O dólar operou boa parte desta terça, 12, em queda, mas a direção mudou no meio da tarde e a moeda americana atingiu novos recordes no mercado local, levando o Banco Central a intervir com leilão extraordinário de US$ 500 milhões de swap. Primeiro foi a ameaça de senadores republicanos de impor sanções à China, um dia depois de Donald Trump dizer que não tem interesse em reabrir negociações comerciais com Pequim. Logo depois foi a declaração do advogado do ex-ministro Sergio Moro, de que o vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril "confirma integralmente" as declarações do ex-juiz contra o presidente Jair Bolsonaro.
Nesse ambiente, o dólar zerou rapidamente a queda e passou a subir, com o real novamente ficando entre as dividas com o pior desempenho no mercado internacional, hoje junto com o peso mexicano. O dólar à vista terminou em novo nível recorde, cotado em R$ 5,8686, em alta de 0,82%. No mercado futuro, o dólar para junho era negociado em R$ 5,88 no final da tarde.
Desde o início dos negócios, mesmo com o dólar em queda no exterior, havia cautela com o ambiente político, em meio aos depoimentos para investigar interferência de Bolsonaro na Polícia Federal. Além disso, havia expectativa sobre a exibição do vídeo da reunião ministerial ocorrida em 22 de abril no Palácio do Planalto. Por isso, quando saiu a declaração do advogado de Moro, Rodrigo Sánchez Rios, o dólar passou rapidamente a subir.
Investigadores que acompanharam a exibição do vídeo avaliam que o conteúdo da gravação é 'devastador' para o presidente, segundo relatou o repórter Fausto Macedo. Bolsonaro minimizou o conteúdo do vídeo e disse que não existe nele a palavra "polícia federal" e que pode retirar o sigilo do vídeo a qualquer momento, permitindo sua divulgação. Mas a reação no câmbio seguiu de busca por proteção no dólar.
"Esse noticiário ajudou a estressar o mercado", disse o diretor da corretora Mirae, Pablo Spyer. O Ibovespa, que subia, passou a cair e, na renda fixa, a ponta longa da curva a termo de juros passou a subir em ritmo mais forte.
"Apesar da crescente crise de saúde gerada pelo coronavírus e do colapso na economia mundial, é a política que vem dominando o noticiário no Brasil", afirma o economista-chefe para mercados emergentes da consultoria Capital Economics, William Jackson. Para ele, os ativos brasileiros devem seguir pressionados pela frente, porque o ruído político gerado pela saída de Moro ainda terá mais desdobramentos, além também de eventuais problemas a serem monitorados no ministério da Economia.