Greve

Correios chama proposta dos funcionários de 'imprudente' e aguarda decisão da justiça para retomar as atividades

Julgamento está marcado para acontecer na próxima segunda-feira (21)

Douglas Hacknen
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Publicado em 16/09/2020 às 20:41 | Atualizado em 16/09/2020 às 21:05
SÉRGIO BERNARDO/ACERVO JC IMAGEM
ESTATAL Leilão para venda de 100% da empresa pode sair em abril - FOTO: SÉRGIO BERNARDO/ACERVO JC IMAGEM

Os Correios, em nota divulgada nesta quarta-feira (16), classificou a proposta de seus funcionários que estão em greve de "imprudente" e "inconsequente". A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) enfrentará uma audiência do julgamento da manutenção, ou não, do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), prevista para acontecer às 13h30, na próxima segunda-feira (21), no Tribunal Superior do Trabalho (TST). Tudo será transmitido ao vivo pelo YouTube do TST.

No texto divulgado pelos Correios, a empresa alega ainda que não há margem para as medidas, classificadas como "incompatíveis com a situação econômica atual" do País e do mundo. A greve completa um mês nesta quinta-feira (17). Neste período, duas audiências de conciliação foram marcadas pelo TST para tentar chegar a um denominador comum, sem sucesso. A ETC disse que aguarda a decisão da justiça para retornar ao trabalho.

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Em comunicado, os Correios solicitam que os acordos reflitam o contexto atual, já que o anterior foi feito antes da pandemia, para que eles não contribuam para um possível acúmulo de prejuízos ou até falência da estatal. "As paralisações regulares e inconsequentes, além de afetarem a imagem da instituição e de seus empregados perante a sociedade, trazem prejuízos financeiros não só à própria estatal: grandes e pequenos empreendedores brasileiros contam com o bom funcionamento da empresa para manterem seus negócios vivos, sobretudo no contexto atua", diz a nota.

Carteiro e diretor de comunicação do Sindicato dos Trabalhadores da Empresa de Correios e Telégrafos (SINTECT-PE), Roberto Alexandre, rebateu a estatal dizendo que "não queremos acabar com a imagem dos Correios, nós queremos que a empresa seja pública e de qualidade".  Ele ainda denunciou que existem "agências onde o gestor não tem nem cadeira para sentar. Fardamento, nós não ganhamos há anos. Tem lugar que a iluminação é precária. Não queremos manchar a imagem da empresa, são os diretores que estão colocando a imagem dos Correios para baixo", disse.

Ao falar das condições de trabalho, Roberto lembrou de um incêndio de pequenas proporções que atingiu a agência dos Correios localizada na Avenida João de Barros, bairro da Encruzilhada, Zona Norte do Recife. Sobre o período da pandemia do novo coronavírus, o carteiro informou que "a empresa não valoriza o trabalhador, desde o início a pandemia, os Correios só ofereceu quatro máscaras aos carteiros e, porque os sindicatos entraram na justiça, se não, não teriam entregue nem as máscaras", finalizou.

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A audiência será online, transmitida no YouTube do TST e mediada pela ministra Kátia Arruda. Enquanto os trabalhadores afirmam que não retornarão antes do julgamento, a empresa enfatiza que "aguarda o retorno dos trabalhadores, cientes da sua responsabilidade para com a sociedade". 

Manifestação no Recife

No dia do julgamento, 21 de setembro, o sindicato organizou uma assembleia-geral nos correios do Bongi, no bairro do Prado, na Zona Oeste do Recife. A reunião deve começar às 10h e vai até o horário do julgamento, que deve iniciar às 14h. O Sintect informou ainda que caso o resultado do julgamento não seja favorável aos trabalhadores, haverá uma assembleia para decidir sobre a manutenção, ou adiamento do movimento grevista. "Se for favorável aos trabalhadores, nós voltamos aos trabalhos. Os trabalhadores querem voltar ao trabalho e querem negociar, a empresa que não aceita", concluiu.

