Cantora de brega vive a primeira vereadora do Recife em espetáculo do Festival de Ópera de Pernambuco

"Júlia, A Tecelã", obra de Wendell Kettle, será protagonizada por Karla Karolla: 'Não é porque eu canto brega que eu não posso conhecer o erudito, ou que não vou conhecer uma partitura'
Emannuel Bento
Publicado em 02/08/2023 às 17:48
Karla Karolla (como Júlia Santiago) na ópera 'Júlia a Tecelã' Foto: ELIAS MARQUES/DIVULGAÇÃO


O Festival de Ópera de Pernambuco (FOPE), realizado pela Academia de Ópera e Repertório (AOR) e Sinfonieta UFPE, volta a ocupar o Teatro de Santa Isabel, no Centro do Recife, durante todo o mês de agosto, a começar pela sexta-feira (4). A direção artística e executiva é do maestro Wendell Kettle.

Entre os destaques da programação está "Júlia, A Tecelã", do próprio Kettle, que conta a história de Júlia Santiago, a primeira mulher a se tornar vereadora do Recife. Será a segunda montagem da peça, após estreia em 2017.

Trata-se de uma pequena obra lírica, narrando episódios importantes da vida a personagem: a vinda para a capital pernambucana, o trabalho nas fábricas e tecelagens, o papel de liderança no Círculo Operário, chegando até o engajamento sociopolítico e sua eleição como vereadora.

"Me baseei na entrevista que Júlia deu ao Cehibra da Fundaj, de modo que os textos das cenas que compõem a obra foram retirados, o mais fielmente possível, de suas falas", finaliza o maestro e compositor Kettle.

Do brega à opera

Desta vez, Júlia Santiago é vivida pela cantora Karla Karolla, que vem construindo uma carreira no brega, ritmo popular que é um dos mais ouvidos em Pernambuco. A escalação pode soar inusitada, mas Karolla tem sua base de formação no canto lírico, tendo sua classificação como Soprano Lírico.

"Continuo cantando brega, mas comecei minha carreira estudando no Conservatório Pernambuco de Música, aos 15 anos. Fiz canto erudito por seis anos. Naquela época, tive a oportunidade de participar de algumas óperas, indo até ao interior do Estado e à Paraíba", conta a artista, em entrevista ao JC.

Apesar da formação, Karla optou por seguir uma carreira solo na música popular, apostando no sertanejo quando morava em São Paulo, onde viveu entre 2015 e 2019. Ao voltar para o Recife, a artista decidiu investir no brega.

"Ainda desvalorizam o brega, mas não é porque eu canto esse ritmo que eu não posso conhecer o erudito, que não vou conhecer uma partitura. O brega hoje é cultura. Então, é muito importante ter uma cantora que representa o brega no cenário operístico da cidade", diz Karla.

"O papel da Júlia foi um presente muito grande do maestro Wendell, que confiou em mim, principalmente pela história da Júlia Santiago, pela força que ela teve, pela história que tem aqui na cidade."

"Júlia, a tecelã" ficará em cartaz no segundo final de semana do festival: de 10 a 13 de agosto (sempre às 20h, exceto no dia 13). Os ingressos custam R$ 20 e R$ 10 (meia).

Mais espetáculos

O primeiro final de semana contará com "O Professor de Música", de Giovanni Battista Pergolesi, com sessões na sexta-feira, às 20h, sábado (18h e 20h) e domingo (19h). Os ingressos custam R$ 50 e R$ 25 (meia).

Fechando com o festival, será executada uma das óperas mais célebres do repertório internacional, “La Traviata”, de Giuseppe Verdi. O espetáculo, uma comemoração aos 210 anos de nascimento do compositor italiano, será encenado em 17, 18 e 19, às 19h, e 20, às 18h. Os ingressos custam R$ 60 e R$ 30 (meia).

"Esse repertório demostra o grande potencial dos cantores líricos e demais profissionais do setor operístico do nosso estado e região, bem como o apreço e a prioridade que damos à ópera nacional – pernambucana e nordestina", enfatiza o diretor do festival Wendell Kettle.

A AOR e a Sinfonieta UFPE vêm sendo responsáveis pelo ressurgimento da cena operística local, além de executar obras de verdadeiro e ousado ineditismo nos palcos nordestinos. "A criação do Festival de Ópera de Pernambuco tem gerado uma demanda no mercado do canto lírico e da música erudita na nossa Região", afirma Kettle.

Além dele, destacam-se as participações dos cenógrafos e figurinistas Rose Mary de Abreu Martins e Marcondes Lima – professores do Departamento de Artes da UFPE – que assinam a Direção de Artes Visuais dos espetáculos “O Professor de Música” e “La Traviata”, e “Júlia, a tecelã”, respectivamente.

Programação paralela

Além das montagens operísticas, o IV FOPE terá em sua programação uma masterclass de canto lírico, ministrada pelo soprano Loren Vandal e pelo tenor Ivan Jorgensen, cantores do Coro do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Ambos farão participação especial no Festival - Loren cantará o papel de Violeta e Ivan o de Alfredo em La Traviata. A masterclass será no dia 19 de agosto, no Salão Nobre do Teatro de Santa Isabel.

“Um outro ponto de destaque dessa quarta edição do FOPE é que o projeto interuniversidades que iniciamos no festival passado, continua e tem se fortalecido, de modo que teremos a participação de cantores e instrumentistas das nossas universidades irmãs aqui do Nordeste: da Escola de Música da UFRN, do Departamento de Música da UFPB e da Unidade Acadêmica de Música da UFCG. Assim, alunos e professores dessas três universidades se juntarão à AOR e à Sinfonieta UFPE na realização desse grande evento operístico em nosso estado”, pontua Kettle.

SERVIÇO
IV FESTIVAL DE ÓPERA DE PERNAMBUCO
Onde: Teatro de Santa Isabel (Praça da República, s/n, Recife-PE)
Período: 04 a 21 de agosto de 2023

Programação

• "O Professor de Música", de Giovanni Battista Pergolesi: dias 04/08 (20h), 05/08 (18h e 20h) e 06/08 (19h) - Ingressos: R$ 50,00 (inteira) / R$ 25,00 (meia)

• "Júlia, a tecelã", de Wendell Kettle: dias 10/08 (20h), 11/08 (20h), 12/08 (20h) e 13/08 (19h - Ingressos: R$ 20,00 (inteira) / R$ 10,00 (meia)

• "La Traviata", de Giuseppe Verdi: dias 17, 18 e 19 (às 19h) e 20 (às 18h) de agosto/23. Ingressos: R$ 60,00 (inteira) / R$ 30,00 (meia)

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cultura ópera
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