REABERTURA

Comércio volta no Grande Recife com fiscalização falha e problemas no cumprimento do isolamento social

Nesta segunda-feira (15), a quarta fase do Plano de Convivência das Atividades Econômicas de Pernambuco foi implementada

Lucas Moraes
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Lucas Moraes
Publicado em 15/06/2020 às 15:15 | Atualizado em 15/06/2020 às 18:39
FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
Novo coronavírus já infectou milhões de pessoas ao redor do mundo - FOTO: FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

Boa vontade e conscientização de lojistas e clientes serão os fatores fundamentais para que o comércio varejista se mantenha de portas abertas sem causar impactos relevantes no avanço do contágio da covid-19 em Pernambuco. Hoje(15) foi o primeiro dia de reabertura do comércio varejista de até 200 m² em 100 dos 185 municípios do Estado, seguindo o protocolo definido pelo governo para o Plano de Convivência das atividades econômicas. Nas ruas, dos subúrbios aos Centros, a fiscalização se mostrou até então ineficaz. Mesmo fazendo uso de máscaras e álcool em gel, pessoas se aglomeravam dentro de fora das lojas, desrespeitando inclusive o número máximo de atendimentos simultâneos permitido pelo governo estadual.

No Centro do Recife, o movimento nas lojas não se assemelhava aos dias pré-pandemia. Mesmo assim, muitos lojistas sentiram com a liberação do comércio varejista uma maior disposição para as compras. Lojas de tecidos, produtos de beleza e eletroeletrônicos eram os mais procurados.

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Claudia Auxiliadora, 56 anos, veio do bairro da Roda de Fogo para fazer compras no Centro. "Sou costureira e a demanda, por incrível que pareça, está grande para confecção de máscaras, sobretudo com a temática de São João. Por isso vim comprar tecido. Já tinha vindo outros dias porque as lojas de tecidos estavam funcionando, mas hoje tem bem mais gente nas ruas. Na loja eu me sinto mais segura, mas lá fora ainda não", comentou. 

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Lojas de tecidos, produtos de beleza e eletroeletrônicos eram os mais procurados no Centro do Recife - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

Em frente à loja de tecidos Avil, no bairro de Santo Antônio, funcionários precisavam ordenar uma fila que completava quase um quarteirão. Mesmo sem a festa, a demanda por tecido para o São João, somada à produção de máscaras, levou muita gente a buscar atendimento no local. No interior da loja, era permitida a circulação de 10 a 20 clientes simultaneamente.

"A gente tem prezado pelo uso de álcool em gel, máscaras e orientado os funcionários a manter o afastamento entre os cientes, restringindo também o toque as produtos. Não estamos funcionando nem de portas abertas, porque a demanda é grande. Faz a fila lá fora e entra quanto a gente determina. Por conta dos acompanhantes, a gente chega a ter até 20 pessoas na loja, porque as pessoas insistem em estar acompanhadas, mesmo que seja efetuada apenas uma compra", explica a coordenadora de vendas da loja, Jeane Serafim.

De 104 funcionários, a loja chegou a operar apenas com 44 pessoas durante os primeiros dias de pandemia. Com a reabertura, o efetivo subiu para 66 colaboradores. A venda de tecidos em função do São João deve trazer um incremento de 50% às vendas na loja. Num ano normal, esse percentual seria de pelo menos 70%.

Os lojistas já vêm amargando prejuízos por conta dos efeitos da pandemia e, para não sofrer ainda mais, se indispor com clientes não é uma alternativa. A fiscalização por parte do poder público pode cumprir esse papel de forma mais determinante. A reportagem do Jornal do Commercio percorreu trechos do bairro de Santo Antônio e São José, do Pátio do Carmo às imediações do mercado de São José. Nessa região foi possível contabilizar a circulação de cinco fiscais da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano do Recife no início da tarde de ontem.

Mesmo com a presença de fiscais, estabelecimentos que vendem lanches provocavam aglomeração nas calçadas. No interior dessas lojas, não era permitida a entrada dos clientes. Mas após efetuada a compra, os arredores se tornavam verdadeiras praças de alimentação. Como as pessoas comiam, além de estarem próximas umas das outras, a prevalência era máscaras no queixo.

Fillipe Jordão
No Centro do Recife, comerciante informal vende alimentos e dá conta da higienização e distanciamento das pessoas na rua - Fillipe Jordão

Uma vendedora informal de quentinhas, que preferiu não se identificar, tentava ordenar as pessoas que compravam almoços seus almoços na rua Direita. Enquanto sua colega de trabalho aprontava as marmitas, ela borrifava álcool em gel nas mãos e embalagens pegas pelos clientes. Mesmo a fila sendo formada na rua, era papel da vendedora pedir sozinha para as pessoas se manterem afastadas.

De acordo com o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-Recife), Cid Lobo, o primeiro dia de reabertura foi tranquilo e não teve aglomerações no comércio do Recife. A CDL tem se encarregado de distribuir 2 mil cartilhas sobre as medidas definidas em protocolos, além de providenciar a colocação de faixas nas ruas do Centro orientando compradores e vendedores.

