ELEILÕES 2022

Apoio do brega é disputado por candidatos ao Governo de Pernambuco

Repetindo fenômeno das eleições municipais de 2020, políticos fazem aproximação com artistas e empresários do brega; objetivo é ganhar maior alcance entre jovens das periferias

Emannuel Bento
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Emannuel Bento
Publicado em 30/08/2022 às 10:52 | Atualizado em 30/08/2022 às 12:24
MARCUS MENDES E INSTAGRAM/REPRODUÇÃO
ELEIÇÕES Danilo Cabral (PSB) com Lekinho Campos e MC Elvis; Marília Arraes com Tróia, Dadá Boladão, Tonza Batedeira, entre outros - FOTO: MARCUS MENDES E INSTAGRAM/REPRODUÇÃO
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Enquanto o Brasil discute o apoio de cantores e influenciadores aos presidenciáveis de 2022, artistas da música brega marcam presença na disputa ao Governo de Pernambuco. Esse é o gênero musical com maior visibilidade na era digital no Estado.

A presença do brega em campanhas políticas já havia marcado a disputa para a Prefeitura do Recife, em 2020. O PSB, na figura de João Campos, foi quem conseguiu fazer uma maior aproximação com artistas, páginas, influenciadores e empresários dessa cena musical como forma de conquistar os jovens das periferias.

Marília Arraes, que disputava a gestão da capital com o primo, também recebeu apoio de bregueiros, inserindo-os em peças de campanha nas redes sociais e jingles com as batidas do brega-funk, vertente eletrônica do ritmo.

As batidas do "passinho", aliás, vão além dos espectros políticos e estão presentes também nas atuais campanhas de Raquel Lyra (PSDB) e Miguel Coelho (União Brasil), candidatos mais próximos da direita.

No período de pré-campanha, Raquel visitou o Alto José do Pinho, periferia da Zona Norte do Recife, e chegou a ser reunir com MCs como Troinha, Maneirinho do Recife, Max e Dread. Miguel também passou a ganhar publicações em páginas de fofocas do brega, como O Amarelinho.

O brega nas eleições de 2022

O fenômeno se repete na atual campanha. Há uma semana, a candidata ao governo estadual pelo Solidariedade vem publicando conteúdos e jingles com nomes como MC Tróia, MC Abalo, As Fadas (grupo de dança), Vytinho NG, entre outros artistas ligados à produtora Brega Inn Funk, uma das mais influentes no mercado do brega no Estado. Os cantores Dadá Boladão e André Viana também marca presença.

As promessas feitas ao brega não ficam apenas na figura do candidato ao executivo. Outros políticos das chapas também vem investindo pesado no ritmo, a exemplo do próprio André de Paula, candidato a Senador na chapa de Arraes.

André chegou a lançar um documentário intitulado "Brega Funk, a voz do movimento" em sua conta do Instagram. As gravações aconteceram durante um mês em vários bairros do Grande Recife. "Eles fazem um trabalho muito bacana, muito importante. E eu teria o maior orgulho de estar no Senado e poder ser a voz do brega funk", ressalta André durante o documentário.

 
 
 
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Uma publicação compartilhada por André de Paula (@andredepaula55)

"O brega-funk é mais do que um movimento cultural. É também uma missão social, para quem vive dele e com ele. Vem tirando jovens da criminalidade, gerando renda, movimentando a economia e ajudando outras pessoas, indiretamente", diz comunicado da assessoria do candidato.

Brega com o PSB

MARCUS MENDES/DIVULGAÇÃO
ELEIÇÕES Encontro da chapa de Danilo Cabral (PSB) com artistas do brega - MARCUS MENDES/DIVULGAÇÃO
MARCUS MENDES/DIVULGAÇÃO
ELEIÇÕES Encontro da chapa de Danilo Cabral (PSB) com artistas do brega - MARCUS MENDES/DIVULGAÇÃO
MARCUS MENDES/DIVULGAÇÃO
ELEIÇÕES Encontro da chapa de Danilo Cabral (PSB) com artistas do brega - MARCUS MENDES/DIVULGAÇÃO
MARCUS MENDES/DIVULGAÇÃO
ELEIÇÕES Encontro da chapa de Danilo Cabral (PSB) com artistas do brega - MARCUS MENDES/DIVULGAÇÃO

Nesta segunda-feira (30), foi a vez de Danilo Cabral comparecer a um encontro com artistas e empresários do brega. O candidato do PSB chegou a colocar no rosto um "Juliet", modelo de óculos bastante popular entre os jovens das periferias.

Toda a chapa do PSB esteve nesse encontro, incluindo a vice Luciana Santos (PCdoB) e a candidata ao senado Teresa Leitão (PT). Além deles, o prefeito do Recife João Campos e o candidato a deputado federal Pedro Campos, ambos do PSB.

