O Clube Carnavalesco Misto Elefante de Olinda, um dos mais tradicionais do carnaval pernambucano, está lutando para restaurar e dar uso a um conjunto de imóveis situado no Sítio Histórico da cidade.
Popularmente conhecidos como Chalés do Carmo, os imóveis foram cedidos ao clube pelo Governo de Pernambuco através da Lei nº 17.987, de 13 de dezembro de 2022. Esse conjunto é formado por quatro imóveis do final do século 19, quintal principal e quintal secundário, além de mais dois imóveis erguidos no começo do século 20.
A partir dessa doação, o Elefante fica totalmente responsável pelo restauro e uso. A intenção é transformar esse espaço na sede oficial do clube, agregando programação cultural, projetos sociais e educacionais, fomentando a cultura popular.
"A ideia é utilizar as casas como um espaço de inclusão social a partir da cultura popular. Vai ser um espaço para outras agremiações, servindo para transmissão de saberes, capacitação e desenvolvimento de mão de obra", diz Bruno Firmino, diretor do Elefante, clube que detém o título de Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco desde 2020.
Para esse desafio, o Elefante conta com a colaboração de uma empresa de captação de recursos via Lei Rouanet e editais. "Também vamos procurar alguns parlamentares para conseguir emendas. Também vamos começar as tratativas com a Prefeitura de Olinda e atual gestão do Governo do Estado", diz Firmino.
"Já nessa primeira fase, enquanto estamos captando recursos, queremos começar a usar o quintal para as agremiações realizarem festas. Depois da obra, o espaço continua com essa finalidade, pois esse quintal pode receber shows e diversas atividades culturais".
Ele explica que as diversas casas do conjunto terão diferentes finalidades. "Vão servir para exposições, palestras, salas de aula. Também pensamos em uma loja colaborativa que se relacione com a economia criativa do carnaval, restaurante e recepção de turistas. Seria um espaço para uso durante o ano inteiro".
Sede
Fundado em 1952, o Elefante de Olinda já pleiteou diversos imóveis que estavam sem uso no Sítio Histórico de Olinda para gestões diversas, mas sem sucesso.
Nesses 70 anos de existência, o clube passou a maior parte do tempo sem uma sede própria, utilizando as casas dos seus presidentes e diretores como sedes improvisadas para as reuniões e preparativos dos desfiles. Apenas por um período de cerca de uma década, a agremiação utilizou uma casa alugada na Rua do Amparo para essa finalidade.
"Essa limitação física dificultava a transmissão de conhecimentos das artesanais do carnaval, salvaguarda de material e espaço de acolhimento para interessados na agremiação", diz Bruno Firmino.
"Além disso, as sedes carnavalescas servem como espaços de socialização, exercendo o papel de reunir a comunidade carnavalesca para troca de ideias, organizações mútuas e debates do cotidiano, também servindo como equipamento privado, mas de uso coletivo, para a comunidade do entorno em cerimônias de casamentos, aniversários, festas de agremiações sem sede, espaços para ações do poder público (zona eleitoral, vacinação, treinamentos e instruções), entre tantas outras possibilidades."
Chalés
Além do apelo cultural da sede do Elefante, a restauração dos Chalés do Carmo seria um resgate histórico e arquitetônico para Olinda. Os imóveis foram construídos entre 1893 e 1894, remontando à época em que a cidade era destino da talassoterapia - atividades de banho de mar com finalidade terapêutica, sob orientação médica.
Tal atividade atraiu visitantes de diversas localidades, tornando Olinda uma cidade de veraneio, um balneário popular entre a sociedade. O então governador Sigismundo Gonçalves (1899- 1900/1904-1908), que dá nome à Avenida, chegou a possuir uma mansão de veraneio nas proximidades da Praia do Carmo, onde atualmente funciona o colégio estadual que leva seu nome.
Neste período, diversas outras residências de veraneio foram construídas, entre elas os Chalés do Carmo. Em 1902, os proprietários Leonardo de Albuquerque Cavalcanti e Carolina de Albuquerque Cavalcanti venderam o conjunto de chalés para o comerciante português João Fernandes de Almeida para que o mesmo pudesse presentear cada uma de suas quatro filhas - os seus nomes estão grafados em placas metálicas afixadas nos chalés.
Degradação
Na segunda metade do século 20, os chalés chegaram a abrigar o Fórum de Olinda. Após diversos anos de abandono, estas edificações foram parcialmente recuperadas em 2011 para abrigar o evento de arquitetura CASACOR. Contudo, voltou rapidamente a um estado de degradação.
"Estes monumentos se destacam não apenas pelas suas características arquitetônicas, mas também pela visibilidade que os mesmos desfrutam, visto que estão localizados em frente ao morro onde se situa a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, monumento com tombamento federal, na porta de entrada dos turistas ao Sítio Histórico de Olinda, sendo este o roteiro obrigatório de turistas nacionais e estrangeiros", diz o texto do projeto de captação.
O documento ainda comenta que tramita no Ministério Público de Pernambuco um procedimento de investigação contra a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco – FUNDARPE, instaurado a fim de apurar o abandono dos quatro imóveis em questão.
A reportagem entrou em contato com a comunicação do MPPE e aguarda retorno sobre o tema.
A diretoria do Elefante argumenta que o projeto de restauro daria um primeiro passo a essa recomendação, reinserindo-os na rotina turística do Sítio Histórico de Olinda.