"Essas dificuldades vão existir, até porque o público que frequenta o Centro é mais popular. Mas cabe ao lojista realmente colocar uma pessoa na porta para controlar. A nossa orientação é que deixe um funcionário controlando para não haver aglomeração dentro e nem fora das lojas. Mas isso (movimento e aglomeração) é no começo, não creio que vá ter grandes aglomerações ou tumulto. Até porque as festas de São João foram canceladas. É uma demanda de primeira hora, que com o tempo se normaliza", afirma Cid Lobo. Pelo menos 2 mil panfletos com orientações estão sendo distribuídos pela CDL a lojistas e clientes.

CAMARAGIBE

No município de Camaragibe, os lojistas abriram as portas e deram de cara com uma demanda reprimida de clientes. “O movimento já é quase 70% do que tinha antes da pandemia. Tá melhor do que a gente esperava. Muita gente ainda está com medo, mas muita gente também estava louca para sair. A gente abriu com retorno parcial dos funcionários e estamos tentando controlar a entrada de pessoas”, diz o gerente de uma loja de bijuterias Leandro Peres.

Numa unidade de uma grande rede varejista de calçados, tapumes restringiam a área dentro do estabelecimento onde era permitida a circulação dos clientes. De 400 m², o espaço fora reduzido a 200². "As pessoas sentam em cadeiras alternadas, tem controle na entrada, com uso de álcool em gel e máscara, além de marcações no piso, dentro e fora da loja. Agora, ao meu ver, o mais importante não é nem o tamanho do estabelecimento aberto, mas o controle do fluxo de pessoas comprando, para não gerar contato e aglomeração", disse, sem se identificar, gerente da loja.

Fillipe Jordão
Lojistas medem temperatura de clientes antes de permitir entrada em loja de Camaragibe - Fillipe Jordão

Pelo decreto do governo de Pernambuco publicado no domingo (14), fica determinado o número máximo de 10 pessoas sendo atendidas ao mesmo tempo em lojas do tamanho máximo permitido para reabertura (200m²). A regra é um cliente a cada 20m². Um estabelecimento com metade do tamanho, de 100 metros quadrados, por exemplo, só poderá receber cinco clientes concomitantemente.

Na Eliza Cabral de Souza, uma das ruas mais movimentadas do Centro de Camaragibe, das lojas que permitiam a entrada de clientes apenas uma mantinha o controle quanto ao número de atendimentos simultâneos. "Reduzimos a loja de 800m² para 200m² e estamos trabalhando com toda a segurança. Montamos uma fila para entrar apenas sete clientes por vez. Estou também com o número de funcionários reduzidos, então são dois atendentes no balcão de eletrônicos e cinco atendendo no salão, então estamos tendo o cuidado desde a porta de loja até o atendimento do cliente lá dentro", diz o gerente da Millena Móveis e Eletro, Jobson Santana.

A poucos metros da loja dele, houve quem preferisse nem arriscar abrir as portas por completo. "A gente preferiu fazer o atendimento aqui na porta. Eu tenho três funcionários, mas eles estão afastados, recebendo através das medidas do governo. Se abrisse normal, não iria conseguir controlar o fluxo de pessoas dentro da loja", diz a lojistas Gleice Pinto, 43 anos.

Nas contas do governo do Estado, 27 mil negócios varejistas passaram a abrir as portas hoje. A CDL não tem um número preciso para o Recife, mas diz se tratar da maioria das lojas.

Fiscalização

A Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano da Prefeitura do Recife - Semoc, informa que manteve as fiscalizações de ordenamento dos largos comerciais e centro da cidade nesse momento de flexibilização das medidas restritivas contra o avanço da covid-19. As fiscalizações são realizadas em sistema de rondas numa ação conjunta da Semoc com a Rádio Patrulha e a Guarda Municipal.

Também foram mantidas as fiscalizações para evitar comercialização de fogos e fogueiras e as rondas de fiscalização em todas as RPAs da cidade, vistoriando estabelecimentos comerciais, obras e comércio de rua. Essas rondas incluem ainda áreas passíveis de invasão e de construções irregulares em áreas públicas ou áreas de risco, margens de canais, rios, mangues (área de preservação ambiental).

Também são realizadas diariamente fiscalizações nos 20 mercados públicos municipais, oito pátios de feiras, além de feiras livres e seus arredores, orientando comerciantes e população sobre a importância do cumprimento das medidas restritivas, do distanciamento físico, uso de máscara, da higienização e do isolamento social.

 


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Lojas de tecidos, produtos de beleza e eletroeletrônicos eram os mais procurados no Centro do Recife - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
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Lojas de tecidos, produtos de beleza e eletroeletrônicos eram os mais procurados no Centro do Recife - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
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Em Camaragibe, não havia fiscalização - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
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Em Camaragibe, não havia fiscalização - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
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Movimentação em Camaragibe, na região metropolitana - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

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