"A história de Dominguinhos é uma peça pronta, pois traz a jornada do herói. Começou muito novo, aos sete anos, com a mãe o levando para tocar na feira. Conseguiu tocar para Luiz Gonzaga, que deu o grande empurrão para a carreira". A fala é de Gabriel Fontes Paiva, diretor do musical "Dominguinhos: Isso Aqui Tá Bom Demais".
A obra e a história de um dos maiores mestres da música popular brasileira está sendo recontada neste projeto, que estreou em São Paulo em 2022 e agora chega em Recife, no Teatro do Parque, para marcar os 10 anos sem o compositor. Será a primeira apresentação do projeto no Nordeste, desta quinta-feira (12) a domingo (15).
No palco, muitos músicos interpretam pela primeira vez. O elenco é composto por Liv Moraes, cantora e filha de Dominguinhos; Cosme Vieira, que tocou sanfona com Dominguinhos quando ainda era criança; além do ator e músico Wilson Feitosa.
Ainda integram o elenco diversos músicos pernambucanos: Zé Pitoco, de Cupira (PE), que acompanhou Dominguinhos em inúmeros shows ao longo se sua carreira; Fitti, um dos grandes expoentes da nova safra de atores e cantores brasileiros e os conhecidos Hugo Linns, músico que é referência brasileira em viola, e o percussionista Jam da Silva.
Até o momento, a peça teve mais de 25 mil espectadores em 50 apresentações que lotaram teatros em São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Rio de Janeiro.
Construção
O espetáculo foi idealizado por Gabriel Fontes Paiva e pela diretora musical Myriam Taubkin, parceiros no Projeto Memória Brasileira, que documenta a memória da música brasileira há 35 anos.
"Assim que o Dominguinhos faleceu, procurei a Myriam e falei: ao invés de fazermos um concerto comum para homenageá-lo, vamos usar a experiência que tenho no teatro e vamos fazer um musical. Partimos para a obtenção dos direitos autorais e levamos cerca de sete anos para conseguir estrear, mas, no meio tivemos a pandemia", começa Fontes.
Músicos
"O maior desafio era fazer um musical que dialogasse com a obra do Dominguinhos, que desse uma grande ênfase nos músicos. Quem conta a história são os músicos, em grande maioria pernambucanos. Fomos atrás dos melhores instrumentistas do Estado, pois era necessário ter essa sofisticação musical", continua.
Assim, "Isso Aqui Tá Bom Demais" difere de uma musical tradicional ao colocar os músicos (instrumentistas) no primeiro plano, não como parte de uma banda que acompanha os cantores. "Muitos deles não eram atores, subiram pela primeira vez no teatro, porém todos de personalidades extraordinárias, carismáticas, que deram muito certo nesse desafio".
O diretor ainda ressalta que o musical deu um grande destaque à Anastácia, cantora e compositora que assinou diversas composições com o pernambucano de Garanhuns. "São músicas que todos conhecem, mas o reconhecimento é baixo perto da importância que ela tem. Reconhecemos que isso ocorreu porque ela era mulher e nordestina. Cerca de 15 das 30 músicas que estão no musical foram compostas com ela."
A direção musical, incluindo a seleção do repertório, foi de Myriam Taubkin. Já o texto foi construído ao longo de dois anos por Silvia Gomez, a partir de entrevistas com pessoas que conviveram com Dominguinhos.
Nordeste pelo Brasil
Liv Morais, cantora que carrega o legado do pai, comenta que o musical tem despertado bastante identificação por onde passa. "A música tem uma memória afetiva muito forte. No final, vemos pessoas chocando, lembrando de uma avó ou avô", conta.
"Tem sempre alguém do Nordeste. O Nordeste povoou o Brasil inteiro, então todo lugar tem nordestino: em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Santos, Belo Horizonte. Todas as pessoas vieram falar desse lugar de memória, nos fazendo refletir como é forte o Nordeste, como é fote a música dele em todos os Estados. Além disso, o musical coloca Garanhuns no lugar merecido: a vida toda meu pai se orgulhou da sua história, indo de Garanhuns pro mundo".