Batalha da Escadaria vira Patrimônio Cultural do Recife; organizadores esperam incentivo do poder público após título

Realizado há 15 anos no cruzamento da Rua do Hospício com a Conde da Boa Vista, evento tem colaborado na formação de gerações de artistas: 'Somos um dos estados mais bem falados do Brasil no circuito do Duelo Nacional de MC's', diz criador
Emannuel Bento
Publicado em 24/04/2023 às 16:11
Batalha da Escadaria difunde a cultura hip hop no Centro do Recife há 15 anos Foto: JUAN MARVIN/DIVULGAÇÃO


Duelo de MC's realizado há 15 anos no cruzamento da Rua do Hospício com a Avenida Conde da Boa Vista, no Centro do Recife, a Batalha da Escadaria agora é um Patrimônio Cultural Imaterial da cidade. O Projeto de Lei 292/22, de autoria de vereadora Cida Pedrosa (PCdoB), foi aprovado com unanimidade nesta segunda-feira (24) no Plenário da Câmara Municipal.

O projeto reconhece a relevância cultural do movimento como um espaço de formação política e inclusão social. Em todo o mundo, as batalhas de MC's resgatam uma das vertentes originárias do rap: versos livres recitados a partir de uma batida, com rapidez, criatividade e lirismo - graffiti, DJ e breakdance completam as linguagens do hip hop.

Criada em 2008, a Batalha da Escadaria é a mais antiga em atividade do Norte/Nordeste. O evento ocorre duas vezes por mês (primeira e terceira sextas-feiras). Com a calçada quase sempre lotada, o público forma um círculo em torno dos competidores.

Os/as MC's se inscrevem meia hora antes do início. As rimas são feitas no estilo freestyle e cada participante tem 45 segundos para duelar. Participam da batalha pessoas que moram na capital, mas também são aceitos MC's do interior e de outros estados. Ao final de todas as batalhas um vencedor é escolhido pelo público.

A organização já se apresentou como grupo em show e festivais como No Ar Coquetel Molotov (2017) e abrindo shows para nomes como Devotos e Criolo. Em 2015, lançaram a mixtape "Batalha da Escadaria - Volume 1".

Organizadores celebram título, mas pedem mais apoio do poder público

"O título de patrimônio é um grande reconhecimento a todos nós que estamos nessa luta, pois com ele vamos conseguir executar várias outras coisas que já temos em mente. A Batalha da Escadaria tem muita importância para o movimento hip hop do Recife e de Pernambuco, relevando vários talentos nacionalmente", diz Luiz Carlos Ferrer (Duh), 41 anos, criador da Batalha da Escadaria, produtor e arte-educador.

Rimocrata, Poema Liriscista, Tai MC, Speed Souza e Rimocrata são alguns dos nomes da cena que tiveram passagem ou iniciaram suas carreiras na Batalha. "Do nosso estado, todos que participaram têm seu destaque, cada um na sua 'correria'. Na atualidade temos dois MC's que estão circulando nas principais batalhas do Sul e do Sudeste: Vinicius NZ e VituMC", continua Luiz Carlos.

Atualmente, a equipe também é formada pelos designers Charles Guedes e Lucas Sérvulo, o fotógrago Juan Marvin, o videomaker Marquês Audiovisual e os DJs Charles Mello e Beto Mota.

Com o novo reconhecimento, os organizadores também esperam mais incentivo do poder público. "A Batalha já deveria ter, há um bom tempo, patrocínios e apoio dos órgãos públicos. Movimentamos isso há 15 anos e somos um dos estados mais bem falados do Brasil dentro do circuito do Duelo Nacional de MCs, que é realizado em Belo Horizonte reunindo os 27 estados do país. Há uns seis ou sete anos, somos o estado mais falado. Todo anos fazemos 16 seletivas, um estadual e um MC vai para Belo Horizonte", explica.

"A batalha da escadaria se tornar Patrimônio Cultural Imaterial do Recife dá visibilidade a um movimento potente de poesia e transformação social, que precisa fazer parte da cena principal da arte da palavra", diz a vereadora Cida Pedrosa, que criou o projeto de lei e também é uma premiada poeta.

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