pólo de confecções do agreste

Com muita demanda e sem matéria-prima, está faltando "pano pra manga" na Sulanca; entenda o impasse

Após meses paradas na pandemia, indústrias de tecidos do Estado não conseguem suprir a demanda do mercado, que está em alta

Adriana Guarda
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Adriana Guarda
Publicado em 18/10/2020 às 2:00
EDMAR MELO / ACERVO JC IMAGEM
O evento será no Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães, conhecido como Geraldão, na Imbiribeira, Zona Sul do Recife - FOTO: EDMAR MELO / ACERVO JC IMAGEM
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Nas cidades que integram o Polo de Confecções de Pernambuco, as filas nas lojas de tecidos e aviamentos viraram rotina. Vídeos que viralizaram nas redes sociais mostram pessoas disputando peças de tecido, zíperes e linhas, literalmente, à tapa. A situação é um retrato da escassez de matéria-prima na região. Às vésperas das vendas de fim de ano, a "pós-pandemia" evidenciou a dificuldade de "religar" a economia, após meses de paralisação.

A indústria têxtil não está conseguindo atender as confecções com a velocidade que elas precisam, os fabricantes atrasam as encomendas aos varejistas e os produtos demoram mais a chegar nas araras. O descompasso entre oferta e demanda se reflete nos preços, que já subiram.

Com expertise de 24 anos no mercado de confecções, o empresário da Rota do Mar, Arnaldo Xavier, conta que a reabertura da economia superou as expectativas. "A retomada começou em julho e tivemos o melhor agosto de toda a história da empresa. Fiquei surpreso, porque esperava que a retomada seria lenta. Outros setores pensaram da mesma forma e ainda estavam avaliando se mantinham a suspensão de contratos quando explodiu a demanda", destaca.

A Rota do Mar mantém sete lojas no Polo de Confecções e precisa produzir para abastecer sua rede de varejo. Por conta da falta de tecidos e aviamentos, a empresa está perdendo contratos. Hoje a produção da marca gira em torno de 150 mil peças por mês, mas se não fosse a falta de matéria-prima e mão de obra poderia estar fabricando 250 mil peças por mês.

As maiores empresas do Polo compram direto das indústrias têxteis, que estão localizadas, principalmente, no Sul e no Sudeste. O Estado de Santa Catarina, por exemplo, concentra o maior número de malharias do País. Os tipos mais difíceis de encontrar no mercado, neste momento, são os tecidos com fios de algodão. Apesar de a safra ter sido boa este ano, o beneficiamento do algodão ainda está sendo realizado e o dólar valorizado está estimulando a exportação.

O comportamento do algodão e a demanda maior do que a oferta também afetaram os preços. "Continuo comprando aos meus fornecedores há mais de 20 anos, mas os preços estão 20% mais caros do que antes da pandemia e, dependendo do produto, a alta chega até 30%", afirma Xavier. O mesmo acontece com os atacadistas, que compram tecido para vender às pequenas confecções das cidades do Polo.

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RETOMADA Sulanca registrou 70% da capacidade ontem. Expectativa é reverter perdas ainda no 2º semestre - DIVULGAÇÃO
WESLEY SANTOS/TV JORNAL CARUARU
RETORNO Bons números permitem avanço no plano de convivência - WESLEY SANTOS/TV JORNAL CARUARU

ABIT

O Brasil se posiciona como o quinto maior produtor têxtil do mundo, transformando 2 milhões de toneladas de materiais por ano. No ano passado, o faturamento da atividade alcançou R$ 175 bilhões.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, reconhece que está faltando produto no mercado e atribui o problema à dificuldade trazida pela pandemia em paralisar as atividades e voltar com uma demanda inesperada.

"Antes da pandemia não havia desabastecimento porque o setor estava preparado para fornecer, mas ninguém esperava que a retomada fosse tão boa. Não se pode esperar de uma indústria que ficou 90-100 dias parada o religamento imediato, como se fosse um interruptor que se liga e desliga", pondera Pimentel.

O executivo afirma que a indústria têxtil também vêm sofrendo os impactos da pós-pandemia com desabastecimento de alguns insumos e aumento nos preços. Segundo a Abit, o setor tem mais de 70% dos custos atrelados a moedas estrangeiras.

Insumos diretos, como fibras naturais, sintéticas e artificiais, corantes, anilinas, e também indiretos, como embalagem, produzidos no País ou importados, têm preços baseados no mercado mundial e na cotação das principais moedas internacionais. Com a desvalorização do real, o reflexo nos custos dos fios, tecidos e malhas é imediato.

"Estamos tratando de um problema conjuntural e não estrutural, por isso acreditamos que o reequilíbrio entre oferta e demanda vai acontecer. Nossa expectativa é que o retorno à normalidade se dê no primeiro trimestre de 2021", aposta Pimentel.

Apesar do crescimento rápido e inesperado depois do isolamento social, a Abit acredita que o setor vai fechar o ano com resultado negativo em 17%.

Empresário e coordenador da Associação Comercial e Empresarial de Caruaru (Acic), Wamberto Barbosa observa que a pandemia evidenciou a falta de elos na cadeia de confecção do Polo. "Os têxteis no Estado estão muito aquém da produção dos confeccionados. Esse é um problema do nosso APL, porque dependemos da produção nacional e de fora do Brasil. Agora, com o delay do setor têxtil para retomar a produção, as confecções vão perder parte da demanda", diz. 

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