Exposição de Bruno Faria traz a paisagem como protagonista na Cecí Galeria; saiba como visitar

Há diversas formas de introduzir as paisagens das artes. Seja retratando, refletindo ou intervindo, movimentos artísticos politizam e trazem um olhar crítico diferentes aos espaços urbanos. Nas décadas de 1960 e 1970, era comum que essas paisagens aparecessem em flâmulas com a representação de pontos turísticos e monumentos históricos das grandes cidades. Décadas depois, essas flâmulas se tornaram elementos raros, restritas a uma memória construída por colecionadores e pesquisadores. Como uma forma de refletir sobre essas peças, o artista pernambucano Bruno Faria inaugura a mostra individual "Paisagens" na Cecí Galeria, no bairro do Parnamirim, na noite desta quinta-feira (17).

A exposição, que tem curadoria do filósofo, doutor e professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Filipe Campello, traz obras que fazem parte do projeto "Lembranças de Paisagem". A série abriu a temporada de projetos no Paço das Artes, em São Paulo (SP), no ano passado. A mostra será inaugurada com um coquetel e ficará em cartaz até o próximo dia 2 de março. 

Fruto do trabalho "Lembranças de Paisagem", a pesquisa sobre flâmulas vem sendo desenvolvida por Bruno desde 2016, paralelemente a outros projetos realizados pelo artista. Vencedor de prêmios nacionais e internacionais na área, Faria está em cartaz no Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (MUBE), em São Paulo, e partir do dia 26 de fevereiro entrará em cartaz em uma mostra coletiva na Pinacoteca de São Paulo. Por sua vez, o eixo curatorial parte do seu trabalho "Introdução à História da Arte Brasileira, 1960/90", que pertence ao acervo da instituição.

O trabalho em exposição na Capital Pernambucana parte de uma imersão de Bruno Faria na pesquisa sobre as bandeirinhas nas décadas de 1960 e 1970, que se tornaram artigos raros de serem encontrados. "São objetos muito raros de serem encontrados. Eu comecei a comprar em mercados de segunda mão, bancas e feirinhas, como a Feirinha do Masp, em São Paulo. Eu faço uma intervenção com pintura nessas flâmulas, apagando todos os textos existentes - e deixando apenas a imagem da paisagem correspondente à sua cidade", explica Bruno Faria sobre o processo.

Na exposição, Bruno introduz o público a diversos olhares sobre a cidade a partir dessas flâmulas. Elas eram feitas por designers anônimos, com pontos de vistas distintos, criando várias possibilidades de imaginários para os espaços urbanos. "Para a exposição, trouxe flâmulas do Rio de Janeiro e o público poderá conhecer diferentes pontos de vista sobre ela. São 5 bandeirinhas do Rio com distintos pontos de vista: Copacabana, Recreio dos Bandeirantes, Corcovado, Vista Chinesa com a Pedra da Gávea e outra do Porto do Rio. Eu tenho uma espécie de curadoria, que cria uma narrativa sobre essa cidade", enfatiza o artista.

Mais do que representações ou olhares sobre paisagens urbanas, as flâmulas também trazer visões críticas e políticas sobre as transformações que as cidades estão passando. Esse ponto entra totalmente em diálogo com a obra de Bruno Faria, que traz essas reflexões sobre o passado, presente e o direito ao espaço urbano. Mestre em Poéticas Visuais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), seus trabalhos investigam contextos distintos e são colocados em diferentes artes, como a fotografia, instalação, intervenção, escultura, publicação ou outras mídias.

Um desses exemplos foi o "Letreiro Objetivo" - uma intervenção neon que ocupou o topo de um edifício modernista situado na Avenida Dantas Barreto -, em 2014. Entre um dos objetivos, a obra jogava luz sobre o descaso com a arquitetura modernista no Recife.

Em outro trabalho, o "Veneza Brasileira", de 2004, o artista também mergulhou em uma performance que criticava as transformações que o homem provoca na natureza a partir da especulação imobiliária. "O meu trabalho parte de um olhar atento sobre a cidade, sobre o mundo que habito. Muitos dos meus trabalhos falam da arquitetura e da memória da cidade. Muitas bandeirinhas que estão sendo retratadas mostram esse processo de urbanização que a gente sofre na cidade, falam de um apagamento que o homem faz na cidade. Por isso, acredito que elas tenham um olhar crítico e político sobre essas paisagens", conta Bruno Faria.

Curadoria

Curador da mostra, Filipe Campello, frisa a ressignificação que Faria traz das peças colecionadas. "Iniciada em 2016, a série ‘Lembranças de Paisagem’ se consolida como uma das mais expressivas da trajetória artística de Bruno Faria. Ele parte então de um recorte colecionista, mas invertendo a relação unilateral do colecionador com seu objeto, ressignificando-o - uma espécie de ready-mades que recebem a intervenção da tinta", aponta o filósofo.

"Nessa série, o timbre contemporâneo vem através do encontro com um tema clássico da história da arte, redimensionando perspectivas estéticas sobre o passado. Vão-se os textos e ficam as paisagens – as impressas e as novas. É assim que Bruno abre janelas: miradouros que permitem ampliar a esfera do visível, abrindo nosso olhar para lembranças que se fazem presentes", complementa Filipe Campello sobre o material exposto.

A série inaugura a programação da Cecí Galeria em 2022. "O convite a Bruno Faria para expor na galeria surgiu de um interesse que tive pela série ‘Lembranças de Paisagem’, que foi como conheci a sua obra. Essa exposição é a segunda de um projeto da galeria na qual convidamos artistas para exporem na Cecí. A primeira contou com a participação de Márcio Almeida e Cristina Machado. Durante o ano outros artistas também serão convidados para participar", expõe a galerista Cecilia Ribeiro.