Entenda a greve

Em outubro 2019, o TST definiu as normas coletivas para reger as relações entre os Correios e os empregados que valeria até 31 de julho 2021. O acordo coletivo tinha 79 cláusulas que proporcionavam aos empregados benefícios como 30% do adicional de risco, vale-alimentação, licença-maternidade de 180 dias, auxílio-creche, indenização por morte e auxílio para filhos com necessidades especiais, além de pagamentos como adicional noturno e horas extras.

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No entanto, em agosto deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu a cláusula que estendia o acordo até 2021 de forma definitiva, a pedido da estatal. Com a decisão, o acordo passou a ter validade de apenas um ano, prazo que expirou em agosto, o que fez com que os trabalhadores dos Correios deflagrassem greve e o dissídio voltasse ao TST.

No dissídio coletivo, ajuizado em 25 de agosto, a ECT pedia a declaração da abusividade da greve, iniciada em 17 do mesmo mês. Como a empresa não aceitou a proposta formulada pelo vice-presidente do TST, ministro Vieira de Mello Filho, o processo foi distribuído à ministra Kátia Arruda. No dia 27 do mes passado a relatora deferiu liminar para determinar a manutenção do contingente mínimo de 70% em cada unidade, uma vez que a atividade exercida pelos Correios é considerada essencial para atendimento da sociedade. A decisão também proibiu descontos dos dias de paralisação do salário dos empregados.

Nota dos Correios

"Correios aguarda decisão da justiça para retomar sua qualidade operacional

Desde o mês de julho, os Correios vêm tentando negociar os termos do Acordo Coletivo de Trabalho 2020/2021, em um esforço para fortalecer as finanças da empresa e preservar sua sustentabilidade.

Enquanto os sindicatos insistem em manter uma proposta imprudente, tendo em vista a crise atual, a empresa entende que não há margem para medidas incompatíveis com a situação econômica atual e vislumbra uma economia da ordem de R$ 800 milhões ao ano, apenas com o racionamento dos gastos com pessoal: o suficiente para recuperar, em três anos, o prejuízo de R$ 2,4 bilhões acumulados em gestões passadas.

É imprescindível que acordos dessa natureza reflitam o contexto em que são produzidos e, de forma alguma, contribuam para o acúmulo de prejuízos ou falência. As paralisações regulares e inconsequentes, além de afetarem a imagem da instituição e de seus empregados perante a sociedade, trazem prejuízos financeiros não só à própria estatal: grandes e pequenos empreendedores brasileiros contam com o bom funcionamento da empresa para manterem seus negócios vivos, sobretudo no contexto atual.

Em um cenário no qual o desemprego cresce aceleradamente e as incertezas impostas pela crise não apontam qualquer perspectiva, é um feito hercúleo manter uma empresa de porte nacional funcionando sem sacrificar, sobretudo, os empregos de seus trabalhadores. Os Correios têm promovido o saneamento de suas finanças com a transparência de sempre, com foco nas melhores práticas de administração e governança do Brasil e do mundo, consonante com determinações do Ministério da Economia.

Ao mesmo tempo, a empresa luta para atravessar uma crise mundial sem precedentes e busca oportunidades de alavancar seu negócio em um dos poucos segmentos com capacidade de crescimento: o e-commerce. Para isso, os Correios seguem trabalhando a despeito de paralisações: durante fins de semana e feriados, os empregados têm unido forças para garantir a entrega de milhões de objetos.

A transformação da cultura de consumo global aponta para uma urgente necessidade de adaptação e inovação, o que requer dinheiro em caixa. Para que a empresa permaneça firme no caminho da recuperação econômica, os erros das gestões passadas exigem, hoje, medidas racionais: apenas investimentos inteligentes viabilizarão o posicionamento dos Correios como a melhor opção do mercado, prontos para competir em pé de igualdade com outros gigantes logísticos e, assim, garantir sua sustentabilidade.

A empresa aguarda o julgamento do dissídio marcado para o próximo dia 21/9 e, com ele, o retorno dos trabalhadores, cientes da sua responsabilidade para com a sociedade e da sua importância para a prestação de serviços essenciais à população, em um momento tão delicado para o país e o mundo."


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