"Meu Nome É Gal", filme estrelado por Sophie Charlotte, com direção de Dandara Ferreira e Lô Politi (que também assina o roteiro) estreia nos cinemas nesta quinta-feira (12), em um momento bastante profícuo para a obra, que acaba chegando como homenagem à baiana que arrebatou o Brasil com voz e atitude.
As cinebiografias podem ser bastante desafiadoras, sobretudo ao considerar qual a dimensão do personagem retratado. Gal Costa teve uma grande carreira e longa vida. Assim, o recorte escolhido foi o processo de "desabrochar" da cantora, de Gracinha, uma menina tímida aspirante a cantora, à Gal Costa do show "Fa-Tal - Gal a Todo Vapor", que culminou o clássico disco de 1971.
O longa se apega a várias tradições do gênero, com uma estética (lê-se fotografia e direção de arte) arrojada, típica de produções da Globo Filmes - que divide a coprodução com Telecine e California Filmes.
Ao mesmo tempo, destoa da cinebiografia musical ao não embarcar necessariamente em uma "jornada de herói", em que o artista "sofre" para então chegar ao ápice do estrelato. Trata-se de um perfil específico sobre esse encontro da artista com a figura que a cristalizou na historiografia da música brasileira.
Para aqueles que não são profundos conhecedores de Gal, a obra também pode ser didática ao mostrar os primeiros passos de sua carreira, com destaque para a gravação do disco "Domingo" (1967), com Caetano Veloso, e o papel do carismático empresário Guilherme Araújo, que dá um tom cômico ao longa com a interpretação de Luis Lobianco.
Elenco
É interessante ver em cena vários outros gigantes da MPB, como Caetano Veloso (Rodrigo Lelis), Maria Bethânia (interpretada pela diretora Dandara Ferreira), Gilberto Gil (Dan Ferreira) e Dedé Gadelha (Camila Mardila). Rodrigo Lelis, particularmente, impressiona pela semelhança com Veloso. Já Bethânia tem aparições breves, podendo decepcionar quem esperava mais interações das conterrâneas.
Sophie Charlotte dá vida a uma Gal Costa um tanto leve, com sotaque arrastado. É uma atuação que soa até despretensiosa, evitando ser necessariamente uma mimetização de trejeitos. Essa foi uma decisão acertada, dando mais naturalidade e suavidade ao longa.
Desfecho
Podemos dizer que "Meu Nome É Gal" peca da metade para o final. Alguns aspectos da vida pessoal da cantora são retratados, como breves relacionamentos amorosos, a relação com a mãe Mariah Costa Penna e a sua discrição com a imprensa.
Essa última característica, inclusive, foi respeitada no filme, evitando um tom sensacionalista. Na ausência de maiores detalhes pessoais, a ditadura acaba tornando-se o arco de desafio do longa. O regime político talvez seja o "vilão" do filme, dando um tom mais obscuro e quebrando a aura de vivacidade da Tropicália.
Com isso, o filme acaba recorrendo a diversos clichês, como se entregasse exatamente aquilo o que era esperado de um filme de MPB durante a ditadura militar. É sempre importante relembrar dos arroubos do regime, mas, o uso de uma narrativa já tão retratada deixa o filme um pouco previsível.
O que surpreende mesmo aqui é o final. "Meu Nome É Gal" acaba de supetão, durante o show "Fa-Tal - Gal a Todo Vapor", em uma decisão ousada das diretoras. Ao mesmo tempo que o espetáculo seja um momento marcante da carreira de Gal, um espectador menos atento à historiografia da MPB pode sentir a ausência de "clímax" no desfecho - e ele não estaria errado.
O que emociona mesmo é a aparição da própria Gal, que nos deixou em novembro de 2022 e que merece todas as homenagens possíveis. Por isso, apesar de qualquer obstáculo, este filme é bem-vindo.