O número de artistas com essa chapa é bem mais numeroso, com destaque para Sheldon, MC Elvis, Dany Myler, Os Neiffs e Lekinho Campos. Entre os empresários estão Diego Zika e Thiago Gravações, pioneiro na divulgação do brega no YouTube, gestor da carreira de artistas e responsável pela vinda da distribuidora de música ONErpm ao Recife - a ONErpm Nordeste.

"Vamos valorizar todas as manifestações culturais de Pernambuco, e vocês fazem parte dessas manifestações, sendo um símbolo de Pernambuco", disse Danilo, em discurso. "Quero assumir um compromisso: quando eu for governador, o brega vai fazer parte desse diálogo direto comigo. Vamos abrir espaços, assim como João abriu no Recife. Não tocar só no Recife, tocar no interior, no São João e no Carnaval."

 
 
 
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Uma publicação compartilhada por Joa?o Campos (@joaocampos)

João Campos chegou a fazer uma publicação do recente encontro, prometendo que a realização de uma premiação da música brega, o Brega Awards, no Teatro de Santa Isabel, o mais importante da capital. Já tendo feito edição no Teatro do Parque, a premiação foi idealizada publicitário Eduardo Larcerda, da agência Gera, e por Marcelo Barbosa, o Amarelinho do Babado dos Famosos em parceria com o Brega Bregoso.

O prefeito ainda prometeu colocar brega no palco do Marco Zero no carnaval do próximo ano - em 2020, a cantora Priscila Senna foi atração na noite de abertura. João já havia prometido a entrada do brega nos ciclos festivos do Recife em 2020, assim como a "criação de editais mais inclusivos para contemplar o gênero" - o que, exceto pela Lei Aldir Blanc, não se viu até então.

O brega e o poder público

Hoje visto como "mina de ouro" por políticos, o brega foi escanteado pelo poder público por muito tempo, funcionando como um verdadeiro mercado paralelo de música no Grande Recife.

A primeira discussão formal entre essa cena e políticos ocorreu em 2017, com a aprovação da "Lei do Brega" na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). O projeto foi proposto pelo deputado Edilson Silva (então no PSOL) e aprovado por unanimidade em duas rodadas de votação.

Foto: Reprodução/Facebook
Proposta do deputado Edilson Silva põe o brega no mesmo rol do maracatu, frevo, forró e mangue beat - Foto: Reprodução/Facebook

Com a lei, o gênero passou a ter espaço garantido nas programações de eventos financiados pelo executivo estadual, ao lado de artistas de outras expressões como o frevo, maracatu, coco, ciranda e cavalo marinho. Até então, esse espaço era negado.

Desde 2020, no entanto, há quem questione quais as verdadeiras mudanças causadas pela recente aproximação entre brega e o poder público. Nas redes, pessoas também lembravam dos constantes casos de violência policial contra dançarinos de passinho.

Ainda existe uma dificuldade em relação aos editais, que muitas vezes são demasiadamente burocráticos e sequer chegam até a informação dos artistas das periferias.

Brega como patrimônio

MARCOS PASTICH/PCR
ENCONTRO João Campos, Anderson Neiff e Marco Aurélio Filho na sanção da lei que concedeu ao movimento brega o título de Patrimônio Cultural Imaterial do Recife - MARCOS PASTICH/PCR
INSTAGRAM@GOEVENTOSPE/REPRODUÇÃO
CERIMÔNIA Antes de sancionar o projeto de lei, João Campos recebeu personalidades do brega local no gabinete - INSTAGRAM@GOEVENTOSPE/REPRODUÇÃO

Em 2020, foi a vez da Câmara do Recife aprovar uma proposta do vereador Marco Aurélio Filho (PTRB) que considerou o brega um "patrimônio cultural imaterial" da capital.

Embora o episódio tenha sido comemorado pelo brega, também gerou uma discussão sobre uma possível banalização da ideia de patrimônio já que, logo em seguida, o gospel também foi aprovado com o mesmo título. Além disso, o que de fato mudaria para o brega com esse título?

Em entrevista ao JC em março, o então secretário de cultura do Recife Ricardo Mello demonstrou preocupação com a questão, adiantando sobre a criação de um comitê com várias instituições, incluindo órgãos municipais, estaduais e federais, como o Iphan, a UPE, a UFPE e a Unicap, para "discutir diretrizes que permitam fazer análises, deixando de ser uma decisão apenas entre os vereadores e o prefeito".

"Pode ser que o cara coloque lá um requerimento, e o grupo criado formalmente discuta isso", disse Ricardo.

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