Quando a economia reabriu, depois do fechamento de vários negócios durante a pandemia da covid-19, a Dona Chica estava com um estoque represado de 900 sandálias de couro e sem recursos para participar das feiras de artesanato. Os microempreendedores Rita de Cássia Rolim, 46 anos, e Cláudio Xavier, 48, já tinham usado os limites do cheque especial e do cartão de crédito para sobreviver durante o período de seis meses que a Dona Chica permaneceu fechada. Foi quando uma amiga perguntou se o casal conhecia o Crédito Popular e eles foram se informar sobre o produto da Agência de Empreendedorismo de Pernambuco (AGE).
Desde outubro de 2019 a AGE oferece o crédito popular com proposta de atender os microempreendedores de forma fácil e rápida. Em dezembro de 2020, o governador Paulo Câmara anunciou uma atualização do programa, com aumento do valor concedido, redução da taxa de juros e aumento da carência para pagar. "Essa foi uma proposta de campanha e teve muita aderência. Pesquisas contínuas com os beneficiados sugeriram algumas melhoras. O Crédito Popular é um instrumento importante num momento em que o desemprego aumentou por conta da pandemia e enquanto não se tem o auxílio emergencial", defende o porta-voz da AGE, Márcio Stefanni.
Quando foi formatado, o Crédito Popular tinha valor limite de R$ 3 mil, taxa de juros de 1,49% ao mês e carência de 90 dias para pagar. Com a mudança, o valor subiu para R$ 4 mil, a taxa de juros caiu para 0,99% ao mês e a carência passou para 120 dias. Os empreendedores que estavam inadimplentes por conta da crise provocada pelo novo coronavírus também puderam renegociar as dívidas e conseguir mais prazo para pagar. Hoje o tempo de parcelamento do programa é de 12 meses.
"Foi o crédito popular que nos permitiu participar da Feira das Nações, no RioMar, e da Fenahall. Se não fosse esse recurso teríamos ficado com 900 pares de sandália sem ter como vender. Com a participação nas feiras vamos nos capitalizando para participar de outras", explica Rita de Cássia. Ela conta que conseguiu contratar R$ 2,6 mil parcelado em dez meses. "A liberação do crédito foi bem rápida. Um agente de crédito visitou a nossa casa onde ficam os produtos, na Imbiribeira, e explicamos como funciona o nosso negócio, por meio da participação em feiras e com comercialização pelas redes sociais (@donachica)", complementa.
No final de 2020, a AGE fez um balanço do Crédito Popular mostrando que foram realizadas 8 mil operações, com R$ 18 milhões emprestados. A meta do governo é alcançar 40 mil operações até o final da gestão Paulo Câmara. Pelo levantamento da Agência, 63% das empreendedoras são mulheres e 33% homens, 78% dos negócios são da área de comércio e 22% de serviços, e 63% dos beneficiados têm entre 24 e 45 anos. A região mais empreendedora do Estado também é a que mais acessa o crédito. O Agreste captou 42%, seguida pela Região Metropolitana do Recife (26%), Sertão (18%) e Zona da Mata (14%).
Para ter acesso ao Crédito Popular é preciso entrar no site da AGE (www.age.pe.gov.br) e preencher um pré-cadastro, respondendo a algumas perguntas. Dúvidas também podem ser esclarecidas pelo telefone 0800 081 8081. Stefanni conta que as mudanças no Crédito Popular já surtiram resultado e que janeiro está sendo um excelente mês.
SONHOS
Pai e filho, Marcos Alberto, 49 anos e Eliú Damasceno, 23, também buscaram o crédito popular para alavancar o Atelier Mogno. Especializado em artesanato a partir de recicláveis, o negócio estava sem recursos para participar da Fenearte. Nosso desejo era participar da feira, em 2020, mas precisávamos de dinheiro para estar lá. Foi quando assistimos uma palestra no Cais do Sertão sobre o Crédito Popular e ficamos interessados. Procuramos a AGE e conseguimos pegar R$ 2,5 mil. Infelizmente a Fenearte não foi realizada no ano passado por conta da pandemia, mas usamos o recurso para comprar materiais e continuar o negócio", conta Damasceno.
O artesanato é um talento de família. A história começou com a avó de Eliú, Dona Maria da Conceição que resolveu participar de um curso de arte com jornal e descobriu que tinha talento. Depois passou para o tio Salomão e depois para o pai do rapaz. Uma tragédia fez com que Marcos Alberto abandonasse o artesanato em 2004: a morte do irmão em um acidente de carro. Foi pelas mãos do filho Eliú que voltou a transformar jornal em arte, ajudando o estudante que na época estava com 16 anos a fazer um porta-copos, em 2014. Dois anos depois, criaram uma microempresa e hoje tocam o negócio juntos, fazendo peças utilitárias e decorativas a partir de reciclados. O espaço funciona em Pontezinha, no Cabo de Santo Agostinho.
"Nosso sonho agora é ampliar o espaço para além de fazer as peças também realizar oficinas de artesanato. Fechamos contato com a empresa M.Dias Branco para fazer umas oficinas para eles e pensamos em fazer no Atelier Mogno também. Para isso vamos precisar de outro empréstimo, mas dessa vez de R$ 30 mil", adianta.
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