Ruas vazias, pessoas de máscara, vendas abaixo do normal e receios sobre o futuro formam o cenário encontrado no Centro do Recife por causa da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Desde que os governos estadual e municipal intensificaram a prevenção com medidas de contingenciamento, lojas e restaurantes tiveram queda no movimento e, consequentemente, ambulantes e empresários experimentam o tão temido prejuízo aliados à falta de perspectiva para recuperação da economia brasileira.
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Ivson Santos, 40 anos, é proprietário de um restaurante que funciona há mais de três anos no bairro de São José e afirma nunca ter visto uma movimentação tão baixa no estabelecimento e relembrou o movimento paredista dos caminhoneiros, que também afetou seus negócios. “Nossas vendas caíram em torno de 70%, e nunca havíamos vivido nada parecido. Mesmo na paralisação dos caminhoneiros, com um período de 10 a 15 dias parados, não vivemos isso. Naquela época, sabíamos que aquilo seria temporário, mas hoje não temos perspectivas de quando isso vai melhorar. Isso põe em risco nosso planejamento e nos causa medo de haver um colapso geral”.
Na Rua das Calçadas, a ambulante Pâmela Amâncio, conta que viu suas vendas caírem drasticamente, o que tem impactado na renda de sua família, que depende dela para suprir algumas necessidades. “Normalmente, meu lucro é entre R$ 800 e R$ 1000 e agora estou vendendo apenas uns R$ 300. Eu tento me planejar para ajudar minha família e não deixar faltar nada, mas só eu trabalho na minha casa e isso (pandemia da Covid-19) tem me preocupado muito.
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Vendedora de artesanatos há mais de 20 anos, a ambulante Edilene Maria da Silva, 48, sai todos os dias de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, para vender suas mercadorias no bairro de São José. Com a pandemia no do novo coronavírus, ela afirma que sentiu a redução nas vendas e avalia não mais trabalhar para se proteger da doença. "A venda caiu muito, ninguém está vindo comprar nada. Eu venho para ver se consigo arrumar um 'trocadinho' e depois fazer uma feira, para ficar em casa e esperar, porque só estou tendo despesas. Pelo que observo, as vendas cairão mais, as pessoas estão com medo. Eu também estou com medo. Eu quero conseguir esse dinheiro para poder ficar em casa, onde poderei estar mais protegida"
“Eu não tenho saída. Ou venho ou não como”
Nem todos, porém, podem escolher ficar em casa. Esse é o caso do ambulante Antenor Justino, de 54 anos, que trabalha no bairro da Boa Vista há pelo menos 10 anos. Assim como os outros vendedores, o trabalhador tem sentido os efeitos da pandemia da Covid-19 em suas vendas e acredita que a tendência é que a situação se agrave. "A vida já não está fácil, nem sempre as coisas vão bem, mas eu tenho conseguido levar meu sustento para casa. Agora, com essa doença, não sei como vai ser. A tendência é que isso aumente e as vendas caíam ainda mais”, disse.
“Por isso, eu tenho me preparado. A gente não sabe do dia de amanhã, nem quando está tudo normal, imagine em uma situação dessas. Mas o que pude fazer foi acumular alimentos, itens de higiene por pelo menos um mês. E, assim, vamos levando da forma que for dando. Eu preciso disso aqui. Essa doença pode se agravar, mas eu não tenho saída. Ou eu venho ou não como”.
O gerente comercial de uma loja de roupas na Avenida Conde da Boa Vista, Anderson Ferreira, 32, afirma que foi pego de surpresa com a queda na movimentação na área central do Recife. Ao redor da loja em que trabalha, o baixo número de pessoas transitando causava estranhamento em quem conhece o ritmo da região. "Segunda-feira, eu já fui pego de surpresa. O movimento já não vem bem há algum tempo. Mas com toda essa revolução em relação a esse vírus, o movimento tem sido fraquíssimo. Ontem (terça-feira, 17), das 9h as 18h20, fiz apenas quatro vendas. Foi um prejuízo tremendo", contou.
"Eu vim hoje realmente pra ver o que vai acontecer durante o dia e decidir se abro amanhã e depois. Eu só tô vindo para ter despesa. Querendo ou não, as contas a gente tem que pagar. Agora, o jeito é pedir a Deus que essa pandemia se normalize, porque não temos o que fazer", completou.
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Prevenção
O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:
- Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
- Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
- Evitar contato próximo com pessoas doentes.
- Ficar em casa quando estiver doente.
- Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
- Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
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Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (máscara cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).
- Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.
O que é coronavírus?
Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.
A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.
Pandemia
Na quarta-feira (11), a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o novo coronavírus (covid-19) como uma pandemia. Uma doença infecciosa é considerada uma pandemia quando sua disseminação sai do controle e se espalha por uma região geográfica ou mesmo por todo o planeta, afetando uma grande quantidade de pessoas. Mais de 118 mil pessoas foram infectadas em 114 países. Ao todo, mais de 4.300 mortes foram registradas.
Coronavírus pelo mundo
Reportagem em atualização
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