Falsas amizades e um cenário bucólico no inverno escocês são o pano de fundo para o suspense 'A Última Festa', de Lucy Foley

Seguindo a tradição inglesa de excelentes livros de suspense, Lucy Foley constrói um envolvente narrativa neste seu primeiro livro policial. Confira a resenha:
Valentine Herold
Publicado em 27/03/2020 às 16:43
Lucy Foley é inglesa e, antes de escrever seus próprios livros, estudou literatura inglesa e trabalho como editora Foto: DIVULGAÇÃO


Deve haver algo nas águas do rio Tâmisa que faz com que os escritores ingleses de romances policiais sejam tão singulares. Das mesmas terras de Agatha Christie, uma nova geração tem se destacado por modernizar o gênero, como é o caso de Lucy Foley, que acaba de publicar A Última Festa (304 pgs., R$ 39,90) no Brasil através da editora Intríseca.

Assim como suas conterrâneas Paula Hawkins (A garota no Trem) e Sarah Pinborough (Por Trás de Seus Olhos), Lucy faz parte do grupo de autores cuja linguagem literária se aproxima da narrativa audiovisual de séries e filmes policiais em que os perfis psicológicos dos personagens são tão - ou até mais - importantes quanto a resolução  do crime em si. Nesta que é sua primeira publicação de suspense após alguns romances históricos, ela conta a história de um grupo de nove amigos de trinta e poucos anos que, tradicionalmente, passa o réveillon juntos.

Miranda e Katie se conhecem desde a infância e, na faculdade, fizeram amizade com Julien, Mark, Nick, Giles e Samira. Bo é o marido americano de Nick há alguns anos, enquanto Emma entrou para o grupo recentemente ao casar com Mark. Já se passaram dez anos desde a formatura e, desta vez, quem está organizando o encontro do Ano Novo é a perfeccionista Emma.

Todos viajam de trem para uma bucólica e exclusiva propriedade isolada nas Terras Altas da Escócia, onde o crime vai acontecer. A tensão sobre as identidades da vítima e do assassino é construída desde as primeiras páginas e se prolonga até os capítulos finais. 

Não há um narrador onipresente aqui, mas uma pluralidade de relatos. A viagem é contada de forma alternada através dos capítulos por Emma, Katie, Miranda e dois outros personagens de extrema importância: Heather, a funcionária da pousada, e Doug, o guarda florestal que também trabalha na propriedade.

A narrativa é fluída no tempo, entre o momento que segue a descoberta do corpo de um dos hóspedes e flashbacks da chegada do grupo e de episódios do passado de cada um. É interessante perceber que apenas os capítulos da perspectiva de Doug estão na terceira pessoa, enfatizando assim o  protagonismo feminino de A Última Festa.

Entre jantares, muito champanhe e até treino de caça, fica evidente que não há mais quase nada em comum entre eles, a não ser um desejo nostálgico de prolongar a juventude e a todo instante relembrar histórias antigas. "Estamos procurando algo no rosto uns dos outros. Mas o que? Familiaridade? Uma lembrança reconfortante de tudo o que nos une? Ou será que estamos procurando, cheios de medo, algum novo elemento cujo vislumbre entrevimos na encosta daquela montanha sombria? Algo novo, estranho e violento", escreve uma das personagens.

Um forte nevasca impede que a policia chegue logo ao local e a orientação é que todos fiquem confinados até as condições do tempo melhorarem, fato que torna todo o desenrolar do enredo ainda mais tenso e envolvente até o surpreendente desfecho. Na Inglaterra, Lucy Foley lançou no início deste ano o The Guest List, outro thriller. Deste nome promissor da literatura inglesa de suspense, nos resta a esperar a edição brasileira de sua nova história.

                                               

DIVULGAÇÃO - A Última Festa , 403 pgs., R$ 29,90, Intríseca
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literatura livro crime
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