Após a "debandada" de secretários do Ministério da Economia, a queda de braço entre o pensamento liberal do ministro Paulo Guedes e os interesses políticos do presidente da República, Jair Bolsonaro, ficou ainda mais exposta. A avaliação é do economista e professor da Unit-PE Edgard Leonardo, que concedeu entrevista à Rádio Jornal, na manhã desta quarta-feira (12).
"A debandada não é de hoje, o ministro já perdeu outros aliados como Mansueto, por exemplo. O que está havendo, eu creio, e que pode impactar na continuidade da agenda de Paulo Guedes, é que o presidente não é tão liberal quanto ele. Fora isso, o tempo no setor privado é diferente no setor público e isso afasta nomes da pasta da Economia. Outro fator é a tentativa de furar o teto de gastos, que pode ser importante do ponto de vista de reeleição do presidente. E há grande pressão para que gastos com o auxílio furem o teto e isso enfraquece Paulo Guedes no campo político", avaliou o professor.
Guedes informou, nessa terça-feira (11), que houve o pedido de demissão dos secretários especiais de Desestatização e Privatização, Salim Mattar, e de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel. "Se me perguntarem se houve uma debandada hoje, houve”, disse Guedes. Segundo o ministro, apesar das demissões, o governo não desistirá das reformas. "Nossa reação à debandada que ocorreu hoje vai ser avançar com as reformas", completou após reunião com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM).
Na visão de Edgard Leonardo, Paulo Guedes não deve deixar o governo Bolsonaro, mas vai encontrar dificuldades para implementar suas políticas na integralidade. "Para o governo é importante a permanência de Guedes, pois, hoje, a grande confiança dos setores econômicos no governo estão ligadas às políticas que Guedes apoiaria, como reforma administrativa, reforma tributária, além das privatizações, que não se realizou ainda. Mas, é preciso um desconto, pois ninguém planejou uma pandemia ou crise nos moldes atuais", afirmou.
Com a saída dos secretários, chega a sete o número de integrantes da equipe econômica que deixaram o governo desde o ano passado. Além de Mattar e Uebel, deixaram o governo Marcos Cintra (ex-secretário da Receita Federal), Caio Megale (ex-diretor de programas da Secretaria Especial de Fazenda), Mansueto Almeida (ex-secretário do Tesouro Nacional), Rubem Novaes (ex-presidente do Banco do Brasil), Joaquim Levy (ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES).
Segundo Guedes, Sallim Mattar afirmou que estava insatisfeito com o ritmo das privatizações. "O que ele me disse é que é muito difícil privatizar, que o estabilishment não deixa a privatização, que é tudo muito difícil, tudo muito emperrado", declarou Guedes.