Considerado um dos pioneiros da animação em Pernambuco, Lula Gonzaga volta a lançar um curta-metragem em 2023. "Ciranda Feiticeira" tem co-autoria do filho Tiago Delácio. Esse é o primeiro filme com direção do artista desde 1983 - após esse ano, ele apenas assinou obras que surgiram a partir de oficinas formativas.
O projeto tem trilha-sonora de Lia de Itamaracá (que também emprestou sua voz a uma das protagonistas) e estreia internacionalmente nesta quarta-feira (26), no 13º Supertoon International Animation & Comics Festival, em Sibenik, na Croácia.
Depois, a obra percorre um circuito de festivais que envolve Índia, Itália, Bósnia-Herzegovina, Canadá e Trinidade e Tobago. A estreia nacional também já tem data: será na última semana de agosto, no 14º Festival de Cinema de Triunfo, no Sertão pernambucano.
A primeira animação de Gonzaga foi "Vendo Ouvindo", de 1972. Já o filme "A saga da asa branca" de 1979, se destaca entre os 100 principais filmes de animação do país, segundo a ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Por toda sua trajetória Lula recebeu em 2016 o título de Patrimônio Vivo do Estado e de Mestre da Cultura Popular pelo MinC.
Litoral
"Ciranda Feiticeira" foi produzido a partir de um primeiro roteiro que estava guardado desde 1983, época em que o casal Lula Gonzaga e Silvana Delácio viveram com seu filho Tiago, na Ilha de Itamaracá, no litoral norte de Pernambuco.
Lá, eles conviveram com histórias de vida dos pescadores e com os cantos de Lia. Lula tinha acabado de voltar da antiga Iugoslávia, onde fez especialização em desenho animado. "Começamos a rabiscar o storyboard sentando na areia da praia, ouvindo as histórias ribeirinhas e escutando a ciranda de Lia", afirma o Mestre.
Atualmente, Lula tem dedicado a ensinar e formar novos jovens para o cinema de animação através do seu método OCA, que consiste na montagem de um estúdio com ferramentas de baixo custo voltadas para o desenvolvimento artístico e profissional de crianças e jovens.
Resgate
Passados 40 anos, uma equipe de animadores, coordenada por André Rodrigues (ex-aluno de Lula), se debruçou sobre os desenhos originais, ressignificando a ideia original a partir de um novo roteiro que conta a história de uma família de pescadores. A obra trata de um drama do cotidiano, a partir de desenhos carregados de poesia, encanto e simbolismo.
O curta tem como trilha sonora a música "Ciranda Feiticeira", que deu nome ao filme, gravada por Lia de Itamaracá originalmente em 1977, no álbum "A Rainha da Ciranda" e depois remasterizada no disco/coletânea "Ciranda de Ritmos", de 2008. Lia também emprestou sua voz a uma das protagonistas.
"O projeto teve início em 2017, após uma pesquisa de catalogação da obra de Lula para o Museu de Cinema de Animação, o MUCA, que leva seu nome. Lá, encontramos desenhos de cenários originais e um storyboard da primeira ideia do filme, chamado "O jangadeiro", explica Tiago Delácio. A partir dessa descoberta, a roteirista Silvana Delácio, junto com Ana Porto, desenvolveram a versão atual do roteiro do filme.
A história é contada a partir de Janaina e sua mãe. Amadurecer é uma tarefa difícil e para Janaína não é diferente. Ela tem 7 anos e a passagem dos ciclos da vida já é uma realidade para ela. O filme traz o componente feminino, retratado pela protagonista, que diante das circunstâncias só lhe resta levantar a cabeça e lutar. Essa relação de parceria e apoio permanece para sempre entre mãe e filha.
Produção
Segundo o diretor de produção, Rafael Buda, "Ciranda Feiticeira é um filme que reflete a importância da cultura da pesca tradicional passada por gerações até hoje no litoral norte de Pernambuco, que conseguiu unir Lula Gonzaga e Lia de Itamaracá, dois mestres e patrimônios vivos, nessa história incrível sobre o ciclo da vida."
O filme foi produzido pela Partilha Filmes e A Saga Audiovisual, e tem direção de animação de André Rodrigues, montagem de Eduardo Padrão, desenho de Som e Mixagem de Justino Passos e é distribuído pela Arapuá Filmes. O projeto tem incentivo do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (FUNCULTURA), da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (FUNDARPE).
Festivais
Além do 13º Supertoon International Animation (Croácia) em julho, o filme será exibido no mês de agosto no 15th International Documentary & Short Film Festival of Kerala (Índia), 21º IMAGINARIA - International Animated Film Festival (Itália) e no 17º Neum Animated Film festival (Bósnia-Herzegovina).
Ainda estará na programação do Ottawa International Animation Festival (Canadá), no 18º Trinidad+Tobago Film Festival (Trinidade e Tobago).
No Brasil, além do 14º Festival de Cinema de Triunfo (PE), o filme já tem exibição confirmada no 30º Festival de Cinema de Vitória e 22º Goiânia Mostra Curtas (GO), ambos em setembro; na 22ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis (SC) e 6° Festival de Cinema de Jaraguá do Sul - SC, ambos em outubro.
Os produtores ainda aguardam os resultados das seleções de diversos outros Festivais e Mostras nacionais e internacionais.