O álbum que Karol Conka pretende lançar em junho é apenas o segundo desde quando começou a escrever os primeiros raps, há cerca de 15 anos. Mas da estreia com Batuk Freak (2013) até agora, a curitibana já alcançou postos muito bem vindos, principalmente quando se considera o gênero que primeiro abraçou. Tudo a ela interessa: protagonismo negro, sexo, feminismo, festa. A mistura “a cara da Conka” poderá ser vista mais uma vez no Recife durante pelo festa décimo aniversário da produtora Golarrolê, hoje, no Baile Perfumado, junto a banda BaianaSystem.
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Por causa da agenda lotada, o lançamento de Ambulante, o novo registro em estúdio, precisou ser adiado algumas vezes. Em entrevista por telefone ao JC, direto de um aeroporto, ela confirma que de junho a nova empreitada não passa. “Antes, eu lanço o clipe de Lalá, com direção de Vera Egito. Eu a considero um lado B, porque é um rap mais direto, ao mesmo tempo uma maneira leve e poética pra falar desse assunto”.
O título da música em questão é um termo usado para se referir a sexo oral. Conka já havia improvisado um trecho no show do festival Coquetel Molotov, em outubro, levantando gritos empolgados das mulheres presentes. “Quis falar de como os homens não têm prática em fazer sexo oral nas mulheres, falta dedicação”, sentencia.
Prometendo cantar no show de mais tarde a íntegra da versão que entrará no disco, ela detalha que a faixa é apenas parte da identidade posta no trabalho. As maiores novidades, talvez, serão as letras românticas, temática a qual raramente se dedica. “Mas senti a vibe e saiu. O disco transita por muitas coisas, por isso o nome. O som tem mais arranjo, mais guitarra, que eu gosto muito. E é mais eletrônico também, é a fase que eu tô vivendo agora”.
Ainda à procura de uma gravadora para fechar o lançamento de Ambulante, Karol já adianta que a versão online estará disponível para audição gratuita, assim como o disco anterior. Além de Lalá, farão parte dele as já lançadas como single Farofei, parceria com o produtor Boss in Drama, Maracutaia e uma outra recém gravada junto ao cantor carioca Luccas Carlos. Antes escalada para a tracklist, 100% Feminista, cantada em dupla com a funkeira MC Carol, ficou de fora. Conka, no entanto, não descarta incluir novo dueto com a amiga em discos futuros.
RACISMO E FEMINISMO
“Quando não era famosa e tava cheia de conta pra pagar / Ninguém queria me ajudar / Agora que eu sou poderosa e tenho condição pra me bancar / Todo mundo querendo criticar”. Na letra de Farofei, Karol Conka parece ter dado uma resposta prévia aos ataques que sofreu em suas redes sociais no início do mês. Eles vieram como questionamento a uma campanha protagonizada por ela para uma marca de bolsas das quais assina a cocriação.
Apresentada no site da grife como “ousada, autêntica e bombástica”, a coleção foi repudiada por muitos que acusaram a cantora de comercializar, por valores caros, termos presentes em suas músicas, geralmente usadas como trilha para luta contra preconceito e valorização da comunidade negra e pobre. “Cadê a coleção de peças que as pessoas que te colocaram onde você está hoje podem comprar?”, diz o comentário mais “curtido” na postagem em que Karol anuncia a linha de produtos, em sua página no Facebook.
Visivelmente incomodada com o cunho pessoal de muitos dos comentários que recebeu, Karol retrai o tom de voz até então alegre quando perguntada sobre o assunto. “Eu acho muito triste a visão dessas pessoas porque quem ouve minhas canções e acompanha meu trabalho não me julga”, responde. Citando outras duas propagandas que estrelou, estas com produtos a preços populares, ela diz enxergar cunho racista em vários dos questionamentos que recebeu.
“Isso diz mais sobre eles do que sobre mim, são comentários racistas. Muita gente que me criticou tava com tênis caríssimo no pé. É racista achar que um negro ou negra não tem dinheiro pra comprar um produto mais caro, ou que se eu vim de baixo eu tenho que me manter lá. São pessoas ignorantes, no sentido de não terem conhecimento realmente do que eu vivo”, afirma.
Ela diz estar segura com os rumos da carreira. “Estão incomodados com onde o negro está chegando. Meu exemplo não é só sobre ou para quem é de periferia, é pra todo mundo. E além do mais, nem se deram ao trabalho de saber o que é a marca, quem é o designer. Não é uma marca que utiliza trabalho escravo, ou algo parecido. Eu fui convidada e aceitei, eu não tenho marca no meu nome. Eu não levo a mal quem não tem informação sobre o que tá acontecendo. Mas eu sou cantora, faço um monte de coisa legal e aí, por causa de uma coleção de bolsa, esquecem tudo, jogam tudo no lixo? É um público que eu não quero que chegue perto da minha arte, não faço questão”.
De volta ao tom tranquilo de voz, ela relembra a intervenção que o coletivo feminista recifense Vaca Profana fez durante o show do Coquetel Molotov e diz ter vontade de encontrar com as integrantes mais uma vez.
“Eu fiquei emocionada, fiz um sinal de que elas podiam subir no palco e elas vieram bem na hora em que eu cantava 100% Feminista. Fiquei com uma vontade de chorar, me arrepiei. Eu não as conhecia, mas depois a gente trocou uma ideia no camarim e no Instagram. Tô até pensando em convidá-las pra ‘invadir’ de novo”, se diverte.
Aos 30 anos, completos em janeiro, Karol acredita ter deixado o jeito “moleca” mais de lado e confessa que está onde se imaginou com essa idade. “Mas acho que tô na subida ainda, não cheguei no auge da minha carreira”.