Trajetória ainda pouco conhecida de Naná Vasconcelos é contada em fotobiografia
"Fotobiografia Naná - Do Recife para o Mundo" foi organizada pelo designer e jornalista Augusto Lins Soares e publicada Cepe Editora

"O Brasil que não conhece o Brasil". Era com essa expressão que o pernambucano Naná Vasconcelos (1944-2016), um dos maiores percussionista do mundo, costumava se definir.
A sentença faz sentido. Embora aclamada fora, a obra deste gênio da música é ainda pouco conhecida no País. O mesmo se pode dizer da sua trajetória.
Em meio à continuidade das homenagens dos 80 anos de seu nascimento, a "Fotobiografia Naná - Do Recife para o Mundo" chega como mais uma ferramenta para consertar esse erro.
Organizada pelo designer e jornalista Augusto Lins Soares, a publicação é da Cepe Editora e será lançada nesta sexta-feira (14), às 19h, na Torre Malakoff, localizada no Bairro do Recife, no Centro, com apresentações musicais.
Memória



Já nas primeiras folheadas, é bastante interessante ver as imagens do começo de carreira do músico no Recife, participando de grupos musicais. Como o seu reconhecimento no País veio quando ele já estava fora, existe uma espécie de esquecimento dessa fase em sua terra.
O livro tem 240 páginas e apresenta Juvenal de Holanda Vasconcelos em mais de 200 fotos de 50 fotógrafos, aproximadamente, numa linha do tempo desde Naná criança até o artista consagrado, vencedor de prêmio Grammy e eleito o melhor percussionista do mundo pela revista norte-americana de jazz Downbeat, por nove vezes consecutivas, de 1983 a 1991.
As imagens são intercaladas por textos biográficos com relatos de fases da vida, a partir das cidades onde ele viveu: Recife (a terra natal), Paris, Nova York e Recife de novo. "Fotobiografia Naná" tem apoio do Banco do Nordeste.
Pesquisa
"Comecei a pesquisa em junho de 2023 e finalizei em outubro de 2024, minhas fontes são o acervo do artista, os bancos de imagens (públicos e privados) e os acervos dos fotógrafos brasileiros e estrangeiros", declara Augusto Lins Soares.
"Há várias imagens pertencentes a acervos privados que nunca foram publicadas ou são pouco divulgadas, como, por exemplo, Naná na Banda Municipal do Recife (atual Banda Sinfônica do Recife) nos anos 1960 e Naná tocando berimbau no Mercado Modelo, em Salvador (BA), na presença de Jorge Amado, nos anos 1980", observa.
Homem de fases
Washington Square Park, em Nova York, além de ser capturado em momentos de descontração ao lado de seu gato de estimação. Já na "fase europeia", em Paris, o percussionista surge em cenas de lazer, seja brincando de esconde-esconde em uma rua ou compartilhando momentos descontraídos em um café com amigos.
De volta ao Recife, as lentes o imortalizam nas noites emblemáticas de abertura do Carnaval, onde liderava e reunia batuqueiros de diversas nações de maracatu, criando memórias que permanecem vivas na cultura local.
As fotografias também revelam Naná ao lado de grandes nomes da música, como os norte-americanos Collin Walcott e Don Cherry, seus companheiros na banda Codona, além de parceiros brasileiros como Egberto Gismonti, Geraldo Azevedo e Gal Costa, e o argentino Agustín Pereyra Lucena. Cenas familiares, ao lado de suas filhas, completam o mosaico de sua vida pessoal e artística.
"Busco selecionar as imagens mais icônicas, impactantes, artísticas, reveladoras, históricas, inéditas, jornalísticas e sedutoras. Ou seja, imagens que contam ao leitor fatos importantes da vida da pessoa fotobiografada", afirma Augusto Lins Soares.
Obra
Para Patrícia Vasconcelos, viúva de Naná e mãe da filha caçula do músico, a fotobiografia é destinada a fãs, estudiosos e pessoas que não conhecem a obra do percussionista.
"Achei a ideia fantástica por servir como uma ferramenta de pesquisa sobre a trajetória artística de Naná e necessária para deixar essa história acessível ao público interessado em saber mais sobre esse percurso musical que foi construído com tanto amor à música e muita genialidade. O resultado desse trabalho dará embasamento a outras ações que visem manter a memória e o legado de Naná vivos", destaca Patrícia, que é curadora do legado do artista.
Mais homenagens
A celebração dos 80 anos de nascimento de Naná, em 2024, contou com diversas iniciativas, a exemplo da exposição "Ocupação Naná Vasconcelos", no Itaú Cultural, em São Paulo - a mostra deve chegar ao Recife no Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (MAMAM), ainda neste ano.
A gravadora alemã Altercat relançou em vinil os discos "Africadeus" (1962), o seu primeiro solo, e "Naná, Nelson Angelo & Novelli" (1974). A gravadora estadunidense Blank Forms lançou um disco duplo com o áudio de um show realizado com Naná e Don Cherry, intitulado "Organic Music Theatre: Festival de jazz de Chateauvallon 1972".
No Carnaval do Recife de 2024 o encontro Tumaraca voltou ao dia de abertura e contou com uma homenagem a Naná, reunindo 13 Nações de Maracatu, o pianista Amaro Freitas e o músico Lucas dos Prazeres.
Naná também ganhou um megamural intitulado "Naná Vasconcelos, Sinfonia e Batuques", de autoria da artista Micaela Almeida, que ocupa cerca de 200m² da fachada do Edifício Guiomar, localizado no bairro da Boa Vista, em frente ao Parque 13 de Maio, nas proximidades da Faculdade de Direito do Recife.