MEMÓRIA DO CARNAVAL

Sem carnaval, Cariri Olindense abre sede para expor artes e registros históricos

Mostra "100 anos, mas não 100 carnavais" reúne ilustrações temáticas, camisetas, fotografias e documentos da troça carnavalesca mista mais antiga de Pernambuco

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Emannuel Bento

Publicado em 15/02/2022 às 23:03 | Atualizado em 17/02/2022 às 21:53
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O percurso de caminhada até a sede da Troça Carnavalesca Mista Cariri Olindense, localizada no Largo de Guadalupe, Sítio Histórico de Olinda, já pode ser o começo de uma experiência para relembrar carnavais que parecem cada vez mais distantes. No segundo ano sem a grande festa, a troça mista mais antiga de Pernambuco completa 101 anos abrindo as portas do seu quartel general na exposição "100 anos, mas não 100 carnavais", coordenada por Hilton Santana, que assina a curadoria ao lado de Vitória Lima e André Canuto.

Inaugurada para convidados na noite da terça-feira (15), a mostra pode ser visitada pelo público geral a partir desta quinta-feira (17), nas quintas e sextas, das 15h às 20h, e nos sábados e domingos, das 10h às 16h. A entrada é gratuita, com doação de 1kg de alimento não perecível. A visitação segue os protocolos sanitários vigentes no Estado. A visitação pode ser feita até 6 de março.

O projeto reúne todas as obras criadas em 2020, ápice da pandemia, para o concurso da arte da camisa de 100 anos do Cariri, vencido pelo artista visual Berg Gama. Já dentro do espaço, as memórias da folia são aprofundadas por algumas fotografias antigas e recentes, camisetas de carnavais saudosos da troça, recortes de jornais, ficha de proposta para sócio e atas de reuniões das décadas de 1960 e 1970 que registram causos bem peculiares, como um diretor que chegou bêbado na reunião ou um membro que venceu uma eleição para presidente e não quis assumir.

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EXPOSIÇÃO "100 anos, mas não 100 carnavais" celebra os 101 anos da Troça Carnavalesca Mista Cariri Olindense - Guga Matos/JC Imagem
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EXPOSIÇÃO "100 anos, mas não 100 carnavais" celebra os 101 anos da Troça Carnavalesca Mista Cariri Olindense - Guga Matos/JC Imagem
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EXPOSIÇÃO "100 anos, mas não 100 carnavais" celebra os 101 anos da Troça Carnavalesca Mista Cariri Olindense - Guga Matos/JC Imagem
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EXPOSIÇÃO "100 anos, mas não 100 carnavais" celebra os 101 anos da Troça Carnavalesca Mista Cariri Olindense - Guga Matos/JC Imagem

Patrimônio Vivo de Pernambuco, o Cariri tem uma história de criação bastante popular no carnaval do estado. O fundador Augusto Canuto de Santana viu um homem de longas barbas brancas no Mercado de São José, mercado público do Recife que é o mais antigo do Brasil. Ele vestia roupas de couro, chapéu de cangaceiro e segurava um cajado. Ao ser questionado, dizia se chamar "Cariri".

A energia da troça atravessou o século com a tradição de abrir e fechar o carnaval de Olinda, ainda carregando místicas como a "hora mágica", às 4h, a chave e a própria figura do velho. Na exposição, esses símbolos podem ser acessados mesmo sem a folia de Momo.

"A ideia da mostra veio no momento em que vimos que não teríamos o carnaval. Pensamos em uma forma de nos conectar com o folião através da arte e também mostrar o percurso desses 100 anos, com cada ciclo de diretores que passaram por essa agremiação", diz Hilton Santana, curador e responsável pela comunicação da troça.

"O Cariri é folia de rua, feita para a rua. Essa história de evento fechado, com limitação de pessoas, foi um grande desafio para a gente. Precisamos nos reinventar, mas acabamos até aprendendo e gostamos. Pode ser que venham mais coisas aí em breve. A exposição é um pontapé", antecipa Hilton.

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EXPOSIÇÃO 100 Anos, mas não 100 Carnavais celebra os 101 anos da troça carnavalesca que abre e fecha a folia nas ladeiras - GUGA MATOS/JC IMAGEM
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EXPOSIÇÃO "100 anos, mas não 100 carnavais" celebra os 101 anos da Troça Carnavalesca Mista Cariri Olindense - Guga Matos/JC Imagem
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SEDE Visitação à exposição fica aberta ao público até o dia 6 de março - GUGA MATOS/JC IMAGEM

"100 anos, mas não 100 carnavais" foi inspirada pela realização do concurso para a camisa de 100 anos, realizado no ápice da pandemia, em 2020. A troça abriu uma seleção e recebeu 23 produções, selecionando as artes de Antônio Paes, Hallina Beltrão, André Simões, Java Araújo e Vitor Valença e Berg Gama para uma votação popular, realizada nas redes sociais.

"Logo no começo da inauguração dessa exposição, recebi de presente uma pintura do velho Cariri. Imagina quantas mais artes podem surgir dessa exposição? Quantos mais artistas podem se sentir inspirados por esse projeto?", estimula o organizador. "Todas as peças que participaram do concurso estão sendo vendidas, exceto uma de Aluízio Câmara, então a ideia é que novos artistas saibam que existem espaço aqui dentro. Acho que essa experiência vai ser muito interessante."

O atual presidente, Ivson Santana, neto do fundador Augusto Santana, não deixa de lamentar mais um ano sem cortejos pelas ladeiras. “De início até pensamos em fazer uma festa com limitação de pessoas, mas a saúde precisa ficar em primeiro lugar para que em 2023 tenhamos carnaval. É bastante difícil fazer um trabalho nesse contexto, mas a gente faz da maneira que podemos. Temos vários quadros para serem vendidos. Espero que o público apareça e venha contemplar essa exposição, que está muito bem selecionada."

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CHAVE Ivson Santana, atual presidente do Cariri e neto do fundador, com um dos símbolos do Carnaval de Olinda - GUGA MATOS/JC IMAGEM
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ARTES Gilberto Freyre Neto, secretário de Cultura do Estado, conferiu os trabalhos dos finalistas na inauguração - GUGA MATOS/JC IMAGEM

Autoridades como a vice-governadora Luciana Santos e a presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (ADEPE), Márcia Souto, visitaram a inauguração. "O Cariri entrega a chave da cidade para os foliões, com toda uma dinâmica carnavalesca que está representada nessa exposição. É um esforço fazer com que os foliões tenham acesso à história. Parabenizo a iniciativa, pois não existem carnaval de Olinda sem o Cariri", disse Gilberto Freyre Neto, secretário de cultura do Governo do Estado de Pernambuco.

"Precisamos ter essa proximidade e entender essa tradição, que apresenta um dos pilares da nossa identidade. O Cariri transmite uma energia para o folião que vai ficar mais um ano sem brincar. O importante é saber que no futuro a troça vai resguardar essa festa da melhor maneira possível", finaliza o gestor.

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