Wagner Moura e Ana de Armas falam sobre 'Sergio', drama sobre emblemático diplomata brasileiro

'Sergio' conta a história de Sérgio Vieira de Mello, diplomata brasileiro do alto escalão da ONU que foi vítima de um atentado terrorista no Iraque
Rostand Tiago
Publicado em 14/04/2020 às 15:58
WAGNER MOURA E ANA DE ARMAS PROTAGONIZAM 'SERGIO', DA NETFLIX Foto: NETFLIX/DIVULGAÇÃO


Um dos maiores nomes da diplomacia mundial deste século 21 é certamente um brasileiro. O carioca Sérgio Vieira de Mello, Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humano, teve uma trajetória de empenho conciliatório em nações abaladas por sérios conflitos. Sérgio trabalhava pela retomada da autonomia de países que passavam por intensas mudanças após estarem implicados em diversos episódios de lutas e violência. Sua última missão nesse sentido foi logo no começo da Guerra do Iraque, quando esteve instalado em Bagdá para comandar o trabalho da Organização das Nações Unidas (ONU) em relação aos direitos humanos no meio do conflito. Ele foi vítima fatal de um atentado terrorista, com responsabilidade assumida pela Al-Qaeda.

Sua vida e sua morte são os temas de Sergio, produção da Netflix que chega ao catálogo do streaming nesta sexta-feira (17). O diplomata é vivido pelo baiano cada vez mais internacional Wagner Moura, que também produz o longa dirigido por Greg Baker, também responsável também por um documentário sobre o diplomata em 2009.

Wagner é acompanhado por outra estrela latina em franca ascensão no cinema hollywoodiano: a cubana Ana de Armas. A atriz conta com papéis marcantes em produções como Blade Runner 2049 e Entre Facas e Segredos, além de ser uma nova bondgirl no próximo filme da franquia 007 e escalada para dar vida a Marilyn Monroe em uma cinebiografia. Aqui, de Armas vive Carolina Larriera, funcionária da ONU, esposa de Sérgio e uma das sobreviventes do atentado em Bagdá. Os dois participaram de uma coletiva de imprensa virtual para falar mais sobre a construção do filme e de seus personagens.

Novas percepções

Parece haver uma certa mudança, ou pelo menos o começo de uma, no olhar de Hollywood para histórias de pessoas da América Latina e de outras periferias do mundo. Wagner Moura, que recentemente deu vida ao emblemático traficante colombiano Pablo Escobar, agora pôde trazer a história de um outro latino que tem um vivência mais afastada desse ethos de violência e drogas.

"É uma coisa imparável, como o mundo está indo nessa direção, as artes historicamente buscam representar uma nação, uma cidade, um bairro em direção a essas mudanças. O Estados Unidos é um país construído pela imigração e tem pessoas do mundo todo aqui, mas por algumas razões, essa representação não estava sendo do jeito que deveria ser. Eu acho que quanto mais a gente anda em direção de um mundo mais democrático, essas histórias vão ser mais contadas" , comenta Wagner.

Esse contato com outras histórias é algo que permeia o próprio período de gravações de Sergio, que passou por lugares como Tailândia, Jordânia e Brasil. Uma viagem que se relaciona bem com o drama proposto para a vida de Sérgio no filme, pautado principalmente em uma conflito político e moral sobre o pertencer e o ser estrangeiro. Um caminho que é marcado pelo entender essas outras vivências tão distantes a partir da comunicação, a qual tiveram com diversas pessoas das diversas locações da produção.

"Em todos os países onde gravamos, tivemos voluntários para participar do filme porque se sentiam muito conectados com a história em um nível muito pessoal. Pessoas que são parte da história e quiseram contá-la", afirma Ana. "Na Jordânia, tivemos pessoas na cena do atentado que eram sobreviventes de outros atentados terroristas e tinham uma reação emocional muito intensa, assim como nós também tivemos a partir disso. É como se tivessem vivendo um trauma do passado, ao mesmo tempo em que eles meio que se curam. Foram as cenas mais difíceis que fiz na minha vida", complementa a atriz.

Pessoas e personagens

Esse contato ainda vai além e chega as pessoas mais íntimas da história de Sérgio, como a própria Carolina, que apareceu de surpresa nas filmagens no Rio de Janeiro. "Tomamos um café e ela não tirava os olhos de Wagner, como se estivesse vendo o quanto ele estava parecido com Sérgio, se ele tinha a energia de Sérgio. Ela contou histórias sobre o amor deles e a conexão. Tudo passou a ficar ainda mais vivo", relata Ana.

Moura ainda teve um contato os filhos do diplomata. Mas ele explica que, nesse caso, trata-se de uma comunicação para uma construção mais ética do que criativa. "Em termos de criar um personagem, eu não quero a interferência no processo criativo de ninguém que tenha um interesse emocional na narrativa. Mas em uma aspecto ético como produtor, eu procurei Carolina e os filhos de Sérgio", explica. Ainda sobre essa sua construção das personas que vive, ele diz que seu interesse particular não é em pessoas que realmente existiram, apesar de interpretar uma série delas recentemente.

"Eu prefiro não ter responsabilidade sobre essas pessoas. Eu tento ler sobre elas e me alimentar o máximo possível delas, como foi o caso de Sérgio, para que depois eu possa esquecer isso tudo e criar minha versão do personagem. Para conectar comigo mesmo, com o jeito que eu vejo o personagem e o jeito que eu vejo a vida. E isso para que os aspectos dele não venham de um lugar de imitação, mas uma aproximação mais orgânica", conta Wagner.

Outra parte desse processo que Wagner considera como facilitadora é conhecer os outros atores com quem vai trabalhar e estabelecer uma conexão que vai além de representar os personagens. Ele relata que foi isso que aconteceu com Ana, se aproximando da forma como ela via o mundo, como ela se portava, além do fato de ambos serem latinos.

"Eu não gosto dessa coisa de 'oi, eu sou o Wagner, vamos lá fazer isso'. Ajuda muito conhecer o outro ator. Eu me lembro quando vi Ana em Los Angeles pela primeira vez e logo me conectei. Se tiver uma sala com dez pessoas e uma for latina, eu vou me conectar mais facilmente com esse”, explica. Alguns meses depois, Wagner e Ana voltariam a formar um par, dessa vez para The Wasp Network, de Olivier Assayas, ainda sem previsão de estreia, que teve o trabalho facilitado pelo trabalho anterior em Sergio.

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