MÚSICA

Mombojó dá nova roupagem à obra de Alceu Valença: 'É engraçado, pois ele sempre fugiu do estereótipo de rockeiro

"Carne de Caju" traz releituras de 10 faixas, incluindo alguns "lados B" do mestre de São Bento do Una

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Emannuel Bento

Publicado em 24/01/2024 às 16:52 | Atualizado em 25/01/2024 às 19:23
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O grupo pernambucano Mombojó, surgido em 2001, foi forjado pela influência do manguebeat. Quando adolescentes, os integrantes tinham olhos para a geração da Nação Zumbi, Devotos e Banda Eddie. Contudo, um outro nome já vinha conectando há décadas os sons de Pernambuco com o mundo: Alceu Valença.

Talvez por ser uma espécie de "mainstream" pernambucano na música nos anos 1980 e 1990, a geração do mangue nunca se associou de forma direta à sua música. Mas Alceu já os inspirava, mesmo que indiretamente. "Carne de Caju", novo álbum da Mombojó, é uma amostra disso.

O disco reúne 10 releituras de músicas do pernambucano de São Bento do Una, que são transportadas para o universo sonoro da banda, repleto de riffs e sintetizadores que aproximam as faixas de uma música pernambucana alternativa e contemporânea. O interessante é que muitas das canções escolhidas são "lados B" do músico - o ouvinte não vai encontrar, por exemplo, "Morena Tropicana".

'Notei influência de Alceu que eu não percebia'

"Carne de Cajú", título que evoca bastante o imaginários e temáticas da obra de Alceu, surgiu quando o vocalista Felipe S. desejou desacelerar na produção para um próximo disco de inéditas. O álbum mais recente do grupo é "Trilha Sonora Original do Filme Deságua", que reuniu 12 singles lançados ao longo de 12 meses nas plataformas digitais.

RAFAEL OLINTO/DIVULGAÇÃO
Capa de 'Carne de Cajú', da Mombojó - RAFAEL OLINTO/DIVULGAÇÃO

"Vivemos uma época de muita ansiedade, de pressão do mercado, para lançar algo novo. Esse modo que vivemos é muito descartável. Pensei em algo que viesse antes do disco autoral e, na tentativa dessa busca, me veio a ideia de um projeto especial revisitando a obra de algum artista", diz Felipe, ao JC.

"O nome de Alceu meio veio à cabeça depois de ouvir novamente a obra dele a fundo. Eu comecei a notar muito a influências dele em mim, que eu não percebia: letras curtas, falar muito da natureza e esticar sílabas. É um artista que ouço desde que nasci, em 1983, quando ele estava no auge, bombando no Brasil."

Dando 'luz ao repertório'

Filipe diz que o grupo, composto por Marcelo Machado (voz e guitarra), Chiquinho Moreira (teclados e sintetizador), Vicente Machado (bateria) e Missionário José (baixo, sintetizador), estranhou a ideia de início.

"Foi uma coisa que a gente fez meio que repentinamente, mas que de um 'match' muito grande e resolvemos tudo muito rápido. A gente sentiu uma conexão. Pelo fato de Alceu estar novamente em alta entre o público jovem, o projeto poderia soar meio oportunista. Mas, focamos em criar uma conexão verdadeira e fazer música, colocando músicas que não são tão conhecidas para dar luz ao repertório".

LAURA PROTO/DIVULGAÇÃO
Banda Mombojó lança 'Carne de Cajú', homenagem a Alceu Valença - LAURA PROTO/DIVULGAÇÃO

"Amor Que Vai", "Bela Inês", "Chuvas de Caju", "Dois Animais", "Estação da Luz", "Olinda", "Sino de Ouro", "Tomara" integram o repertório. "São músicas que, de alguma maneira, foram ofuscadas pelo sucesso do próprio Alceu, que nos anos 1980 foi muito forte e intenso", diz Filipe.

'Não fizemos para agradá-lo'

A banda não sabe ao certo qual a reação de Alceu Valença em relação ao trabalho. "No primeiro lançamento, a pessoa que cuida a editora pediu a música para Alceu aprovar. Fiquei ansioso pensando no que ele iria falar. Perguntei se ele disse algo e me disseram: "Ianê (esposa) adorou". Ele deve ter detestado (risos)."

"É engraçado, porque ele sempre fugiu desse estereótipo de rockeiro e nós transformamos a coisa num rock meio anos 1970. Ele sempre trabalhou para valorizar a música do Nordeste, como Gonzaga e Jackson do Pandeiro, que foram grandes nomes para geração dele. Acho super importante esse movimento dele. Mas, de nenhuma maneira estávamos fazendo esse disco para agradá-lo ou virarmos amigos dele", dispara.

"Somos fãs da sua obra, da criatividade. Lendo a sua biografia recém-lançada, fiquei encantando em imaginar como ele teve um poder de síntese. Em dois acordes, ele consegue representar o Estado de Pernambuco todo."

Show

O Mombojó já realizou um show com o repertório do disco na Casa Estação da Luz, em Olinda. Agora, uma apresentação gratuita ocorrerá no dia 4 de fevereiro, na Praça do Arsenal, no Recife Antigo.

"A gente vai tocar na semana pré-carnaval. Foi o melhor cenário possível. Ficamos muito felizes com essa valorização", encerra.

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