Agora o Festival de Cinema de Gramado, um dos mais longevos do país que chega em sua 48º ano, já está organizado para começar sua mais atípica edição. O festival deixou de tomar a pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul para tomar as TVs e o streaming e, nesta terça-feira, anunciou quais serão os longas-metragens da seleção nacional e internacional que poderão ser prestigiados. Em uma coletiva de imprensa, foram divulgados os 14 filmes que se somam aos já divulgados curtas nacionais e gaúchos, além de novos homenageados e as expectativas para a disputa do Kikito deste ano.
Dentro da seleção nacional, veteranos e novatos se misturam para suas produções ainda inéditas no país, algumas já com participações em prestigiados festivais internacionais. É o caso de Aos Pedaços, de Ruy Guerra, diretor que perto de chegar aos 90 anos, é parte viva da riqueza histórica do cinema brasileiro e continua ativo. O cineasta que começa sua carreira dentro do contexto do Cinema Novo passou pelos altos e baixos da produção nacional sempre na ativa e agora vem com um drama sobre um homem casado com duas mulheres de dois diferentes países. O longa foi exibido no Festival Internacional de Cinema de Roterdã.
Já Pernambuco também vem representado por um grande nome da produção local. Camilo Cavalcante faz a estreia de King Kong en Asunción, seu primeiro longa de ficção desde o magistral A História da Eternidade, lançado em 2014. O diretor estava pronto para lançar seu documentário Beco em março, na mesma semana em que os cinemas da Fundação Joaquim Nabuco, onde seria sua estreia, fecharam por conta da pandemia. Agora terá a oportunidade de ver um filme seu circular pelo país ainda neste ano, mesmo que longe das telonas. King Kong en Asunción é descrito como um road movie com ares de western, experimentalismo e marginalismo.
A competição ainda conta Todos os Mortos, de Caetano Gotardo e Marco Dutra, revivendo a primeira década após a abolição da escravidão para trazer um drama social impulsionado pelas feridas raciais do país a partir da vivência de três mulheres. O filme foi selecionado para o Festival de Berlim, a Berlinale, deste ano, um dos poucos dos prestigiados festivais internacionais que chegaram a ser realizados. Completam a seleção Um Animal Amarelo, de Felipe Bragança e também exibido em Roterdã, Por que você não chora?, de Cibele Amaral e os documentários O Samba é Primo do Jazz, dirigido por Angela Zoé sobre a cantora Alcione e Me Chama que Eu Vou, com a cineasta Joana falando sobre Sidney Magal.
Já a seleção internacional conta com sete filmes de países diferentes: Dias de Inverno (Jaiziel Hernadez, México), El Gran Viaje al País Pequeño (Marian Viñoles, Uruguai), El Silencio del Cazador (Martin Desalvo, Argentina), La Frontera (David David, Colômbia), Los Fuertes (Omar Zúñiga, Chile), Matar a un Muerto (Hugo Gimenez, Paragua) e Tu me Manques (Rodrigo Bellot, Bolívia). Ainda foram anunciados mais dois homenageados, o ator uruguaio César Troncoso receberá o Kikito de Cristal e a atriz Denise Fraga recebe o Prêmio Cidade de Gramado. Eles se juntam à Lais Bodanzky e Marco Nanini nas personalidades celebradas pelo festival. A programação, marcada para o próximo mês, será exibida pelo Canal Brasil e em seu streaming
Já a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo é um dos primeiros ancoradouros no Brasil de filmes consagrados internacionalmente, além de ser uma poderosa vitrine para a produção nacional. Ela também encontrou caminhos virtuais para não deixar 2020 passar batido, trazendo uma plataforma de streaming própria para sua 44ª edição. O evento será realizado entre 22 de outubro e 4 de novembro e chegará perto de uma realização presencial com sessões no drive-in do Cine Petra Belas Artes, além de liberar títulos gratuitos nas plataformas Cinesesc e SPCine.
Seu streaming próprio é desenvolvido em parceria Festival Scope/Shift72, que vem desenvolvendo plataformas para importantes festivais como o de Tribeca, em Nova York, e o de Toronto. Também serão realizados master classes, seminários e lives virtualmente. As sessões custarão R$ 6 e são esperados mais 150 títulos, incluindo países como Alemanha, Argentina, Bolívia, França, EUA, Canadá e China.
Este último é o primeiro que já tem pelo menos um de seus representantes divulgados. O cineasta Jia Zhangke, um dos mais celebrados do cinema contemporâneo mundial, terá a estreia nacional de seu mais recente filme, Nadando até o Mar Ficar Azul. Zhangke, autor de obras como Um Toque de Pecado e Amor Até às Cinzas, também é o artista convidado deste ano para fazer o pôster do festival.