UBUNTU

O Laboratório Fantasma, de Emicida, tem a coletividade como força maior

Projetos desenvolvidos na iniciativa idealizada pelo rapper usam multiplataformas para inspirar e estimular transformações pessoais e sociais

Nathália Pereira
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Nathália Pereira
Publicado em 05/07/2020 às 12:11 | Atualizado em 02/09/2021 às 2:48
JULIA RODRIGUES/DIVULGAÇÃO
Vídeos, podcasts, textos e imagens são plataformas usadas pelo artista para deixar mensagem sobre cuidado e respeito ao outro - FOTO: JULIA RODRIGUES/DIVULGAÇÃO

Desde os primeiros registros na música, passando pelos discursos, entrevistas e as características fundamentais da cultura urbana que abraçou ainda adolescente, Emicida está sempre rodeado pela causa coletiva.

Foi assim, por exemplo, quando o rapper criou em 2009, junto ao irmão, Evandro Fióti, o Laboratório Fantasma, ainda chamado de Na Humilde Crew. Funcionava, a princípio, como uma firma para administrar a venda de camisetas de mão em mão – o mesmo modus operandi usado na divulgação da primeira mixtape, Pra quem Já Mordeu Um Cachorro Por Comida, Até Que Eu Cheguei Longe..., lançada no mesmo ano.

Mas o negócio respondia apenas pela parte burocrática da empresa, que já abarcava o sentido comunitário, o que permanece até agora, quando reflete mais do que nunca o Ubuntu - filosofia africana que se traduz como “Eu sou porque nós somos”. O conceito presa por uma visão de mundo pautada pela sensibilidade em relação ao outro, por entender que a humanidade se faz e se fortalece em aliança.

A frase “Escolha um trabalho que você ama e não terá que trabalhar um dia na vida”, do filósofo chinês Confúcio, é citada no site oficial do Laboratório Fantasma como outro pensamento aplicado às atividades do coletivo.

Hoje responsável por gerir carreiras e lançar álbuns de artistas parceiros, como Rael, Drik Barbosa, Chico César e Juçara Marçal - além dos próprios Emicida e Fióti, com uma loja virtual ofertando dezenas de produtos originais e a realização de eventos como o Festival Ubuntu e a articulação da vinda de bandas de fora do Brasil para o país no currículo, o Laboratório Fantasma tem investido também na produção de conteúdos pensados especialmente para o período de isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus.

Desde 22 de junho, o canal do Lab na plataforma Twitch, o LabFantasmaTV, apresenta uma grade diária de programas.

Às segundas-feiras, a partir das 20h, a rapper Drik Barbosa apresenta o #ConexãoLAB, com foco na música negra, enquanto também propõe aprofundar a discussão sobre temas como saúde, comportamento, política, moda, beleza e sexo. O #ConexãoLAB vai ao ar também nas terças-feiras, no mesmo horário, mas sob comando do MC Rashid, com sons selecionados e conversas sobre cultura geek, literatura, política e atualidades.

Para as quartas-feiras, ao meio-dia, foi escolhido o roteirista, apresentador e humorista Ronald Rios para estar à frente do #CentralLAB, no qual convida artistas e personalidades, a exemplo da rapper Karol Conka, para trocar ideias sobre música e cotidiano.

Quinta-feira é o dia em que Rashid volta ao canal, dessa vez para falar sobre o mundo dos videogames, no #LABRapGame. O MC recebe convidados do universo da música para jogar e conversar sobre temas variados, às 20h.

Fecha a grade da semana o #CaseDeDiscos, aos domingos, 20h, com o mote de mergulhar nas histórias que rodeiam a música brasileira. Produtores e beatmakers do rap nacional são convidados para bater um papo com Nyack, um dos DJs mais relevantes de sua geração, integrante da festa Discopédia (dedicada integralmente ao uso e valorização dos discos de vinil), e que acompanha Emicida nos palcos desde 2007.

O coletivo conta ainda com podcasts: no #MovimentoUbuntu, evoca mais uma vez a inspiração na raiz do pensamento africano na abordagem de temas contemporâneos, mas atemporais, com intuito de promover uma troca “leve, consciente e acolhedora”. Estão disponíveis oito episódios. O de abertura tem no elenco a empreendedora, escritora e ativista Monique Evelle, a cantora e compositora Xênia França e Drik Barbosa em um diálogo sobre auto-cuidado.

No mais recente deles, o escritor Ale Santos se une a pernambucana e deputada estadual por São Paulo Erica Malunguinho e a Fióti numa conversa a respeito da importância da alternância de poder e a urgência de se ter negros e povos originários em espaços políticos significativos.

Já no podcast Estórias de Família, Dona Jacira, artesã, artista plástica e mãe de Emicida e Fióti, compartilha, em dez partes, memórias de sua vida. Isso com base na linha de pensamento dos ciclos dos setênios, componente da concepção antroposófica, que busca entender a vida, as evoluções, mudanças e interações humanas em períodos divididos em sete anos.

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AMARELO PRISMA

Também estão disponíveis nas plataformas de streaming dois podcasts diretamente ligados ao AmarElo, mais recente álbum de estúdio que Emicida gosta de classificar como experimento. O primeiro é AmarElo - O filme invisível, “um mergulho nas referências sonoras, visuais, sensoriais e espirituais do projeto AmarElo”.

O outro é integrante de e homônimo ao AmarElo Prisma, iniciativa multiplataforma, concebida por Emicida e Gabriel Pinheiro, composta ainda por vídeos e conteúdos, em imagem e texto, para redes sociais com foco na construção de novas perspectivas.

A lógica é partir de quatro pilares - paz, clareza, coragem e compaixão - extraídos de texto do monge budista vietnamita Thich Nhat Hanhe e projetar, como um prisma, o que Emicida aprendeu ao longo da vida para que sirva como inspiração e motivação de transformação pessoal e social.

Cada um dos quatro pilares foi transformado em Movimento (1, 2, 3 e 4) e distribuído como temática guia das publicações ao longo de quatro semanas. As postagens foram feitas entre 27 de maio e 26 de junho e permanecem disponíveis na íntegra nos canais do rapper.

“É exatamente como uma sinfonia, onde nós e o mundo somos os instrumentos. Vamos nos afinar, ficar prontinhos para tocar a música mais bonita do mundo”, diz Emicida sobre AmarElo Prisma.

É mesmo o cumprimento da promessa que o MC paulista faz em Principia, faixa que abre seu último disco: “De pé no chão, homem comum/Se a bênção vem a mim, reparto/Invado cela, sala, quarto/ Rodeio o globo, hoje tô certo/ De que todo mundo é um/Tudo que nós tem é nós”.

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