O espetáculo "Apenas o Fim do Mundo" foi um trabalho significativo para a trajetória do grupo teatral pernambucano Magiluth, um dos destaques das artes cênicas brasileiras na contemporaneidade.
A peça estreou em 2019, no Sesc Avenida Paulista, em São Paulo, conquistando público e crítica, com indicações a prêmios como Associação Paulista de Críticos Teatrais (APCA), Shell e Aplauso Brasil.
No Recife, o projeto estreou com temporada de sucesso no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM) e, quando chegou o momento de ampliar a circulação nacional, veio a pandemia.
"Retomar esse espetáculo era quase como uma dívida em prol do nosso trabalho. É como devolver o fôlego que deveria ter. Sempre tivemos muita vontade de retomá-lo, por ser um trabalho que não necessita de uma espacialidade espefícia", diz Giordano Castro, que integra o grupo junto a Lucas Torres, Bruno Parmera, Pedro Wagner, Mário Sergio Cabral e Erivaldo Oliveira.
Eis que "Apenas o Fim do Mundo" voltou ao local onde estreou na capital pernambucana, o MAMAM, para temporada realizada até 3 de setembro - com apresentações das quintas-feiras aos sábados, às 20h, e domingos, às 16h.
Dramaturgia densa
"Apenas o Fim do Mundo" é um texto do francês Jean-Luc Lagarce, acompanhando um personagem chamado Louis que retorna à sua família para anunciar uma doença terminal (a AIDS). O autor escreveu a peça em 1990, quando considerava a sua própria morte.
A montagem do Magiluth tem uma estrutura de tempo não linear, com direção de Giovana Soar, que também é a tradutora do texto, e Luiz Fernando Marques (Lubi), do Grupo XIX de Teatro. O grupo montou essa peça quando estava completando 15 anos, em um momento de rever a própria trajetória.
"Existia uma busca do grupo em fincar um pouco o pé nessa ideia de teatralidade a partir de uma dramaturgia mais densa. Naquela época, nos viam como um grupo que encenava a partir de jogos, de dramaturgias que surgiam dentro da sala de ensaio, que parecia muito natural na boca dos atores, dando uma impressão de que estávamos improvisando o tempo todo, quando, na verdade, estávamos encenando", explica Giordano Castro.
"Apenas o 'Fim do Mundo' busca uma outra dramaturgia, que já viesse com a força da palavra. Era uma busca nossa, naquele momento, por um texto forte, potente, bonito e de uma escrita muito rebuscada. Tinha tudo o que queríamos para montar essa peça. A busca por um texto que nos desse esse lugar enquanto atores. Dentro dessa dramaturgia, trouxesse uma relação que fosse pertinente para o grupo, com uma relação afetiva dentro de tudo isso."
Atualidade
A participação de Giovana Soar e Luiz Fernando Marques (Lubi), diretores que constituem importantes parcerias na história do coletivo pernambucano, continuaram articulando com o modo colaborativo e horizontal da metodologia de trabalho presente em todos os espetáculos do Grupo Magiluth. A obra parte dos conflitos do protagonista (internos e os com sua família) para tocar em temas como masculinidades, homofobia, entre outros.
"Esse trabalho não dialoga com questões tão explícitas sobre o contexto político brasileiro como nos outros espetáculos. Mas, é um texto que traz um tema muito forte que foi a pandemia da HIV e com aquilo foi determinante nas relações daquela época. Para além de todos os cenários diversos, das questões sociopolíticas do país e do mundo, as relações humanas são as que nos conectam co o outro", diz Castro.
"É uma peça que fala desse amor entre uma família que não consegue dizer um para o outro como se gosta. E como se esse gostar gera dores e mágoas. Toda vez que a gente apresenta, todo mundo se conecta consigo, com um lugar, com um parente para o qual a gente volta para dar uma notícia. É um trabalho que ainda fala muito sobre como vivemos."
Em 2020 e 2021, durante a pandemia, o Magiluth desenvolveu três experimentos sensoriais em confinamento concebidos especificamente para o momento de suspensão social, “Tudo que coube numa VHS” (Prêmio APTR de Teatro 2021 - Melhor espetáculo inédito ao vivo ), “Todas as histórias possíveis” e “Virá”. No pós-pandemia, para atender a demanda de trabalhos inéditos, o grupo estreou dois trabalhos: “Estudo nº 1: Morte e Vida” e “Miró: Estudo nº 2”.
SERVIÇO
Temporada de “Apenas o Fim do Mundo”, do Grupo Magiluth
Quando: até 3 de setembro, de quintas a sábados, às 20h; domingos, às 16h
Onde: Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Rua da Aurora, 265, Boa Vista)
Quanto: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia)
Capacidade: 60 pessoas por sessão