Consciência Negra: escritor troca diplomacia no Caribe pelos livros no Brasil e mostra que negros querem falar além da dor
Pierre Richard veio para o Brasil pela primeira vez em 2014 e se apaixonou pelo Recife
"Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes", canta Emicida na música "AmarElo". Em apenas um verso, o rapper reivindica que o negro pode falar além da dor. Quando chegou ao Brasil, em 2014, o escritor caribenho Pierre Richard Gerisma queria falar sobre o amor. Ele trocou a diplomacia no seu país de origem, o Haiti, para realizar o sonho da escrita em terras brasileiras. Encontrou no Recife o seu caminho e, agora, lança seu primeiro livro "O Amor pelo qual me Apaixonei" - Attente d’un Amoureux sendo o título original.
A poesia chegou na sua vida, quando ainda se dedicava à medicina, no seu país natal. "Antes mesmo de me empenhar na diplomacia, ou sequer sonhar em vir para o Brasil, a medicina era o que me movia. Na Université Quisqueya, reencontrei a mulher que desde o primeiro olhar, cativava um sentimento de paixão em mim. A mulher que fez, desde garoto, que minha alma transbordasse poesia. Esse reencontro me mostrou o caminho para libertar o sentimento que estava preso dentro de mim", conta Pierre.
Quando perguntado sobre o processo de escrita do livro, Pierre Richard não detalha sobre a quem se refere às letras - seja para manter a identidade ou se há mais de uma musa. "O livro 'O Amor pelo qual me Apaixonei' (Attente d’un Amoureux no original) foi inspirado num conjunto de acontecimentos da minha vida, indo muito além do amor vivido. Neste livro, desembrulho minha própria existência, pois a minha musa é uma deusa que eu carrego em mim e que se manifesta como bem quer no olhar e no sorriso da mulher que me acolhe", afirma.
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Ele relata que o Brasil teve um papel estratégico para a finalização do livro. "O processo de escrita do livro, num primeiro momento, foi como uma terapia de transcrever no papel o fluxo dessa paixão que me guiava, e por outro lado, provar a minha sinceridade. Escrever era o único refúgio onde eu me sentia seguro diante de tantas pressões da esfera da musa. Entretanto, com a minha primeira visita ao país, o Brasil teve um papel muito promissor na finalização da obra", conta.
"Sobretudo, depois do fim da minha visita em Pernambuco em 2014, consegui escrever o texto Chuva de Esperança (Pluie d'Espoir no francês) que completou de maneira milagrosa o livro antes de sua primeira publicação no Haiti em 2015. Ao todo, passei mais de 7 anos para finalmente conseguir realizar escrevendo este livro que mudou a minha própria vida", complementou o escritor.
Público atingido
Sobre como quer atingir o público, ele fala abertamente sobre os seus sentimentos, explicando que busca "uma busca consigo mesmo". "Não há nada mal em estar apaixonado, mas no meio da paixão, temos que saber que o dono do sentimento é nós-mesmo. O objetivo deste livro é de atingir o leitor, não de furtividade, mas pelo contrário, de algo que nós buscamos todos os dias, estar em paz consigo através de seus próprios sentimentos. Para isto, é preciso lidar com os fatores externos tais como raiva, decepção, carinho, afeto, desilusão e indiferença para se manter firme e permanecer feliz independente de suas ilusões", complementou.