Morre Mestre Aprígio, Patrimônio Vivo de Pernambuco, aos 79 anos

Natural de Exu, Mestre Aprígio se notabilizou pelo seu trabalho com o couro, confeccionando peças para nomes como Dominguinhos e o conterrâneo Luiz Gonzaga
Rostand Tiago
Publicado em 28/07/2020 às 9:49
Com ateliê em Ouricuri, mestre do couro teve trabalho longevo e reconhecido Foto: Foto: Leo Mota/JC Imagem


Faleceu nesta segunda-feira (27) o artesão Mestre Aprígio, aos 79, em Ouricuri, no Sertão do Araripe. Desde o ano passado, Aprígio era reconhecido como Patrimônio Vivo de Pernambuco por seu longevo trabalho com peças de couro que ganharam o país. Aprígio estava internado há uma semana no Hospital Fernando Bezerra e a causa da morte não foi divulgada. As peças do mestre vestiram nomes como Dominguinhos, Alcymar Monteiro e Luiz Gonzaga, em uma parceria que fincaria de vez seu trabalho no imaginário nordestino.

José Aprígio Lopes nasceu em Exu no dia 25 de maio de 1941. Ainda jovem, se encantou pelo couro ao conviver com vaqueiros ao lado do pai. Na adolescência, começou a trabalhar com a faca, o esmeril e o compasso. Aprígio chegou a passar um período trabalhando na oficina do Mestre Juarez, no Crato, Ceará, após a morte do pai. Mestre Aprígio se mantinha ativo no ateliê, trabalhando agora ao lado de filhos e netos, que teve na figura de Aprígio um exigente professor.

Foi nos anos 1970 quando Luiz Gonzaga conheceu seu trabalho e passou a encomendar suas obras, como chapéus, gibões e outros acessórios. Foi por sugestão de Gonzagão que montou seu ateliê em Ouricuri.Na visita do Papa João Paulo II ao Ceará em 1980, Gonzaga trajava peças de Aprígio. Foram mais de 50 peças desenvolvidas na parceria entre os dois artistas de Exu.

Notas de pesar

Em nota, a Secretaria de Cultura do Estado e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) lametaram a perda. "A Secult/Fundarpe lamenta a perda do Patrimônio Vivo de Pernambuco e sertanejo ilustre José Aprígio Feitosa, conhecido como Mestre Aprígio, anunciada nesta segunda-feira à noite (...) Escolhido em 2019 pelo Governo de Pernambuco como Patrimônio Vivo do Estado, Mestre Aprígio possuía um ateliê em Ouricuri, no Sertão do Araripe, terra que escolheu para desenvolver seu trabalho (...) Aos familiares, amigos e admiradores, deixamos a nossas condolências e deixamos os nossos mais sinceros pêsames", diz o comunicado.

Paulo Câmara, governador de Pernambuco

"O convívio com os vaqueiros desde a infância, no Sertão pernambucano, e seu grande talento para o artesanato, fizeram do Mestre Aprígio um dos maiores artistas brasileiros no trabalho com o couro. Autor de lindas peças, seus chapéus, gibões e sandálias vestiram nomes como Luiz Gonzaga, Gonzaguinha e Dominguinhos, entre tantos outros. Eleito Patrimônio Vivo de Pernambuco em 2019, seu legado permanecerá como uma referência indelével no cenário artístico e cultural do nosso Estado. Quero me solidarizar com seus familiares e amigos neste momento de dor."

Assembleia Legislativa de Pernambuco

"Pernambuco perde, hoje, uma referência para uma arte que define bem a nossa cultura popular. Nascido no Exu, Sertão do Araripe, o artesão Mestre Aprígio costurou durante toda a vida peças em couro, usando seu dom para vestir nossos vaqueiros, desde os mais humildes até os reis, como Luiz Gonzaga e Dominguinhos. Nosso Estado teve a grandeza de reconhecer seu trabalho, concedendo-lhe o título de Patrimônio Vivo. Que Deus lhe receba em seus braços e que console seus familiares e amigos", diz a nota assinada pelo deputado Eriberto Medeiros, presidente da Alepe. 

 

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