TEATRO

'Os artistas foram colocados num lugar de aproveitadores', diz Maria Ribeiro, com peça no Recife

Maria Ribeiro traz peça de Fernanda Young ao Recife, no Teatro de Santa Isabel, nestes sábado (19) e domingo (20)

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Bruno Vinicius

Publicado em 18/03/2022 às 11:52 | Atualizado em 18/03/2022 às 12:50
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Fernanda Young sempre foi amiga de Maria Ribeiro. Primeiro, sem nem mesmo a autora saber. Amizade surgiu a partir da identificação de pautas que Fernanda levantava em debates e personagens de ficção. Mas, além da inspiração, essa relação das duas realmente veio se entrelaçar a partir da montagem da peça "Pós-F", inspirada no livro homônimo da autora que foi vencedor do Prêmio Jabuti 2019, na categoria "Crônica". Antes de receber o prêmio e realizar o espetáculo, Fernanda Young faleceu naquele mesmo ano, mas o seu legado e filosofia permaneceram. Com direção de Mika Lins, "Pós-F" foi apresentada de maneira virtual, com plateia vazia, e agora chega ao Recife no palco do Teatro Santa de Isabel, nestes sábado (19) e domingo (20).

Em seu primeiro monólogo, Maria Ribeiro interpreta Fernanda Young na sua autobiografia, apontando para o público do teatro as visões da autora do feminino e masculino. Mas, sobretudo, sobre o feminismo. É Justamente este tema que foi a primeira conexão entre a atriz e a dramaturga. "Fernanda sempre foi muito importante para mim. Ela foi daquela primeira geração do Saia Justa, foi quando o programa fez sentido para mim. Ninguém falava sobre feminismo naquela época, e Fernanda sempre foi muito autêntica e corajosa. Ela é a com quem mais me identificava e mais aprendia. Ela foi minha amiga durante muito tempo sem ela mesma saber", conta Maria Ribeiro, em entrevista ao JC.

O contato realmente aconteceu com o livro "Pós-F, para além do masculino e do feminino", que inspirou Maria a entrar em contato com Young para realizar a peça. "Quando eu li o 'Pós-F', fiquei apaixonada pelo texto e consegui o WhatsApp dela. Falei para ela que queria montar um monólogo, que eu achava o texto incrível e achava corajoso. Que era incrível que uma mulher no meio do caminho, com 47 anos, fazer uma autobiografia que era o 'Pós-F', falando de feminismo de uma maneira muito franca e corajosa, sem tanta preocupação com o que pegava bem, num momento que estava tudo bacana e muito higiênico. E aí ela ficou muito feliz e empolgada em fazer parte do projeto. Primeiro ela quis dirigir e depois quis atuar junto comigo. E ficamos amigas por causa do projeto", revela Ribeiro.

Quando estavam prestes a ensaiar o projeto, Fernanda Young faleceu em agosto de 2019. Um pouco depois, ganhou o Jabuti póstumo. O espetáculo estreou em setembro de 2020, 12 de setembro de 2020, marcando a retomada das atividades culturais do Teatro Porto Seguro, reunindo mais de 8 mil pessoas em apenas oito apresentações frente a um palco virtual. A peça tem direção de Mika Lins e iluminação de Caetano Vilela, trazendo uma linguagem contemporânea e poética para o palco.

"Ela foi feita para o online, mas a essência era a mesma do teatro, que era contar histórias e se comunicar. A gente fez uma adaptação, eu, a Mika Lins e o Caetano Vilela - que faz a iluminação. Foi num teatro vazio, foi muito doido, porque eu nunca tinha feito um monólogo e ainda mais num teatro vazio. Foi muito forte, fomos vistos por mais de 10 mil pessoas na época. Nunca pensei que o teatro me desse um retorno tão bonito", aponta Maria. 

Espetáculo

A peça chega em um momento oportuno para o feminismo, segundo Maria Ribeiro, e aponta visões muito corajosas para o movimento. "Eu acho que a gente está vivendo um momento importantíssimo para o feminismo, a quarta onda está muito forte e espero que seja definitiva. Temos muito caminho ainda, mas antigamente tínhamos medo em dizer em que éramos feministas, falavam que o movimento era contra os homens, mas só queremos igualdade. Então a peça vem dizer que somos feministas, mas também somos machistas, porque somos frutos do nosso tempo. A gente está sujeito a contradições. Eu acho que a Fernanda fazia isso lindamente e não só falar 'ah, eu sou bacana, não tenho'. Não, a gente ainda erra, porque podemos ser machistas na criação de nossos filhos e em outras situações", conta Maria Ribeiro.

É nessa possibilidade do erro e do contraditório que a peça chega ao Recife, levantando questões sobre o que é ser mulher e o homem, em contato com o público. Maria "Está sendo muito emocionante. Os artistas estavam com saudade do público e o público com saudade dos artistas. Está sendo muito bonito voltar a ver teatro, ver show e ir ao cinema. Nós fomos muito maltratados, não só pela pandemia, mas também pelo governo. Os artistas estão sendo colocados num lugar de aproveitadores de incentivos fiscais. É um estigma que colou na gente através do Bolsonaro de uma forma muito triste. Está sendo muito importante ter essa conexão com o público e demonstrar que a arte é um item essencial", afirma a atriz.

A montagem acontece em duas sessões neste fim de semana, no Teatro de Santa Isabel. Um no sábado, às 20h, e outra no domingo, às 18h. 

Serviço: 


Pós-F

Dias 19 e 20 de março de 2022

Teatro Santa Isabel (400 lugares)

Praça da República, 233 – Recife / PE

Telefone: (81) 3355-3323

 Vendas: https://bileto.sympla.com.br/event/71757/d/128558

 SÁBADO, ÀS 20h, E DOMINGO, ÀS 18h

Ingressos: R$ 80

 Duração: 50 minutos

Recomendação: 14 anos 

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