Camelôs imigrantes têm histórias contadas em exposição no Centro do Recife

"Transição de Fase", do pernambucano Lourival Cuquinha, ocupa o Pátio de São Pedro e a Rua Imperatriz com cinco obras que utilizam diversos suportes

Publicado em 23/09/2024 às 17:05

Os imigrantes que trabalham como camelôs em grandes centros urbanos brasileiros são objetos de inspiração do artista visual pernambucano Lourival Cuquinha há 10 anos. O seu projeto focado nessa temática, "Transição de Fase", já soma mais de 150 obras, dando visibilidade àqueles que buscam nas metrópoles uma melhor oportunidade de vida, fugindo da pobreza, da violência e de guerras civis.

Nesta semana, de 24 a 28 de setembro, cinco obras deste projeto chegam ao Recife, permanecendo no Pátio de São Pedro e na Rua Imperatriz. Vale ressaltar que Pernambuco tem, hoje, a maior quantidade de imigrantes já registrada. De acordo com a Polícia Federal, em 2021, 9.856 estrangeiros estavam registrados no estado, um número subnotificado, pois muitos chegam e se estabelecem de forma irregular.

O público poderá contemplar a uma linguagem artística que combina crítica social com uma estética que explora suportes como fotografia, vídeo e instalação, conectando realidades brasileiras a contextos globais.

EDOUARD FRAIPOINT/DIVULGAÇÃO
Exposição "Transição de Fase", de Lourival Cuquinha - EDOUARD FRAIPOINT/DIVULGAÇÃO

"O sujeito que emigra é um corpo movente por ele próprio; também o é quando trabalha ambulando pelo território estrangeiro que vai se tornando cada vez mais seu", diz Lourival Cuquinha.

"Muitas vezes ele próprio é o corpo deslocado de sua origem por força de um trabalho planetário que a economia impõe. Ele ainda, supostamente dentro de sua vontade, desloca corpos para vender coisas em centros urbanos – onde se situa o dinheiro. É uma interseção entre sujeito que se desloca e aquele que é deslocado."

Recife

Para exibir a iniciativa no Recife, Lourival Cuquinha optou por uma instalação com cinco obras, entre elas a "Transição de Fase // Eloy", criada em 2015 a partir do encontro entre o artista e o peruano Eloy no Bairro do Recife.

As demais, ainda inéditas, são resultado da continuidade da pesquisa feita pelo artista pelas ruas do Recife no primeiro semestre deste ano. Dois imigrantes senegaleses, Momar Mbaye e Amâdou Touré, e duas venezuelanas, Noelis Quijada e Maria Warao, foram escolhidos para participar do projeto.

EDOUARD FRAIPOINT/DIVULGAÇÃO
Exposição "Transição de Fase", de Lourival Cuquinha - EDOUARD FRAIPOINT/DIVULGAÇÃO

As cinco obras serão expostas em uma estrutura pentagonal de cobre criada pelo artista. De pequenas caixinhas de som, todas visíveis, os áudios das entrevistas realizadas com os imigrantes contatados no Recife serão emitidos e se misturarão espacialmente.

Dependendo da proximidade que o visitante tiver de uma obra, escutará mais uma história do que outra. Esses áudios, assim como o conjunto das peças/obras, são objetos de memória que narram fragmentos, testemunhos dos movimentos migratórios atualmente em curso no mundo. O projeto contará com a presença de mediadores e audiodescriação.

Processo

Desde 2014, o "Transição de Fase" já levou obras para galerias, centros culturais e museus brasileiros, como o Museu de Arte Moderna de São Paulo; o Galpão Bela Maré e o Parque das Ruínas, no Rio de Janeiro; o complexo cultural da Funarte, em Belo Horizonte; e o Museu de Arte Contemporânea de Campo Grande (MT). Também já foi vista na embaixada do Brasil em Londres (Inglaterra) e na Art Brussels em Bruxelas (Bélgica).

O trabalho do artista começa com uma conversa com imigrantes que vendem produtos na rua. Os que são selecionados para participar do projeto têm todas ou parte de suas mercadorias compradas. Pequenas entrevistas são gravadas em vídeo e de cada imigrante participante é feito um registro fotográfico composto por duas imagens: de frente e de costas, junto aos objetos que comercializava.

EDOUARD FRAIPOINT/DIVULGAÇÃO
Exposição "Transição de Fase", de Lourival Cuquinha - EDOUARD FRAIPOINT/DIVULGAÇÃO

Em comum acordo, o cachê por essas fotografias tem o mesmo valor do(s) objeto(s) adquirido(s). As fotos de cada imigrante são impressas em uma superfície cujo valor equivale ao custo da mercadoria somado ao cachê pago pelas fotos. Essas superfícies são feitas com cédulas de real costuradas, placas de cobre e madeira.

"Cabe ouvir e entender suas dinâmicas coletivas e individuais. Cabe ouvir, pois em seus gestos, ao indicar o corte do mundo, imigrantes reivindicam territórios sem fronteiras: uma utopia das mais futuras", finaliza o artista.

SERVIÇO
Transição de Fase - Recife, uma instalação de Lourival Cuquinha
Quando e onde: 28 de setembro, na Feira Imperatriz das Artes, Rua da Imperatriz, das 13h às 20h
24, 25, 26 e 27 de setembro, no Pátio de São Pedro, das 10h às 18h.
Mais informações: @lourival_cuquinha @cuquinhatransicaodefase

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