Conheça Omniboy, artista mascarado que tem criado um brega-funk 'cyberpunk'
Projeto do produtor musical e DJ Guilherme Benevides mistura música eletrônica do gueto do Recife com vertentes eletrônicas globais: 'Queria trazer um personagem da cultura de Pernambuco dos tempos atuais'
Não é de hoje que personagens misteriosos despertam um certo fascínio na cultura pop. Omniboy, projeto do produtor musical e DJ recifense Guilherme Benevides, usa desse potencial para dar vida a uma figura vinda de um Recife "cyberpunk" - termo da ficção científica que cria realidades com "alta tecnologia e baixa qualidade de vida", premissa que soa bastante atual para a capital.
Com essa estética de futuro, Omniboy explora diversas sonoridades eletrônicas, sobretudo o brega-funk, ritmo eletrônico que nasceu nas periferias da cidade. A junção desse eletro do gueto recifense com trap, pop e EDM das pistas internacionais (a exemplo de vertentes como future-house e future-rave) é a marca do projeto.
A assimilação do público com a dupla Daft Punk ou com os DJs Marshmello ou Deadmau5 é quase automática. Mas o artista ressalta que não é preciso ir muito longe para perceber que as máscaras fazem parte da cultura pernambucana. "Na minha infância, ia para o Carnaval e via os papangus. A nossa cultura de máscaras é muito forte", diz Guilherme Benevides, 36.
"Queria trazer um personagem da cultura de Pernambuco dos tempos atuais. A máscara dá liberdade de atuação, como se todo um universo fosse criado quando você está ali. Ela causa uma certa estranheza, muda o clima do ambiente", continua. O brega-funk, inclusive, também tem uma figura mascarada: MC Anônimo.
Projeto audiovisual traz 'Recife cyberpunk'
Criado em 2018, o projeto Omniboy conta com três singles, sempre convidando um rapper/cantor. "Endorfina" (2020), com Werih, mescla R&B, trap e brega-funk. "Quem é Você" se aproxima mais da EDM. Já "Bumbum Malícia", lançamento mais recente, traz brega-funk com pegada pop em parceria com um ícone do ritmo: Sheldon.
Exceto pelo último lançamento, esses singles ganharam clipes que dão continuidade a uma mesma história. O personagem aparece num Recife sombrio, violento, futurístico e, de certa forma, sedutor. Seu canal no YouTube também conta com "lives edits" e remixes de vários sucessos.
Guilherme Benevides começou a experimentar a carreira musical ainda pré-adolescente, passando por bandas de diversos gêneros, como swingueira e pagode. "Em 2018, dei uma saturada no trabalho em grupo e fazer um projeto solo. Já flertava muito com a música eletrônica, além de ter sido produtor das bandas que participei", explica o artista.
Ao vivo, Omniboy é um DJ que toca instrumentos. Ele tira de cena a CDJ (ou "picapes"), que é um símbolo da área, o que causa até certo estranhamento. "Toco instrumentos orgânicos, como guitarra, cavaquinho e bateria, além de dispositivos eletrônicos como a bateria eletrônica, sons de controle de videogame. É algo diferente dos DJs tradicionais. Toco com esse sistema que criei".
Parceria com Sheldon, pioneiro do brega-funk
Guilherme chegou a enviar a base de "Bumbum Malícia", lançamento mais recente, para Pablo Bispo, produtor da cantora Gloria Groove. "A ideia era trazer um brega-funk mais pop, para conseguir atrair atenção de artistas maiores para a cena daqui", diz. Pela incompatibilidade com a sonoridade desejada pela drag, que já estava focada no álbum "Lady Leste", ele passou a cogitar outros nomes para fazer o lançamento.
"Passei a pensar num nome que tivesse uma representatividade grande dentro do brega-funk. E aí pensei no Sheldon, que estava bem do meu lado", explica Guilherme, que trabalhou na produção de um DVD no cantor em 2019. Hoje eles atuam na mesma produtora.
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De início, Sheldon relutou, pois já não lança mais brega-funk há anos. Só aceitou após ouvir a base da faixa. Omniboy, então, conseguiu fazê-lo gravar um brega-funk novamente. "Esse é um ritmo fascinante porque entre os produtores musicais de Pernambuco, da nova geração, tudo se transforma em brega-funk. Qualquer gênero podemos dar um jeito para que vire um brega-funk. Isso está sendo muito importante nas redes sociais, principalmente no TikTok. Às vezes um remix de brega-funk faz mais sucesso que a música original", finaliza.