O streaming brasileiro, ainda em estágio de desenvolvimento no contexto de transformações do entretenimento, ganhou na semana passada um produto de qualidade: "Cangaço Novo", nova série da Prime Video, plataforma da Amazon.
A obra é uma trama eletrizante e atual que mescla temáticas como crime organizado, política e impacto social da seca. O projeto traz para o contexto do streaming o "nordestern", mistura das tradições do faroeste com o imaginário do bando de Lampião.
Esse termo, atribuído ao crítico Salvyano Cavalcanti de Paiva, tem como marco inicial o longa-metragem "O cangaceiro" (1953), de Vitor Lima Barreto, premiado em Cannes. Também está presente na obra de Glauber Rocha, como "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro" (1969), e até mesmo em "Bacurau" (2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles.
Enredo
"Cangaço Novo" pode ser descrita como uma jornada de autoconhecimento de três irmãos que se mistura a problemas estruturais do Brasil.
Precisando desesperadamente de dinheiro para cuidar de seu pai adotivo, Ubaldo (Allan Souza Lima), um homem simples que trabalha como contador em um banco de São Paulo, viajar até o interior do Ceará para procurar herança.
Na fictícia cidade Cratará, ele conhece suas irmãs, Dinorá (Alice Carvalho) e Dilvânia (Thainá Duarte), e se torna uma sensação pela semelhança física com o seu pai, o lendário cangaceiro Amaro Vaqueiro. Ubaldo logo se envolve com um grupo criminoso especializado em roubos a bancos.
Eles dominam cidades inteiras, causando pânico e terror. Ubaldo e Dinorah acreditam que podem fazer a diferença enquanto roubam bancos desafiando as autoridades locais. Já Dilvânia, a outra irmã, mantém viva a influência de Amaro Vaqueiro. Em meio a tudo isso, somos introduzir aos conceitos que guiaram os reais bandos de cangaço do Brasil do século 20.
Nordeste
A temática até poderia fazer com que a "Cangaço Novo" fosse uma caricatura do Nordeste, mas a série surpreende com um elenco predominantemente nordestino e sotaques que mostram a pluralidade da região. A preparação do elenco, sobretudo dos protagonistas, chama bastante atenção, com atuações viscerais que fazem toda a diferença.
Também chama atenção a qualidade técnica, com fotografia, efeitos e locações excelentes. As cenas de ação, inclusive, são impressionantes. Para além disso, as abordagens interessantes de temáticas como corrupção e política local tornam a série atrativa para públicos menos habituais ao "tiro, porrada e bomba".
Com produção da O2 Filmes, a série foi criada por Mariana Bardan e Eduardo Melo, que também atuam como roteiristas. A direção fica por conta de Aly Muritiba (diretor de Deserto Particular, pré-selecionado para representar o Brasil no Óscar 2022) e Fábio Mendonça.
Os oito episódios já estão na Prime Video. E para quem ficar com um gostinho de "quero mais", o desfecho aponta para a existência de uma próxima temporada.
Trilha-Sonora
Para os pernambucanos, a série guarda mais uma surpresa: Nação Zumbi regravou o clássico "Da Lama ao Caos", de Chico Science & Nação Zumbi e, através do projeto Manguefonia, chegou ao resultado produzido exclusivamente para a série, disponível em um single que lançado em 25 de agosto.
Além disso, há o álbum já disponível com gravações originais. A atriz Alice Carvalho, uma das protagonistas da série, gravou "Espumas ao Vento", famosa na voz do cantor Fagner. Rachel Reis é responsável pela faixa "Caju", Daniel Groove interpreta "Volante da Maldade", Getúlio Abelha canta "Ilusão" e Aíla & Jader entoam "Me Liga".