindicância".

PRESOS DENUNCIARAM CORRUPÇÃO DURANTE INSPEÇÃO DO TJPE

O Presídio de Igarassu é, atualmente, o mais precário e superlotado de Pernambuco - posto que antes pertencia ao Complexo Prisional do Curado. A unidade conta com mais de 5 mil presos, mas só tem capacidade para aproximadamente 1,2 mil.

Em agosto do ano passado, durante inspeção do Conselho da Comunidade da 1ª Vara Regional de Execução Penal do Estado no Presídio de Igarassu, presos denunciam irregularidades - inclusive esquema de corrupção envolvendo servidores públicos.

"Dentre as principais violações, foram constatadas agressões e violências físicas constantes cometidas pelas próprias pessoas privadas de liberdade que são indicadas como responsáveis por atividades de gestão, como 'chaveiros', 'gatos', 'auxiliares de chaveiros'", descreveu relatório obtido pela coluna Segurança.

"São diversos relatos encontrados apontando corrupção de agentes públicos na unidade e ações abusivas por parte dos próprios presos na condição de 'chaveiros' ou 'representantes de pavilhão'", disse outro trecho do documento.

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