Como manda o bom senso, o São João de Caruaru foi cancelado. Ao menos a versão presencial, para evitar aglomerações. Há esperança de que um arraial online possa levar um mínimo de consolo a quem espera o ano inteiro pela festa. Seja como for, deixarão de circular na economia local os cerca de R$ 200 milhões que o evento costuma movimentar durante todo o mês de junho.
O Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), que ocorre tradicionalmente em julho, trilha o mesmo caminho. Falta apenas a confirmação oficial de governo e município, que não sabem informar a receita gerada pelo evento.
A Fenearte também deve adotar um novo formato, a ser anunciado nos próximos dias, para não deixar os artesãos ainda mais desamparados e sem alternativa de sobrevivência em meio à pandemia do novo coronavírus. No ano passado, a feira resultou em negócios da ordem de R$ 45 milhões.
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No Centro de Convenções de Pernambuco (Cecon-PE), entre os eventos programados (feiras, congressos, shows – no teatro e na área externa), 23 ficaram para o segundo semestre, 16 foram reagendados para 2021, incluindo a Hotel & Food Nordeste, e outros 25 foram cancelados, caso da Cúpula Hemisférica dos Prefeitos e Governos Locais. Uma frustração de faturamento de R$ 700 mil apenas para o equipamento, sem considerar toda a cadeia de serviços ativada.
O sacrifício é geral e o prejuízo, sem precedentes, em qualquer lugar do mundo. Até o dia 10 de maio, as perdas do turismo já somavam R$ 1,78 bilhão em Pernambuco, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que contabiliza principalmente o impacto econômico da redução drástica (superior a 90%) do número de voos. No Brasil, o prejuízo é estimado em R$ 62,56 bilhões.
Sem falar nos 300 mil empregos no setor que podem ser perdidos no País, também segundo a CNC. No Estado, não há projeção semelhante. No entanto, pesquisa do Departamento de Hotelaria e Turismo da UFPE junto ao trade de Porto de Galinhas apontou que pelo menos 40% dos trabalhadores dos hotéis já foram demitidos.
Poderia ter sido diferente? E se tivéssemos respeitado com mais rigor o isolamento social desde o início? Poderíamos estar começando a executar protocolos de retomada com segurança, em vez de endurecer medidas para não colapsar de vez? A experiência no ambiente controlado de Fernando de Noronha, que conseguiu barrar a transmissão vírus, parece apontar uma direção.
Mas enquanto disputas políticas trataram de esticar ao limite uma falsa dicotomia entre economia e saúde, perdemos tempo. Em vez de negar o óbvio, mais fácil, e rápido, teria sido fazer o que era preciso para combater o inimigo comum, que é um só: a covid-19.
Foi nela que países com forte crescimento da atividade turística, como é o caso de Portugal, focaram. É lá que as portas dos hotéis já vão começar a reabrir em junho, a tempo de aproveitar o verão europeu, para atenuar as perdas.
E nós? Seguimos, esgarçados, à espera de um porvir que ainda não se tem ideia de como será.
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