PREJUÍZO

Padarias do Grande Recife não sabem até quando conseguem manter portas abertas em meio ao Coronavírus

Mesmo autorizado a funcionar, setor de panificação amarga perdas e pede sensibilidade às demandas por parte do poder público em Pernambuco

Lucas Moraes
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Lucas Moraes
Publicado em 01/04/2020 às 17:46 | Atualizado em 01/04/2020 às 18:34
LEO MOTTA/JC IMAGEM
Faturamento das padarias caiu mais de 50 por cento depois da pandemia do Coronavírus, mesmo sendo um dos poucos comércios que podem funcionar. Baixa movimentação de clientes na padaria Nova Armada, no bairro da Torre. - FOTO: LEO MOTTA/JC IMAGEM

Estar enquadrado como serviço essencial para abastecimento da população, ou seja, poder funcionar durante a epidemia do novo coronavírus, não tem sido sinônimo de alívio para os donos de padaria da Região Metropolitana do Recife. Com a restrição do número de clientes e da oferta de serviços, empresários de estabelecimentos ligados ao Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria do Estado de Pernambuco (Sindipão) têm registrado perdas de em média 50% no faturamento e, diferentemente de outros setores, não estão encontrando espaço nas ações anunciadas pelo poder público em meio ao estado de calamidade que afeta diretamente a economia.

Privilegiando segmentos que, na prática, estão mais sensíveis aos efeitos imediatos do Coronavírus sobra a economia, como hotelaria, bares e restaurantes, academias e salões de beleza, as ações de socorro anunciadas até agora pelo poder público não chegaram à prática ainda e, quando isso acontecer, não devem reforçar de forma direta o setor de panificação.

"Em relação a estar aberto já é uma coisa muito boa, mas há padaria que chegou a cair até 80% em faturamento, e aí entra outro tipo de discussão. Não é comparar se é mais fácil ou mais difícil para determinado setor, mas com o estabelecimento aberto há custos sendo mantidos. Claro que é decisão de cada um, mas não é fácil para ninguém numa hora dessa tentar sobreviver", diz o presidente do Sindipão, Paulo Pereira.

Segundo ele, a matéria prima já vendo sofrendo aumento por conta do dólar (importação do trigo) e de uma hora para outra subiu o custo do transporte, além de outros gastos que não têm sido compensados, pela falta de receita.

"Dentre outras coisas, o que a gente pede é para se estudar uma menor alíquota do ICMS, que a gente paga de forma antecipada. Isso precisa se discutir, além de imposto de fronteira e a necessidade da moratória do Simples Nacional, na parte de cobrança estadual, seguir a do governo federal. Tá todo mundo tendo que cortar, o pessoal está falando em demitir, alguns seguraram, mas não sabemos até quando", afirma Pereira.

Nas unidades da Parla Deli, na Zona Norte do Recife, o faturamento já chegou a cair até 45%. "Não está normal. Perdemos muito faturamento sem café da manhã, almoço e jantar. Fora que todo mundo está isolado. Não podemos reclamar, pois a maioria das outras coisas está fechada, mas é muito triste tudo isso!", lamenta o empresário Marcelo Silva, que tem apostado no delivery para dirimir as perdas pelo menos em uma das unidades.

Embora o pãozinho ainda esteja saindo, boa parte das padarias do Grande Recife concentram seu faturamento no auto-serviço, quando as pessoas se servem no próprio estabelecimento, e é aí que está boa parte do prejuízo, já que as pessoas não estão circulando tampouco podem realizar as refeições no local de compra.

"Hoje, 90% das padarias do Recife não lidam apenas com apenas pão. No caso da minha, o auto-serviço representa cerca de 40% do faturamento, mas retiramos todas as mesas e só estamos atendendo o cliente no balcão, mantendo uma distância segura. Tivemos queda de até 35% no faturamento e estamos sentindo falta que o governo chegue junto da gente. A gente realmente precisa, mas não sabe até quando conseguimos ficar de portas abertas", desabafa a proprietária da Nova Armada, Manoella Vilaça, que mantém 56 funcionários na padaria.

De acordo com o Sindipão, no que diz respeito a ações do governo federal, como a suspensão de contratos de trabalho e auxílio para o pagamento de salários, a entrada em operação das medidas ainda está demorando muito desde que começaram a ser ventiladas. Já em relação ao apoio do governo do Estado, a categoria espera haver algum posicionamento nesta sexta-feira (3), durante realização de reunião do Confaz.

Outra reivindicação do setor diz respeito à extensão da proibição do corte de luz e água em relação à pessoa jurídica, já garantida à pessoa física pelo Defensoria Pública do Estado. "Precisamos que não corte luz da pessoa jurídica nesse momento. Copergás, Compesa, Celpe queremos o mesmo tratamento de pessoas física e até mesmo o parcelamento para não ficar negativado", apela ele pela ajuda às mais de 4 mil padarias que empregam diretamente cerca de 40 mil pessoas em Pernambuco. 

Abastecimento

É importante reforçar que o prejuízo das padarias está relacionado diretamente à falta de clientes e não dize respeito a nenhum problema de abastecimento no Estado. Para garantir que o abastecimento nas gôndolas continue ocorrendo dentro da normalidade, a rotina de mais de 200 estabelecimentos do comércio de alimentos e produtos essenciais está sendo monitorada 24 horas pelo Governo de Pernambuco e entidades representativas de toda a cadeia produtiva e de distribuição. 

Capitaneado pela Secretaria estadual de Desenvolvimento Econômico, o “Comitê Especial de Abastecimento”, instituído no dia 19 de março, há quase duas semanas, interligou o setor supermercadista às centrais de distribuição e indústrias, como parte das ações de enfrentamento à Covid-19.

Dentro das ações, destaca-se a ampliação no tempo de uso de incentivos fiscais pelo setor atacadista. A medida vai permitir a formação de estoques mais amplos nesse período de combate ao coronavírus, garantindo o abastecimento ao varejo.

Assim como em Pernambuco no restante do País não há informações referentes a qualquer possibilidade de desabastecimento, diferente do que fora publicado pelo presidente Jair Bolsonaro numa postagem em sua rede social Twitter que denunciava um suposto desabastecimento no Ceasa de Belo Horizonte, desmentido pela imprensa e pelo próprio centro de abastecimento. 

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