Tarcísio Pereira, fundador da Livro 7, morre aos 73 anos no Recife
O livreiro morreu na noite da segunda-feira (25), no Hospital Português, onde estava internado há cerca de 60 dias
A cena literária pernambucana amanheceu mais triste nesta terça-feira (26). Tarcísio Pereira, 73, fundador da livraria Livro 7, morreu na noite da segunda-feira (25), por volta das 22h. De acordo com informações divulgadas por parentes próximos, o livreiro teria falecido em decorrência de sequelas deixadas após a contaminação pela covid-19.
Tarcísio foi infectado pelo novo coronavírus em novembro de 2020, e desde então estava internado no Hospital Português, área central do Recife. Segundo informações cedidas por Juliana Lins, uma das filhas do livreiro, ele se recuperou do vírus, mas teve diversas outras doenças decorrentes. Apesar disso, vinha se recuperando muito bem. "Foi uma luta muito grande porque ele teve várias doenças neste meio tempo, precisou fazer diálise, transfusão, teve AVC, trombose, foi um guerreiro. Nós iríamos receber alta essa semana, mas ontem ele teve uma hemorragia, que a gente conteve a primeira, mas a segunda não segurou", explicou Juliana em conversa com a reportagem do JC.
O empresário deixa a esposa, quatro filhos e cinco netos. A família esteve ao seu lado durante os últimos dias. "Eu estava do ladinho dele, acompanhei ele do dia que ele entrou até o dia que ele partiu. Ele foi um guerreiro, eu nunca vi uma pessoa tão amada. Eu tenho certeza que o amor da gente, dos quatro filhos, fez uma diferença enquanto ele esteve no hospital. Eu cuidei dele, meus irmãos cuidaram tanto. A gente botava as músicas que ele mais gostava, cantávamos para ele, foi uma despedida muito bonita e muito tranquila", revelou Juliana, emocionada.
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Em nota oficial, o Governador de Pernambuco Paulo Câmara, lamentou a morte de Tarcísio. "Pernambuco perdeu hoje o editor Tarcísio Pereira, um potiguar que marcou época e influenciou gerações com a sua icônica Livraria Livro 7, na Boa Vista, Centro do Recife. A Livro 7 abriu as portas em 1970 num espaço de 20 metros quadrados e, graças ao amor de Tarcísio pela literatura, se transformou num complexo cultural registrado pelo Guiness Book como a maior livraria do Brasil. Quero expressar aqui meu pesar aos familiares e amigos de Tarcísio, nesse momento de dor".
Tarcísio será velado nesta terça-feira (26), entre 11h e 15h, no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, no Grande Recife. Em seguida, o corpo será cremado.
Trajetória
Nascido no Rio Grande do Norte, mas criado no Recife, Tarcísio Pereira estudou, em sua juventude, no Ginásio Pernambucano, o mais antigo colégio do país em atividade. Anos depois, cursou Jornalismo e História na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), em momentos distintos, mas não concluiu nenhuma das graduações.
Trabalhou na Livraria Imperatriz em 1960, onde arrecadou conhecimento, e em 1970 abriu seu próprio polo de livros, a Livro 7. Sinônimo de fomento na cena cultural local, a livraria fez história, mas fechou no ano 2000, quando completou seus 30 anos de funcionamento.
Atualmente, Tarcísio atuava como Presidente do Conselho Editorial e era Superintendente de Marketing na Companhia Editora de Pernambuco (Cepe). Ele também era proprietário da Editora Tarcísio Pereira, criada em 2012.
Livro 7
A Livro 7, criada por Tarcísio, foi responsável por estabelecer um ponto de encontro cultural na cidade do Recife. Localizada na área Central do Recife de 1970 a 2000, o pequeno espaço, que inicialmente era de 20m², se tornou um grande marco para os pernambucanos, figurando por cinco anos seguidos como "Maior livraria do Brasil" no Guinness Book, graças a seus 1.200 m² finais e um acervo de 60 mil livros. Apesar disso, a livraria representou muito além de seu tamanho físico, e nasceu para inovar o ofício e propiciar aos leitores recifenses a magia de encontros, seminários, lançamentos e festas em torno da literatura, recebendo nomes como Ariano Suassuna, Osman Lins, Gilberto Freyre, João Cabral de Melo Neto e tantos outros.
A livraria funcionava num esquema de espaço colaborativo, semelhante ao que observamos hoje, onde os leitores podem passear entre os livros, folheá-los e curtir o ambiente. Muito mais que um espaço de compra de exemplares, a Livro 7 dispunha, em seu interior, de lojas de plantas, artesanato nordestino, discos, e até uma cervejaria e um teatro.
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"A história da Livro 7 tem várias fases. A primeira durou dois anos, quando a livraria ficava localizada em uma galeria, era pequena, tinha uns 20m². Eu esperava as outras lojas fecharem de noite para usar o corredor para fazer os eventos. Tivemos exibição de filmes de Super-8 de Celso Marconi, Jomard Muniz de Britto, Fernando Spencer. Em 72, aluguei a loja ao lado e ampliei então o espaço com uma porte entre as duas até que, em 74, vi que um casarão da Sete de Setembro estava para alugar. Era muito grande, tinha 10 salas e sabia que seria demais só para os livros. Então subloquei para alguns para alguns amigos", revelou Tarcísio em entrevista ao Jornal do Commercio em julho do ano passado, quando a Livro 7 completaria 50 anos.