LUTO

Membro da ABL e diplomata, Alberto da Costa e Silva, morre no Rio de Janeiro

Alberto Vasconcelos da Costa e Silva morreu aos 92 anos, em sua casa, de causas naturais, segundo a Academia Brasileira de Letras (ABL)

Cadastrado por

JC

Publicado em 26/11/2023 às 13:10 | Atualizado em 26/11/2023 às 13:15
O poeta, ensaísta, memorialista e historiador Alberto da Costa e Silva morreu de causas naturais aos 92 anos - ABL/Divulgação

Morreu na madrugada deste domingo (26), em casa, de causas naturais, aos 92 anos, o Acadêmico Alberto Vasconcelos da Costa e Silva. Diplomata, poeta, ensaísta, memorialista e historiador, o viúvo, deixa três filhos - Elza Maria, Antonio Francisco e Pedro Miguel – sete netos e uma bisneta. Segundo a Academioa Brasileira de Letras (ABL), seu corpo será cremado na segunda-feira (27) – não haverá velório e a cerimônia de cremação será apenas para a família.

Um dos mais importantes intelectuais brasileiros, era especialista na cultura e na história da África, onde foi embaixador do Brasil por quatro anos, na Nigéria e no Benin. Sua obra é fundamental para o desenvolvimento dos estudos e do ensino da história do continente africano. Escreveu mais de 40 livros, entre poesia, ensaio, história, infanto-juvenil, memória, antologia, versão e adaptação.

ESPECIALISTA EM ESTUDOS DA ÁFRICA

Eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000, foi o quarto ocupante da Cadeira nº 9, na sucessão de Carlos Chagas Filho. Presidiu a ABL no biênio 2002-2003. Ocupou os cargos de Secretário-Geral em 2001, Primeiro-Secretário em 2008-2009 e Diretor das Bibliotecas em 2010-15. Era também Sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Portuguesa da História.

Alberto Vasconcellos da Costa e Silva nasceu em São Paulo, em 12 de maio de 1931, e fez os estudos primários e iniciou o curso secundário em Fortaleza. Em 1943, mudou-se para o Rio de Janeiro. Diplomou-se pelo Instituto Rio Branco em 1957.

Em seu discurso de posse na ABL, Costa e Silva falou de sua “brasilidade”: “Carlos Chagas Filho desejou para esta Cadeira que fosse uma “cadeira cativa” carioca. Não o desapontará de todo estar eu aqui. Meu pai era de Amarante, no Piauí, de mãe maranhense, e estudou no Recife; minha mãe era de Camocim, no Ceará, criada em Manaus; tive um irmão carioca e dois mineiros, um deles educado em São Luís do Maranhão; de minhas irmãs, uma nasceu no Amazonas e a outra no Rio; deixei de ser gaúcho por três meses e fui nascer em São Paulo. Se me considero piauiense de coração, ancorado, pela infância, em Fortaleza, acabo de esboçar a ficha pessoal e familiar de um verdadeiro cidadão do Rio de Janeiro, cujas velhas ruas mais de uma vez percorri na companhia de um dos mais fraternos de meus amigos, Herberto Sales, e de um de seus amigos mais fraternos, Marques Rebelo.”

Influência de Casa Grande e Senzala

Foi Doutor Honoris Causa em Letras pela Universidade Obafemi Awolowo (ex-Uni­versidade de Ifé), da Nigéria, em 1986, e em História pela Universidade Federal Fluminense, em 2009, e pela Universidade Federal da Bahia, em 2012.

Em 2014, recebeu o Prêmio Camões; em 2003, o Prêmio Juca Pato – Intelectual do Ano de 2003, da União Brasileira de Escritores e Folha de S. Paulo; e em 2007, foi escolhido o Homem de Idéias pelo Jornal do Brasil.

O Acadêmico descobriu a África com Os Africanos no Brasil, de Nina Rodrigues, e Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre. Sua primeira viagem à África ocorreu no início de sua carreira, quando integrou a comitiva do ministro das Relações Exteriores Negrão de Lima, representante do Brasil nas cerimônias de independência da Nigéria, em 1960, como explica a historiadora Marina de Mello e Souza. “Desde então seu interesse pelo continente, conhecido pelos que com ele conviviam, fez com que fosse designado para missões na África.

Intelectuais lamentam a perda

Intelectuiais brasileiros lamentaram a perda de Alberto Vasconcelos da Costa e Silva, que deixou um importante legado intelectual para o Brasil. 

Ana Maria Machado 

"Mesmo sabendo que ele vinha enfrentando problemas graves de saúde e se apagando aos poucos, fico numa tristeza imensa. Eu gostava imensamente dele, foi um privilégio ter convivido de perto com Alberto durante anos, um dos responsáveis diretos por minha entrada para a ABL.

Além do historiador e africanólogo incomparável e exemplar, a quem o mundo tanto deve e o Brasil nunca louvará suficientemente, Alberto da Costa e Silva foi bom poeta e excelente memorialista, capaz de abrir mão de vaidades individuais em seus escritos e evocar com acuidade e precisão ambientes, costumes e pessoas do passado, personalidades importantes com quem conviveu, detalhes preciosos dos bastidores do poder.

Na ABL, sempre zelou pelo sentido maior da instituição, eticamente exigente, preocupado com o papel social e histórico da Academia, avesso a imediatismos e privilégios. Foi um acadêmico assíduo, participante, corajoso e dedicado à casa de Machado de Assis, a que serviu sem hesitação. Deixa nela sua marca para sempre".

Merval Pereira 

"A morte de Alberto da Costa e Silva tem efeitos múltiplos, todos negativos para a cultura brasileira, que perde um dos seus maiores intelectuais de todos os tempos. Para o estudo da África, Alberto foi um dos maiores, senão o maior africanólogo brasileiro. Tinha uma dimensão histórica e política sobre nossas relações com a África, e dava a importância que ela sempre teve, mas nunca foi devidamente enaltecida como ele fez em seus livros. Ganhou o Prêmio Camões, o maior prêmio da língua portuguesa por esta especificação da importância da África no desenvolvimento brasileiro. Era um grande poeta, grande intelectual, grande diplomata. Internamente, nós da ABL perdemos uma de nossas bussolas. Alberto dava a direção e a solução corretas quando tínhamos dúvidas. É uma perda que tem consequências graves para a ABL, para a cultura brasileira e para o Brasil como um todo.

Cacá Diegues

"Alberto Costa e Silva foi um irrepreensível membro da Academia Brasileira de Letras. Sua morte deixa um imenso vazio no espírito da ABL, é uma ausência grave entre nossos especialistas: ninguém no Brasil possui o conhecimento da África como ele o possuia, ninguém sabia mais sobre a história e a economia daquele continente, ninguém era tão íntimo da cultura popular africana como ele. Vamos levar muitos anos, quem sabe décadas, para formar um outro especialista em África como Alberto Costa e Silva!O luto da ABL é total e irreparável. E o do Brasil também".

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