A mente arguta e questionadora de Paulo Bruscky fez com que o artista pernambucano sempre se colocasse em permanente estado de criação. Sua produção é intensa e robusta, sinal da dedicação ao ofício que o posiciona entre os artistas mais instigantes e influentes do Brasil desde a década de 1960. Em meio ao caos iniciado em 2020 com a pandemia da covid-19, foi no fazer artístico que ele se debruçou para refletir sobre a sociedade e seu tempo, processo que resultou em várias obras influenciadas pela crise sanitária e a situação política do País. Alguns desses trabalhos inéditos compõem a exposição A Virulência da Arte, que é aberta dia 28 de janeiro, na Amparo 60, dentro do projeto Mirada, uma parceria com a SpotArt.
Bruscky estava em Paris, em março do ano passado, para visitar a neta recém-nascida, quando a pandemia eclodiu na Europa e no Brasil. Como sempre viaja com seu "ateliê portátil", uma mala com várias ferramentas que pode utilizar em seu trabalho, não deixou de produzir e, na capital francesa, começou a experimentar com a colagem em processo digital.
De volta ao Brasil e em isolamento social, o artista deu continuidade ao processo, adicionando mais camadas manuais. Esses trabalhos estão entre as obras selecionadas por Mariana Oliveira, curadora da mostra, junto com ele e elucidam um pouco de sua vasta produção ao longo do último ano.
Além das colagens, A Virulência da Arte exibe o que o artista define como "Arte Classificada" — intervenções em páginas de jornais impressos e uma serigrafia produzida especialmente para a mostra, que apresenta uma bandeira do Brasil rasgada com a frase "O que nos espera?".
"Refleti muito sobre as questões [ligadas à pandemia] e meu trabalho passou a refletir isso. Analiso tudo o que eu faço e não tenho pena da minha obra: mexo, rasgo, nunca está acabado. Se a vida é efêmera, por que meu trabalho não seria? E a pandemia trouxe esse lado, que é o de as pessoas pensarem sobre a vida e o outro", explica Bruscky.
A exposição é composta ainda por uma performance inédita, realizada neste mês de janeiro na galeria e documentada em vídeo que será disponibilizado nas redes sociais. Nela, o artista questiona mais uma vez o papel da arte. Para a curadora, as obras refletem o caráter político e reflexivo do trabalho de Paulo Bruscky, carregando significados múltiplos sobre a atualidade.
"A arte supera tudo, em todos os momentos. No dia em que eu souber [para o que serve a arte], eu paro. Ela não tem função específica. É a reflexão. Só você fazer a pessoa parar e pensar já é alguma coisa", reflete. "O que faço é para ser superado. Tem uma moçada aí genial e a arte vai incorporando tudo o que surge. Acho importante você deixar o testemunho da sua época e ser, no mínimo, contemporâneo de si próprio, deixar documentado o que foi a sua época e o que você vivenciou."
A exposição, que pode ser vista nas redes sociais da galeria e no site da SpotArt, fica em cartaz na Amparo 60 (Rua Artur Muniz, 82, Boa Viagem) até o dia 26 de fevereiro. A visitação presencial, mediante agendamento, pode ser feita através do telefone 3033-6060.
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