O isolamento social provocado pela covid-19 afetou de forma significativa a produção de Taylor Swift. A cantora, que tinha programado uma série de ações promocionais do álbum Lover (2019), incluindo uma turnê mundial, utilizou o afastamento forçado dos palcos para criar sua obra mais disruptiva, Folklore, lançado de surpresa em julho e indicado a cinco categorias no Grammy, incluindo Álbum do Ano. Mais uma vez burlando o calendário tradicional de divulgação, ela disponibilizou, na última sexta-feira (11), outro trabalho de inéditas produzido durante a pandemia, o disco Evermore.
Em um comunicado divulgado poucas horas antes do lançamento, Taylor afirmou que mesmo após a finalização de Folklore, ela e seus colaboradores continuaram a escrever, em um processo de aprofundamento de sonoridade e da temática. A cantora e compositora, que completou 31 anos ontem, pontuou que os trabalhos lançados este ano eram menos uma "ruptura" em relação ao que vinha fazendo musicalmente e mais um "retorno" às suas raízes (antes de se tornar uma estrela pop, Taylor Swift era uma jovem de destaque no country).
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>> Taylor Swift afirma que seus seis primeiros álbuns foram vendidos sem seu conhecimentoEm Evermore, ela continua sua incursão pelo folk, indie, country, pop alternativo e o rock, novamente colaborando com nomes como Bon Iver, Aaron Dessner e seu parceiro de longa data, Jack Antonoff. Uma das melhores compositoras de sua geração, Swift exercita mais uma vez sua narrativa em contos complexos sobre as relações humanas. Exemplo disso é a excelente No Body, No Crime, parceria com o trio de irmãs Haim, que fala sobre um feminicídio cometido após uma mulher descobrir confrontar seu companheiro sobre uma traição - e de como, diante do fato, sua amiga fez justiça com as próprias mãos.
A construção das canções em torno de histórias de personagens que, de uma maneira ou outra, se tocam, conectam Evermore ao seu antecessor. Faixas como Dorothea, Champagne Problems e Marjorie são estudos narrativos delicados e instigantes, capitaneados por interpretações comedidas, mas seguras, de Taylor. Ela se despe dos artifícios eletrônicos e deixa sua voz brilhar em faixas que exigem um desnudamento emocional intenso - e, nesse sentido, a estadunidense brilha. Enquanto narradora, ela assume papéis que borram noções de sexo ou sexualidade.
Ao contrário do que vinha fazendo desde o incidente no VMA de 2009, quando teve início sua infame briga com Kanye West, a cantora abandona completamente os espectros de vítima ou algoz. Suas histórias se tornam contos complexos sobre amor, desilusão, tentativas e erros. Atitudes demasiadamente corriqueiras e sentimentos exacerbados que só a paixão podem provocar. Tudo, no entanto, em interpretações e em arranjos discretos, enfatizando a força das letras.
A nova parceria com Bon Iver, que dá nome ao álbum, e Coney Island, com a banda de rock The National (da qual Aaron Dessner é integrante), estão entre os destaques do álbum, assim como Closure, uma das faixas mais experimentais, que soa como uma canção tradicional, a base de piano, atravessada por interferências, como uma interseção entre duas estações de rádio.
É poderoso que Taylor Swift, uma das maiores artistas pop da última década, se permita assumir seu poder e usar usa voz como bem quiser — inclusive politicamente, já que ela foi uma ativa apoiadora da campanha de Joe Biden —, em uma indústria historicamente misógina. Com Evermore, ela consolida sua disposição em seguir as próprias regras e, no caminho, tem criado seus melhores trabalhos.
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