Nação Zumbi dará pausa indeterminada em meio aos 30 anos do manguebeat
Banda sairá dos palcos em meio às celebrações de 30 anos do manifesto "Caranguejos com Cérebro"
A paralisação das atividades da Nação Zumbi por tempo indeterminado, conforme noticiado ontem, com exclusividade, pelo Social1, chegou em meio às comemorações dos 30 anos do manguebeat.
O ano de 2022 marca o aniversário de 30 anos do manifesto "Caranguejos com Cérebro", escrito por Fred Zero Quatro, da Mundo Livre S/A, e levado ao jornais como release de imprensa em julho de 1992. O texto trouxe pela primeira vez termos como "mangueboy" e "manguetown", sendo um marco inicial do movimento que tirou o Recife do marasmo cultural nos anos 1990.
Leia mais: Trinta anos do manguebeat é comemorado com exposição, livro e documentário
Até o momento, a Nação Zumbi não havia anunciado nenhum projeto em alusão à efeméride. Por enquanto, convidam o público para o show derradeiro no Camarote Parador, no Bairro do Recife, no próximo dia 16.
O baixista Alexandre Dengue falou, em entrevista à repórter Samantha Oliveira, do Social1, que há um álbum para sair. No entanto, a perder devista: “Posso garantir que antes do Carnaval de 2023 esse disco não vai estar pronto”.
A decisão por pausar a banda, explicou Dengue, é anterior ao início da pandemia. O último show no Carnaval do Recife, em 2020, quase foi o último. "São muitas questões envolvidas. A gente quer fazer outras coisas (...). A Nação deixou de ser a nossa prioridade", justificou o músico.
"Não tem esse alarde todo"
Em meio à repercussão da pausa por tempo indeterminado, o vocalista Jorge Du Peixe afirmou ao JC que "não tem esse alarde todo" na decisão do grupo. "Dengue já falou, não tem mais nem menos. Não tem mais o que falar", completou ele, que em setembro de 2021 lançou o álbum solo Baião Granfino, em que regravou músicas de Luiz Gonzaga.
A fala de Du Peixe reforça um comportamento comum do grupo nos últimos anos — entre a discrição e a abstenção de falar — e também reitera que a decisão da banda não descarta um retorno no futuro. Com formação atual ou não. “Estou cansado de turnês, e pode ser que acabe para mim. Isso é muito volátil. Depende do que a gente quer como grupo”, disse Dengue.
Aos olhos do público mais atento, a pausa pode não representar bem uma surpresa. Nos últimos anos, os lançamentos da banda se tornaram cada vez mais espaçados. Na última década, eles lançaram apenas dois álbuns de inéditas: o homônimo de 2014 — que emplacou sucessos como "Cicatriz", "A Melhor Hora da Praia", gravada com Marisa Monte, e "Um Sonho" — e por fim o "Radiola NZ Vol. 1", de 2017.
O grupo também teve baixas significativas nos últimos anos: Pupillo deixou a formação em 2019 para se dedicar totalmente ao seu trabalho como produtor musical, tendo já trabalhado com nomes grandes da música brasileira, como Gal Costa e Erasmo Carlos.
Um pouco antes, em 2015, a saída de Gilmar Bola Oito causou bastante desconforto na banda. Na época, o percussionista, que foi um dos fundadores, procurou o JC para denunciar que recebia um tratamento diferente nos bastidores.
Episódio do Teatro Guararapes
Turismo e da Empetur, rebatizou o maior teatro de Pernambuco com o nome Teatro Guararapes Chico Science.
"Troca de nome do Teatro Guararapes para Chico Science sem a presença de ninguém da banda e sem a presença de Tainá (filha de Chico). Não dá, né?! Sem legitimidade”, lê-se em publicação na conta oficial da banda. Reclamou ainda que Toca Ogan e Dengue moram no Recife e são fundadores da banda — e, portanto, poderiam ter ido ao evento."Acaso eles não seriam dignos? Fica no ar…".
"Querem nos ver felizes? Refaçam o Circo, tragam Jorge de SP. Chamem Toca e Dengue. Chamem Tainá. E coloquem desta vez pessoas importantes que mantêm vivo o legado e que eram amigos verdadeiros de Chico”, lê-se em outro post. Procurados pela reportagem à época, membros da banda preferiram não se manifestar sobre o tema pela imprensa.
Comemorações
Apesar da saída da Nação Zumbi dos palcos, os 30 anos do manguebeat não vão passar em branco, pois vários eventos e lançamentos coincidiram com o aniversário.
A exposição "Mangue 30", com curadoria do produtor cultural Paulo André Moraes Pires, deverá ser inaugurada no Museu Cais do Sertão em maio. No encerramento da mostra, Pires ainda lançará pela Cepe Editora o livro "Memórias de um Motorista de Turnês", trazendo, entre várias lembranças, sua experiência como empresário da Chico Science e Nação Zumbi nos anos 1990.
Ricardo Mello, secretário de cultura do Recife, pretende fazer uma agenda no Pátio de São Pedro. Também existem conversas com o Itaú Cultural, que recentemente fez a "Ocupação Chico Science", para compartilhamento do acervo.
O documentário "Manguebit", do cineasta Jura Capela, foi exibido pela primeira vez no Recife em sessão no Cinema do Porto, no Bairro do Recife, em 31 de março. O longa reúne acervos e entrevistas que remontam à história da criação do movimento.