Um grupo de pessoas acorda em uma ilha misteriosa após um acidente de avião do qual lembram pouca coisa. A situação se mostra cada vez mais estranha quando algumas peças parecem não se encaixar e, pouco a pouco, tensões reprimidas são expostas diante das situações de perigo iminente. Esta é a premissa básica de Lost, um dos maiores sucessos dos anos 2000, e também da recente The Wilds: Vidas Selvagens, série original do Amazon Prime.
Criada por Sarah Streicher (uma das roteiristas da série Demolidor), The Wilds tem como protagonistas um grupo de adolescentes que estava a caminho de um retiro exclusivo para garotas no Havaí, quando a aeronave fretada para elas caiu no que aparenta ser o meio do oceano Pacífico. Algumas se conhecem de antes da viagem, mas, no geral, são estranhas entre si.
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Logo nos primeiros minutos, o público é apresentado à estrutura narrativa: Leah (Sarah Pidgeon), uma das jovens, é entrevistada por agentes que buscam entender o que ocorreu na ilha. Ou seja, sabe-se que, eventualmente, algumas delas serão resgatas. Como também é revelado, ainda no primeiro episódio, que a queda naquele espaço selvagem não foi fruto do acaso.
A cada episódio, uma nova camada do mistério vai sendo revelada, assim como as personalidades e motivações de cada uma das garotas. Os flashbacks, assim como em Lost, ajudam a elucidar tanto as situações na ilha quanto o passado delas - e o que motivou cada uma a embarcar naquela viagem.
Ao contrário da criação de J.J. Abrams, que chegou ao fim em 2010 (e também está disponível no catálogo do Amazon Prime), The Wilds aposta em um número reduzido de personagens, o que garante a possibilidade de conhecer e se importar com cada uma.
A princípio, todas preenchem um certo clichê, seja o da jovem religiosa que aparentemente tem a vida perfeita (a excelente Mia Healey), a jovem irônica e de poucos amigos (Shannon Berry), a atleta (Reign Edwards) e sua irmã intelectual (Helena Howard) etc. A série, no entanto, acerta ao não subestimar suas protagonistas. Todas são complexas, com qualidades e defeitos, e, acima de tudo, parecem adolescentes.
AMADURECIMENTO
A partir da história de cada uma das personagens, a série aborda temas transversais que mostram diferentes aspectos da experiência feminina na sociedade estadunidense. Em um de seus discursos iniciais, Leah afirma para os investigadores que os traumas vividos na ilha não são nada perto do que cada uma precisou vivenciar enquanto jovens mulheres crescendo em uma sociedade patriarcal.
Esses dilemas são abordados com cuidado pelo roteiro, que toca em temas delicados, como sexualidade e transtornos de saúde mental e física, sem cair no sensacionalismo. A jornada de cada uma é a de amadurecimento - ainda que forçado. A perspectiva de sororidade é construída gradualmente e não há uma tentativa de discurso pasteurizado. A série é feita para adolescentes, sem ser condescendente com seu público.
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Além da direção segura e do roteiro amarrado, o grande mérito da série está na escalação do elenco. As atrizes, a maioria estreante ou com poucos trabalhos no currículo, estão em sintonia e seguram bem as situações dramáticas. O clima de mistério e as situações de perigo também são bem construídas e todos os capítulos terminam com bons ganchos que impelem o espectador a continuar na jornada, "maratonando" o conteúdo.
A aposta da Amazon Prime, que ainda não tem uma tradição de produzir conteúdos para adolescentes que realmente engajam, como é o caso da sua principal concorrente, Netflix, se mostrou muito acertada. The Wilds tem sido bem recebida pela crítica e pelo público. A reposta tem sido tão positiva que a plataforma de streaming já confirmou a segunda temporada - uma conquista, ainda mais em um momento de incertezas para a indústria, com as consequências da pandemia do novo coronavírus ainda sendo sentidas.
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