Na cena musical recifense, o nome de Geraldo Maia dispensa apresentações. Filho de pais portugueses, o artista de 61 anos, também sociólogo por formação, dedica-se à carreira musical desde o início dos anos 1980. Mas desde o último domingo (17), seu nome e veia artística ganharam projeção nacional quando surgiu como um dos candidatos da estreia do programa The Voice Mais, na TV Globo.
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Interpretando Estrada de Canindé, um clássico de Luiz Gonzaga, Geraldo não só virou as quatro cadeiras do programa, mas mostrou para boa parte do público o que ele sabe fazer de melhor: levar uma interpretação única, que já podia ser ouvido em seus 11 álbuns lançados ao longo da carreira, para o samba pernambucano, a bossa nova e a MPB.
Mas, então, o que leva um artista com carreira consolidada aventurar-se num reality musical aparentemente para iniciantes? O próprio Geraldo Maia explica: "Fiquei muito entusiasmado com a ideia toda porque, primeiro, eu sou muito corajoso. Segundo, não tenho pruridos de ordem egoica. Minha grande meta na vida é cantar. Sempre foi, desde criança. E é também poder cantar para um maior número possível de pessoas. O The Voice é uma oportunidade excelente para atingir um público mais amplo a conhecer o meu trabalho".
Por telefone, Geraldo explicou que foi convidado pela produção do programa em meados de agosto. Ao aceitar a proposta, passou por todas as seletivas até chegar nas Audições às Cegas e escolher o cantor Mumuzinho como o seu técnico.
"O Mumuzinho tem uma coisa que os outros não tem: o pé no samba. A coisa de vir dessa imensa raiz, que eu também vim, mesmo sendo branco, e filho de pai e mãe portugueses. Eu tenho um samba duro, não tenho cadência, ritmo de sambista, mas adoro o samba! Inclusive, eu fiz um disco só de sambas - O Samba do Mar Quebrado, de 2004 - fruto de uma pesquisa que eu fiz em cima do samba pernambucano. Ali gravei como sambista Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro. Por isso a minha escolha pelo Mumuzinho, por todo esse traço dele e afinidade com esse ritmo", justifica.
De acordo com o recifense, render-se às regras do reality não afetou a sua verdade enquanto artista. "Até aqui, eu não fiz nada que contrarie a minha verdade interior, a minha crença daquilo que é minha arte, a minha música. Eu estou dentro de um processo seletivo, na maior televisão brasileira, mas estou sendo respeitado nessa questão do que há em mim. Todos os fatores contribuíram para que eu chegasse nesse momento com muita precisão, verdade e sinceridade, continuando a fazer o que eu sempre fiz, que é cantar", completou.
Geraldo Maia também contou que não se incomoda de ser tratado, de certa forma, como um "desconhecido" na atração, diante dos técnicos, Claudia Leitte, Daniel, Ludmilla e Mumuzinho: "Estar diante daqueles quatro jurados, artistas consagrados, cada um na sua particularidade, para mim foi um orgulho, que não mexe minimamente com nada que diga respeito ao que sou como artista. [...] Essa vaidade não chega em mim. Antes de chegar, tem uma defesa natural minha, que já está decantada por décadas de luta, de batalhas, de aspirações, que não me abala".
"DRAMÁTICO"
Sobre o fato de ter conseguido virar as quatro cadeiras em sua Audição no The Voice+ cantando Luiz Gonzaga, Geraldo acredita que o êxito veio de sua personalidade musical. "Eu poderia ter cantado essa música no estilo tradicional, como um forró legítimo, mas não seria eu. Eu não sou Maciel Melo, eu não sou Santanna, Silvério Pessoa, Josildo Sá - mesmo com todo o respeito, amor e admiração imensa a esses artistas que sabem fazer como Luiz Gonzaga fez também. Então eu tinha que fazer do meu jeito: cantar desfazendo o padrão rítmico e sonoro. Eu sou um cantor essencialmente dramático, trágico, barroco. O drama me favorece. Acho que foi nisso que eu acertei. Porque fui atrás do que está implícito na música, e não explícito. É nisso que me interessa em Estrada de Canindé", ressalta.
Aguardando a segunda fase do programa, o Tira-Teima, Geraldo garante que, por enquanto, não tem planos profissionais após o reality musical. "Estou tocando a vida nessa realidade pós-pandemia. Mas, no momento, estou focado no The Voice que foi uma janela muito especial, oportuna e muito incrível que apareceu. A vida está aí me pondo uma prova. E eu vou continuar me pondo à prova".
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